É um tema que tem gerado muita polémica entre o público que assistiu à série Adolescence, mas não é demais reforçar a questão relativa ao impacto das redes sociais, especialmente entre os jovens.
A adolescência é uma fase que “dói” muito: um “sim” pode ser o começo de um sonho; um ”não” pode parecer o fim do mundo. É o tempo dos amores intensos e das amizades que prometemos jurar para sempre. Também é onde podemos sentir mais a solidão, os silêncios pesados e traumas que se podem revelar apenas anos mais tarde.
Antes estes medos e inseguranças ficavam guardados a sete chaves em diários fechados. Hoje são expostos em stories, tweets e vídeos a toda a hora e espalhados em segundos.
O olhar e o toque estão à distância de um click, um sentimento à distância de um emoji.
A vida ilusória, que nos aparece no ecrã e nos entra pela casa sem pedir licença, mostra-nos um mundo surreal de beleza e perfeição que nos arrasta emocionalmente.
As amizades são como “fast food”, completamente descartáveis.
Assim, vivemos num mundo carente de reflexões profundas.
As pessoas que não conhecemos carregam essa carga de mistério e um potencial fantasioso ilimitado nas nossas mentes. Imaginamos o perfeito e o belo (físico e psíquico) perante as imagens ilusórias que se nos apresentam: as pessoas do outro lado podem representar novas oportunidades, experiências inéditas e a possibilidade de enriquecimento pessoal e cultural.
De facto, isso pode eventualmente acontecer nesse panorama digital, não obstante, ter que existir uma certa dose de discernimento. O nosso desejo de encontrar o bom e o belo reflete-se na busca do desconhecido que a internet nos oferece.
Nas redes sociais tudo é perfeito. Tudo nos faz acreditar que as pessoas do outro lado são maravilhosas.
Deste modo e em particular na fase da adolescência, colecionam-se amigos virtuais, cujo código de conversação é muito peculiar, com símbolos e emojis convencionados por esta comunidade.
Estas amizades “on line” fazem com que haja isolamento social cada vez mais, menos amizades verdadeiras e reais, em “off line”.
Apesar de a rede de amigos (ou supostos) ter aumentado em número com as redes sociais, também fomos remetidos para a solidão com consequências mentais a nível de depressão e ansiedade.
A proximidade física, como é evidente, ainda continua a ser vital para o aprofundamento das amizades.
Nós, os avós, que tivemos que nos ajustar rapidamente a esta revolução tecnológica, com todas as alterações de vida inerentes, tivemos também que reaprender o modo de nos conectarmos e estarmos alertados para os perigos iminentes.
Nós que vivemos uma infância e adolescência na rua, em liberdade, convivendo uns com os outros (a maior parte de nós sem telefone fixo sequer), assistimos a todas estas alterações relativas ao modo de interação e convivência entre as pessoas.
Na adolescência atual toda esta ilusão pode ser fatal, se não for supervisionada ou acautelada.
E foi essa questão, entre outras, que a série britânica recente Adolescence nos trouxe. Um autêntico “murro no estômago”.
Numa fase em que a personalidade de um jovem está em mutação, enfrentando as suas crises, há que consciencializar os pais e educadores para os perigos desta rede.
O pai que, inocentemente, pensa que o filho está em segurança no seu quarto frente ao computador, pode estar a facilitar a sua entrada para um mundo de terror. Pode estar a facilitar ao seu filho o porte de uma arma invisível e fatal que pode, num simples click, destruir-lhe a vida, da sua família e dos que o rodeiam.
Nota: Este texto foi escrito segundo as normas do Novo Acordo Ortográfico.