A nossa vida hoje e maioritariamente passou a fazer parte da vida de todos. Não há desconhecidos, pois somos todos família. Uma familia mundial que se alegra, que se aborrece, que chora, que sofre, que se unifica e desunifica em conjunto. Esta aldeia global de redes de Wifi que nos liga tão depressa como nos desliga, já faz pa11rte do quotidiano de todos nós. Ao mesmo tempo que tantos a detestam, todos a amam. Há uma vertente virtual de amor ódio. Hoje a falha de algum tipo de esquecimento, desligamento, reside mais propriamente em: “Ai meu Deus, não tenho Wifi, o que será de mim, de nós!”. Do que propriamente a ideia de genuína preocupação real: “Onde está a minha namorada, que sem ela não sou nada!” Este terrível drama de não se conseguir encontrar um “Spot” que nos dê o norte de ligação a esta aldeia de conexões, deixa-nos nesta imensa metamorfose entre o bem e o mal. Entre a virtualidade vivida e a mortandade real de emoções díspares.
Ainda que se ligue sistemáticamente (e que se peça ao alto que nunca se vá abaixo) é o surgimento da vida plena com o carimbo do sopro da morte. Andamos todos em busca de pedaços de todos e de metades que supomos fazer o puzzle perfeito dessas nossas necessidades. Dessas partes de definições, de suposições, de tremendas ilusões e tantas outras questões, que muitas vezes, não passam de meros chavões. De telemóvel na mão, portátil em casa, trabalho ou esplanada, ansiamos, deduzimos, desejamos ter para nós pedaços de histórias que definam também as nossas vitórias. Que se construa o puzzle perfeito. Desejamos e procuramos informação que nos permita ter alguma forma de acção, seja ou não com cabeça ou sem nenhuma razão, porque o que conta é a emoção!
Procuramos metades para alimentar estas nossas vontades. Metades de nada e metades de tudo. Que possibilidade imensa esta, de folhear virtualmente amigos e desconhecidos. Encontrar possíveis amores, vislumbrar desgostos e esquecer lembranças e voltar a novas andanças.
Procuramos, informação, realizações, amores, amantes e futuras uniões. Procuramos, amantes, amigos, desconhecidos que possam adornar por momentos, tristezas e dramas. Procuramos fusões, agendamos dias, perdemos semanas e vivemos intensamente esses dramas que são feitos de tramas. A verdade é, que a minha família é a tua família. O meu álbum que carrego e preencho com todas as fotos é tanto meu como teu, é nosso, é vosso. O meu amor é o teu amor e a dor que se carrega faz parte desse amor que se entrega. A tua foto é minha foto. A tua viagem a minha viagem e isto é a nossa jornada. O teu vazio o meu lamento. As tuas lágrimas as minhas palavras. O meu som, a vossa melodia.
O meu sorriso é a força da tua existência, o teu desdém consagra a minha inexistência. De uma ponta a outra do globo entendemos ser definidos como os eternos escolhidos. Os entendedores da razão, os fazedores de emoções. Os anarquistas e os ativistas. Motivamos e desmotivamos. Construímos e destruímos. Odiamos e lamentamos. Fugimos e encontramos. E ainda assim, perecemos sem entendermos e tantas vezes sofremos. Sofremos pelo toque real não dado. Pelo beijo sentido não encontrado, pelo abraço que procurado tarda em chegar aos braços do seu amado. Ecoamos proezas como se fossem doenças. Gritamos, expomos, criticamos e tantas vezes defendemos a desordem no meio da ordem. Deduzimos que temos de dar algum tipo de brilho à nossa vida.
O teu spot de Wifi é o meu porto de abrigo, porque o meu nada é mais do que a necessidade que o teu compreende. Onde tu estás eu estarei. Onde eu não vou, tu lá chegarás. O teu “On” é o meu “Off”. Brinco com as fotos, faço passagens, caio em autênticas miragens. Miragens de possíveis amores para tapar as minhas dores. Iludo-me nessas ilustrações de amores presentes, descartáveis, infindáveis e tantas vezes inexistentes. Acão e inação. Like and Dislike. Ligo-me a esse mundo virtual que nada tem de real e que para todos é fulcral. Será imaginação fruto de tanta ilusão? Zango-me, relevo, destrato e mal trato e no fim…faço sempre esse trato, de que o que necessito para mim é que tu precisas para ti e que no fundo…todos precisamos para nós.