Custódia Parental

Estas duas palavras juntas podem ser assustadoras por envolverem menores e nem sempre os progenitores pensarem no bem-estar dos filhos, mas, sim, na pequena ou grande guerra que se desenrola entre eles. Os mais jovens serão sempre os aríetes, aqueles que são jogados às feras e que, muitas das vezes, não são tidos nem achados.

Numa destas noites de insónia, liguei a televisão e vi um filme com este título. Os tempos que se vivem são de pessoas desavindas e chamou-me à atenção o facto de ser um simples nome sem nada que lhe desse mais relevo. Como se entende a acção centra-se num casal que está separado, em processo de divórcio e que tem dois filhos.

A juíza começa por ler o depoimento do filho, de apenas 11 anos, que demonstra a intenção de não querer estar com o pai, chegando mesmo a ser duro nas suas palavras. Depois é o espadachim entre as advogadas de cada lado e a decisão final que garante a guarda partilhada.

No início pode cometer-se o comum erro de se ser tendencioso e pensar que o filho está a mentir para defender a mãe. Esta, pessoa sofrida, teve que deixar tudo, incluindo o seu emprego, para recomeçar a vida numa outra cidade onde moram os seus pais. No entanto foi um trabalho inglório pois o marido não a deixa respirar e pede transferência para estar próximo do filho.

Curioso é o desprezo que o pai demonstra pela fila. Quase nem a menciona. Tem perto de 18 anos, mas é o seu pai e ela refere-se a ele como o outro. Esta forma desperta-nos algo, pensamos que está a ser injusta e que o ataque ao pai é gratuito. Por isso se continua a ver com intensidade.

Julien, o filho mente ao pai deliberadamente e este sente que está a ser enganado. Contudo a seu íntimo vai ser mostrado no seu pior. As mentiras do rapaz tinham uma razão de ser e rapidamente se entende o clima de horror em que a criança vivia mais a sua mãe. A irmã, talvez por ter outra idade, ia-se libertando desse cenário.

No final o que parecia afinal não era. A vizinha bisbilhoteira vai salvar a vida à mãe e ao filho, chamando a polícia, pois são perseguidos pelo pai, de caçadeira em riste. Dispara contra a porta até que a abre. Durante todo o processo a tensão psicológica é imensa e entende-se que a mentira foi a arma mais suave usada para afastar um pai possessivo e manipulador da mãe que, na verdade, odiava.

O que podia parecer uma instrumentalização, uma alienação parental, é afinal uma verdade insofismável, o lugar comum onde os mais fracos são sempre os lesados com cicatrizes à vista que dificilmente possam fechar. São salvos, mas as marcas ficarão para toda a vida.

Interrogo-me como é possível que adultos se comportem deste modo tão básico, tão miseravelmente selvagem, como se lutassem pela posse do território e não pelo amor dos filhos. Se amor pode ser a palavra mote para estas atitudes, então a violência deixou de o ser. O amor, tão falado e tão malsentido, não pode ser um sentimento belo e altruísta que quebre o bom senso e muito menos uma ligação.

Ser adulto implica dores fortes que são contínuas e incomodativas. O que possa ter unido os pais não se pode perder com os filhos que, devem ser sempre bem cuidados. Estes são pequenas flores que precisam de terreno fértil para crescerem saudáveis e fortes. Os ventos devem ser de protecção e não de derrube.

Ser pai ou mãe de fim-de-semana não é uma missão, mas sim uma espécie de part-time que vai sendo repartido. Educar, tarefa árdua e constante, é para a vida e nunca está completo. Ninguém é perfeito e erros todos cometem, mas um filho é sempre alguém que não pediu para existir e por isso merece respeito, cuidado e amor. Sobretudo muito amor e compreensão.

Um bebé tem o terrível hábito de crescer e de querer ter uma vida sua, pensar com a sua cabeça e fazer escolhas, sejam elas certas ou erradas. Os pais, esses pilares que devem ser firmes e resistentes, estão lá para amparar as quedas, para lhes dizer não, para dar o abraço e para festejar todas as suas vitórias.

A vida tem imensas ratoeiras e são precisos mil cuidados para que não se seja apanhado desprevenido. Custódia parental pode ser uma metáfora de tudo, onde as escolhas se apresentem como enormes desafios, as responsabilidades uma enorme tormenta e o futuro, esse malandro desafiador, uma incógnita tão grande que provoca tonturas e uns vómitos difíceis de explicar.

Viver é sempre um risco e quem não arrisca… não petisca.

Share this article
Shareable URL
Prev Post

Maravilhas da Costa Alentejana: Percurso do Sardão

Next Post

Vamos falar sobre luto

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

This site uses Akismet to reduce spam. Learn how your comment data is processed.

Read next

Os fumos do incêndio

Será que é desta que os nossos governantes percebem que Portugal é um país pequeno, mas apresenta algumas…