Autonomia significa aptidão ou competência para gerir a sua própria vida, valendo-se das duas próprias vontades, princípios ou meios. Todos queremos ser autónomos, mas, curiosamente, não temos a mesma vontade de dar autonomia aos outros, principalmente àqueles que amamos. Não é defeito, é feitio, faz parte da nossa essência acharmos que os que nos rodeiam não conseguem ser autónomos e precisam sempre de nós, em vários níveis.
Quando amamos queremos proteger as pessoas por quem nutrimos esse sentimento. E, nas nossas cabeças, proteger passa por as ajudar a fazer tudo e mais alguma coisa, para que não errem e, consequentemente, não se desiludam. Temos o vício – diria eu – de ter tudo sob o nosso controlo. Somos seres controladores – é um facto – e dessa necessidade de controlar tudo vem esse hábito de tirar aos outros a autonomia que eles querem ter.
Custa-nos acreditar que os outros consigam fazer as coisas como nós fazemos. Podem fazê-las bem, mas nunca as farão como nós, o que se prende com o facto de sermos todos diferentes. As nossas mentes não processam essas diferenças na sua plenitude e insistem em dizer-nos que devíamos ser nós a fazer aquilo e não o outro. Isso vê-se muito bem entre colegas de trabalho – sabemos que o nosso colega consegue desempenhar aquela tarefa, mas a consciência de que nós a desempenhamos da forma que queremos que seja desempenhada faz-nos ter vontade de sermos nós a resolver o assunto, retirando à outra pessoa a oportunidade de demonstrar as suas competências e de fazer o seu trabalho.
Tudo tem de ser feito à nossa maneira, nas mais variadas áreas. Queremos que seja tudo perfeito e só pode ser perfeito se for feito por nós – mesmo que tenhamos a noção de que também falhamos. A falta de autonomia está, assim, relacionada com o perfeccionismo. Somos perfeccionistas e, por isso, retiramos aos outros a sua autonomia, para podermos fazer as coisas à nossa maneira.
Esta dificuldade que temos em dar aos outros a autonomia que merecem ter não me parece ser um defeito. É certo que todos merecemos ser autónomos e sentir que os outros confiam em nós, nas nossas capacidades e no nosso trabalho. Contudo, se virmos bem as coisas, esta situação advém de uma grande crença nas nossas próprias capacidades, que nos faz acreditar que conseguimos fazer determinada coisa bem-feita. No fundo, não estamos a desvalorizar o outro, mas a valorizar-nos a nós mesmos – e o que pode haver de mau nisso?
Obrigada pelo seu texto. Tem tudo a ver com minhas ideias e que, algumas vezes, posto sobre no linkedin. Vou tomar a liberdade de copiar sua imagem e citar seu texto em um post que farei no linkedin. Caso não concorde, não há problemas. Não faço nem um nem o outro, ok? Obrigada por compartilhar seu conhecimento
Boa tarde Ana,
Obrigado pelo seu comentário. O meu nome é Miguel Arranhado e sou o co-autor do Repórter Sombra e também um dos seus editores. Agradeço a atenção de pedir autorização para citar o artigo da Joana. No entanto, ela já não se encontra no projeto e não lhe poderá responder. Se quiser citar, por favor, pedimos apenas que refira o nome da autora e o nome do artigo, com link para o mesmo. Basta isto e ficamos muito gratos por tal.
O meu muito obrigado, mais uma vez