+1 202 555 0180

Have a question, comment, or concern? Our dedicated team of experts is ready to hear and assist you. Reach us through our social media, phone, or live chat.

No meu tempo…

No meu tempo…

Sinto sempre alguma nostalgia, quando ouço esta frase, faz-me viajar para um passado não muito longínquo, que me traz tão boas memórias. No meu tempo, brincávamos na rua até tarde e bastava um grito das nossas mães para voltarmos para casa sem discussão, sem fincar o pé, sem desrespeito.

No meu tempo, comíamos batatas fritas da Matutano, Bollycaos e Galaks e isso era sinónimo de felicidade, nada mais, nada menos.

No meu tempo havia sempre um “Bolinha”, um “Texugo”, um “Rato” ou um “Piolho” na turma e ninguém se ofendia com isso. Aceitava-se, com um misto de orgulho e vergonha, a alcunha que tinha sido atribuída e seguíamos em frente.

No meu tempo, íamos a pé para a escola, encontrávamos o resto da turma pelo caminho e contávamos o que tinha acontecido no dia anterior.

O novo ano lectivo iniciou-se há uns dias e à semelhança dos anos anteriores era ver os estacionamentos das escolas cheios à pinha com os pais a lá deixar os filhos. A banalidade de ter transporte próprio, que não era tão comum anteriormente, tornou este processo corriqueiro, já que ninguém imagina o seu filho ou filha a ir a pé seja para onde for. Contudo, terá sido só a banalidade da coisa a contribuir para esta mudança?

Julgo que o contributo maioritário, infelizmente, terá sido o medo.

Ousarei dizer que os meus pais não tiveram medo por mim, quando me deixaram ir a pé para a escola, sozinha, quer fizesse chuva ou sol? Não, claro que não! Como qualquer pai certamente temiam por mim, mas a verdade é que a sociedade da minha altura, ainda que já a caminhar para a pobreza de gentes, era melhor. Ou, pelo menos, era menos exposta, que é como quem diz: “olhos que não vêm, coração que não sente.”

Havia raptos, roubos, violações e todas aquelas cenas horripilantes que fazem o coração de uma mãe ter pequenas arritmias só por pronunciá-las, mas o mundo dessa altura não tinha um Facebook Live que nos permite visualizar uma qualquer desgraça a ocorrer, até, do outro lado do mundo, em directo ou um canal de informação 24 sobre 24 horas em que para ouvirmos uma notícia feliz, ouvimos antes 30 infelizes, transformando o nosso cérebro neste lugar sombrio, escuro e perigoso, onde, maioritariamente, são registadas emoções negativas e inconscientemente ligadas aos nossos filhos.

O mundo evoluiu, é um facto, e essa evolução, ainda que com muitos pontos positivos, permitiu-nos também este acesso desmesurado à informação, que nos fez ter medo. Medo por nós, pelos nossos filhos, medo do mundo. E ainda que tenhamos a coragem de colocar crianças neste planeta, a forma como as queremos educar roça sempre bem ao de leve a educação efectivamente dada.

Nenhum pai quer, objetiva e propositadamente, que o seu filho não se saiba defender, que não saiba qual o número do autocarro para casa ou como utilizar o PBX da escola, que se intimide, porque foi chamado de menino do papá, ou que chore, porque se perdeu e não sabe pedir indicações,  mas quais serão as consequências da super-protecção dada a estas crianças em que todo e qualquer progenitor não faz mais, porque não pode, senão estas?

Todos queremos o melhor para os nossos filhos, dúvidas houvessem relativamente a esse assunto, e, por isso mesmo acabamos por criar uma geração de alienados da realidade e do mundo, porque, no fundo, optamos por educá-los super-protegidos, mas com a certeza, porém, que enquanto eles não trocam os passos pelas asas, controlamos o seu caminho.

Share this article
Shareable URL
Prev Post

Gratidão

Next Post

As novas fronteiras – Missão a Júpiter

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.

Read next

Luísa de Jesus

Todas as mulheres possuem instinto maternal e sabem ouvir o seu relógio biológico. Esta é uma frase que é solta…