Continuamos a falar pouco sobre o luto.
O luto é gerido individualmente, pode durar horas ou anos, e processa-se de modo muito diferente até nas relações mais umbilicais: 2 irmãos não sentem a morte do pai ou da mãe da mesma forma, assim como um pai e uma mãe não sentem a morte de um filho da mesma forma, e o mesmo acontece com as partes envolvidas nos outros tipos de relacionamentos.
A forma como fazemos o nosso luto depende da nossa personalidade, do estado emocional em que estamos quando ocorre a perda, da rede de apoio que temos e das expectativas que tínhamos criado para o futuro.
É uma miscelânea de sentimentos que podemos até omitir e camuflar, mas que não conseguimos evitar, podemos estagnar numa das fases durante muito tempo até conseguirmos avançar para a seguinte ou passar gradualmente por cada uma delas.
Após a perda de uma vida, de um sentimento, de um projecto ou outro bem material ou imaterial, passamos pelas fases:
- da negação, em que não se conseguimos aceitar a perda e recusamo-nos a acreditar no que aconteceu;
- da raiva, em que se procuramos os culpados; E demasiadas vezes responsabilizamo-nos a nós pelo que aconteceu;
- pela negociação, em que se reagimos procurando alternativas como se não tivesse acontecido nada;
- pela depressão, quando percebemos que nada será como dantes;
- e finalmente pela aceitação: quando deixamos de sentir amargura, angústia e negação, e reencontramos a tranquilidade e o equilíbrio emocional.
Uma forma de avaliar se já atingimos o patamar da aceitação de determinada perda é conseguirmos oralizá-la, mesmo sozinhos, mas em voz alta, sem nos emocionarmos, ou seja, sem se nos entaremelar a língua entre as palavras e sem ficar com os olhos marejados.
Atingir a fase da aceitação, não significa que esquecemos ou apagamos a dor que nos provocou o que aconteceu, mas sim, que aceitamos a nossa incapacidade de o mudar e que aceitamos que fizemos o que estava ao nosso alcance.
A partir do momento em que temos consciência da vulnerabilidade humana, percebemos que apenas a morte é certa e definitiva. E por consequência deveríamos preparar-nos desde cedo para lidar, com a naturalidade possível, com a nossa morte, com a morte dos nossos, a dos outros e a morte dos nossos projetos e sonhos. Há muitas perdas que não conseguimos prever e que nos abalroam no caminho, mas há outras que, embora não possamos antecipar nem concretizar, quando vão acontecer percebemos que são inevitáveis (a morte de alguém, o não nascimento de alguém, o fim de uma relação, o ruir de um projeto ou de uma expectativa…).
O importante seja qual for a perda é armar-nos com tudo o que temos, e vasculhar dentro de nós, demore o tempo que demorar, até encontrarmos o que nos fará prosseguir.
Só o amor que nos permitirmos sentir nos fará progredir.