Era uma vez, há muito tempo… Ops!
Parece até que inicia aqui uma história de contos de fada ou algo assim. Na verdade, eu só queria mesmo dizer que alguns anos atrás, o comum era não dividir muito o que se pensava ou sentia.
Os mais antigos – normalmente esses, mas nada impede que também escutemos dos mais novos – propagam e normalizam frases do tipo “homem não chora”, “cala-te que já não tens idade para choramingo” ou “criança não tem direito de opinião e o adulto tem sempre razão”.
Essas e outras que refletem diretamente na criação de um indivíduo e seguem ainda hoje essa linha de pensamento e educação. Afinal, foi o que aprenderam! Desconstruir isso não é nada fácil. Também é preciso que queiram e nem sempre sequer tem a consciência do erro nos atos. Ao menos, podemos afirmar que dos tempos passados até agora, mesmo que pequena, mudanças para melhor, houveram. Inclusive virou moda ir às redes para os sentimentos e emoções, partilhar. Até onde isso é mesmo genuíno, já não sei afirmar.
Não é julgamento. É afirmação. Cada um educa como quer e sabe, mas parece bastante óbvio que “engolir” choro e emoção só adia um problema, com fácil solução. O que preso está, algum dia é preciso se libertar. Seja através de palavras, comportamento ou atitudes, em algum momento, há de sair. É preciso entender o mal que faz em esconder o que sentimos, na grande parte das vezes. Dividir, na maioria das situações, pode tornar o fardo mais leve e o que parecia pesado, torna-se suave.
Por vezes, acabamos por nos anular para suprir a necessidade do outro, para agradar ou simplesmente não se expor. Mas esquecemos de nos questionar: “Quem eu realmente sou?”
Pôr máscaras para literalmente mascarar o que sentimos, nos afasta no nosso verdadeiro eu e se torna tudo uma grande peça de teatro. A vida. A nossa vida. É um risco que não traz bons resultados. Por vezes, o melhor a se fazer pode ser, também, se calar.
É controverso, eu sei!
Diante de tanta incerteza de quem vai-nos ouvir, nem sempre o compartilhamento pode servir. É preciso analisar para quem vai se abrir. É preciso sintonia e confiança. Afinal, não é à toa que dizem que “a inveja tem sono leve”. Em bom português, “não grite por aí sua felicidade” – nem sua tristeza. Saiba com quem e onde fazer.
Emoções guardadas sufocam. Tentar manter a aparência, disfarçar sentimentos e anular o que se sente, faz mesmo mal a toda a gente, seja adulto, criança, velhinho ou adolescente.
Por vezes, ainda hoje mais em evidência, lemos ou ouvimos sobre a importância da nossa saúde mental. Começa de cedo. Nas crianças e adolescentes não é incomum percebemos a instabilidade emocional que neles se instala e o motivo de descontrole é diverso, nos trazendo confusão aonde isso pode levar. Psicólogos e profissionais da saúde existem para que possam atuar e auxiliar, isso se os responsáveis pela educação, ajuda forem buscar.
Alguns ainda diminuem a situação, rotulam como drama, sensibilidade excessiva (porque não?) ou ignoram simplesmente e com isso fazem crescer algo que poderia ser ouvido, dividido, ajudado desde os primeiros sinais. Mas e lá atrás, será que esse adulto também foi ouvido? Não é sem sentido que algumas vezes escutamos que “todos devíamos fazer terapia”…
E se calhar, sim. Devíamos. Se calhar, o pré-conceito atrapalha. Há aqueles que estupidamente associam a terapia à loucura (sim, já ouvi e você, provavelmente também, por aí a dizerem: não sou louco para ir ao psicólogo) e assim vão crescendo os rótulos, afastando de soluções e aumentando a dificuldade de terem os tais dos problemas emocionais orientados.
Talvez o segredo – se esse existe – é que possamos, se adultos e conscientes, entender quando é importante conversar, seja com quem for, desde que haja confiança. Ou partilhar os problemas e as conquistas. O bom e o mal. Ensinar isso a criança é fundamental. Olhar também para os menores e poder orientá-los. Seja pais, avós, tios, amigos, educadores ou professores. E por fim, saber o equilíbrio do que devemos expor e o que devemos proteger. Um desafio, talvez!
Saúde mental está, como tudo, interligada com energia. E essa, tem que ser mesmo vedada. Cuidada. Protegida.
O que realmente importa é quem e como você é. Quem você tem e com que podes contar. Boa sorte nessa balança e se não conseguir equilibrar esses pratos, não se acanhe em pedir ajuda, seja ao amigo ou ao profissional. O ser humano por si só, já é difícil de decifrar e conseguir perceber com quem e quando você pode se mostrar, de verdade, sem julgamentos e conselhos vazios, é uma árdua tarefa.
Se tens esse alguém, agarre bem! É raro, mas tem.
Nota: Esse texto foi escrito seguindo as regras de português do Brasil.
Excelente texto , tanto em reflexão quanto em escrita.