Partilhar é um verbo bem antigo, cujo significado é dividir algo com alguém.
Por defeito, é um verbo muito associado à solidariedade e aos sentimentos mais nobres do ser humano. Partilhar um bocado de pão, partilhar um bom momento com um amigo, partilhar a vida com alguém, será sempre uma ação positiva e algo que nos confere um sentimento altruísta e humano, na sua maior vertente que é o amor.
O certo é que, nos dias de hoje, com as novas tecnologias e a possibilidade de ter o mundo na ponta dos dedos, tudo ganhou uma dimensão diferente e os conceitos de determinadas palavras acabaram por se diluir ou mesmo transformar numa nova realidade. Numa realidade muito mais virtual e muito menos humana.
Com a chegada das redes sociais ao nosso quotidiano, o conceito de partilha, à semelhança do conceito de amizade, perdeu a sua vertente mais humanizada e o seu próprio valor moral/ético.
Da mesma maneira que uma amizade virtual nada tem a ver com a real, de carne e osso, também o significado de partilha foi reduzida a um significado de tornar público ou difundir determinada foto e/ou texto com todos aqueles que coabitam no mesmo espaço cibernético.
Partilhar perdeu a sua componente de oferecer parte de algo a alguém, para ganhar uma de exibição e projeção de ideias que até podem não corresponder à realidade. Partilha-se tudo, sem dar nada a ninguém.
É certo que o português não é uma língua morta, mesmo tendo sido desvirtuada pelo Acordo Ortográfico, no entanto, a mudança significativa de conceitos começa agora a tornar dúbias determinadas palavras.
O outro exemplo é a palavra amizade que perdeu a sua força com a generalização e banalização do conceito fazendo com que um simples click traga um novo amigo, que mais não é do que outro alguém com quem poderemos nem ter a mais leve afinidade, ou nem sequer conhecer.
Amigo passou a ser alguém sem rosto, com quem não fazemos nada mais do que partilhar momentos da nossa vida em fotos e ideias.
Passámos a utilizar palavras tão especiais e de tanto valor, com uma enorme leviandade, retirando-lhes toda a sua dimensão.
Chamar-se-á também a isto a Globalização?