Falling: Um Homem Só (2020) – Crítica

I’m sorry I brought you into this world; so you could die.

– Willis

Este filme conta a história de Willis, um homem idoso e conservador que começa a sofrer demência e que vai passar uns dias com o seu filho homossexual na Califórnia.

Adorei este filme, Viggo Mortensen sempre foi um ator que admirei imenso e que mesmo com alguns prémios durante a sua carreira, senti que nunca teve o reconhecimento merecido. Aqui Viggo estreia-se como realizador, escritor e produtor do filme que ele próprio protagoniza. Este tipo de projetos distinguem-se de outros por serem muito focados e com visões muito coerentes, que é no fundo a maior vantagem de ter a mesma pessoa a escrever o guião, dirigir os atores, produzir o filme e a protagonizá-lo em simultâneo à semelhança do que Ben Affleck fez dez anos antes no filme “The Town”.

A história é contada em duas linhas temporais, mas acontece tudo de forma muito coesa e percetível. Viggo adota aqui uma visão única no tema da demência, já que, por norma em filmes sobre este tópico (“Still Alice”, “The Father”), a pessoa que parece confusa é quem está a sofrer da doença. Aqui Viggo tem a perspetiva oposta, em que a pessoa com demência é a que está mais segura de si e os outros à sua volta é que parecem confusos. O que na minha opinião é mais fiel à realidade.

A interpretação é fantástica com Lance Henriksen a entregar um dos seus melhores papéis como a personagem principal. Viggo Mortensen faz aquilo que sabe melhor, mantendo-se “pequeno” mas com uma enorme capacidade de encher o ecrã com a sua subtileza. A cinematografia e a banda sonora são dois aspetos que também realço. Um ótimo filme sobre um tema cada vez mais importante e uma estreia triunfante para Viggo Mortensen, que prova ser com este filme, um artista completo na arte do cinema.

* CUIDADO COM SPOILERS *

Falando agora mais abertamente da história, acompanhamos Willis (Lance Henriksen), um homem que deixou que cada percalço da sua vida o deixasse mais frio e com um feitio difícil de tolerar, e tudo isto mistura-se agora com a demência que este começa a experienciar.

Todas as pessoas à sua volta, com especial atenção para John (Viggo Mortensen) são compreensivas ao seu estado e fazem um esforço para não o contrariar, o que chega a ser enervante e impossível em algumas alturas, é aqui que a representação brilha mais, com as explosões em certas discussões de todos os atores envolvidos. Adorei as duas linhas temporais criadas, conseguimos ver quando Willis era genuinamente feliz e como começou a criar um temperamento único e que afastou as pessoas que mais gostavam dele. O filme toma o seu tempo, mas não é lento, acho que a duração está perfeita para a histórica que quer contar. Outro aspeto que quero salientar é a forma como a nudez é usada de forma muito pontual e certeira neste filme , a nudez é um tema que em muitos filmes é visto como “gratuita”, no sentido de não acrescentar nada à história e ser apenas um mecanismo para chamar a atenção. Aqui não, é muito reduzida mas quando acontece tem um efeito único na história. O final do filme é previsível mas ainda assim belo na sua execução. Uma belíssima história com uma belíssima execução.

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