A História também se escreve no Feminino

Há uns dias, via com o meu filho o 2º filme da detetive privada Enola Holmes, um filme muito giro que recomendo vivamente (está disponível na Netflix).

Deparei-me com uma representação da luta das mulheres pela igualdade salarial e direitos, algo que, apesar de salvaguardado nas constituições dos países mais evoluídos, nem sempre (ou quase nunca) é posto em prática.

Sentei-me então, com um café na mão, a olhar para o passado, a pensar nas mulheres que lutaram para ter alguns dos direitos, que hoje damos como garantidos, mas nem sempre os valorizamos.

Escolhi então 10 mulheres que merecem toda a minha gratidão e respeito, confesso que não foi fácil, são milhares as mais conhecidas e milhões aquelas que diariamente tentam lutar para que o dia seguinte seja melhor para as suas filhas.

Apresento-as, desordenadas, pois, para mim, todas elas estão em pé de igualdade no que respeita à influência que tiveram para a evolução dos direitos das mulheres:

Edith Margareth Garrud (1872 a 1971):

A primeira mulher que se conhece como professora de artes marciais no mundo ocidental.  Defensora do sufrágio universal e da defesa pessoal das mulheres.

Em 1906 juntou-se à Liga da Liberdade Feminina onde treinava as meninas a defenderem-se das agressões que eram muitas vezes alvo.

Maria José Braga e Carmen Félix – As minhas avós:

Duas mulheres lutadoras, muito à frente no seu tempo. Trabalhadoras e cuidadoras dos filhos, eram mulheres dinâmicas que nos ensinaram o valor trabalho e o valor da democracia. A mais bonita lembrança que tenho da avó Maria José, era a casa cheia de flores e cravos vermelhos nas celebrações do 25 de Abril. A memória mais divertida com a avó ‘’Carma’’ era o quanto ela gostava do António Variações e de ver os shows de travestis nas coletividades do bairro. Apesar da avó Maria José ter sido vítima de violência doméstica, ela não queria que as filhas e a netas passassem pelo mesmo.

Kathrine Virgínia Switzer (1947):

A primeira mulher a correr a maratona de Boston.

Não que eu tenha qualquer intenção de correr uma maratona (se calhar até me fazia bem), mas sabiam que até 1972 as mulheres não corriam na maratona de Boston?

Em 1967 uma mulher resolveu fazer a diferença, pois apesar dos estatutos não fazerem referência ao género, nunca ninguém equacionou permitir que uma mulher corresse numa maratona mista.

Durante o percurso, vários membros da organização tentaram derrubar (fisicamente) a atleta, mas por mais que a empurrassem e deixassem cair, ela conseguiu teimosamente acabar, numa corrida que durou 4h20.

O argumento usado era que as mulheres eram inferiores e não conseguiam correr a maratona na sua totalidade, no entanto K.V. Switzer, mostrou precisamente o contrário e o seu esforço fez com que fosse criada em 1972 a corrida feminina.

Rosa Parks (1913 a 2005):

Nascida em Tuskegee, Alabama em plena segregação racial, desde cedo se começou a afirmar na sua luta pela igualdade.

A 1 de dezembro de 1955 Rosa Parks entrou num autocarro e sentou-se nos primeiros bancos que estavam disponíveis. Uma vez que havia algumas pessoas brancas em pé, o motorista mudou a tabuleta e mandou Rosa levantar-se para dar lugar a um homem branco, o que ela de imediato recusou. De imediato o motorista chamou a polícia e Rosa foi detida.

Após este incidente foram decretados os boicotes aos autocarros e líderes como Martin Luther King, Jr. foram muito ativos nesta situação.

Em 1956, no seguimento da decisão de Rose Parks naquele autocarro, a segregação racial nos transportes públicos foi declarada inconstitucional.

Catarina Eufémia (1928-1954):

A 19 de maio de 1954, Catarina Eufémia liderava um grupo de 14 ceifeiras, numa manifestação em Baleizão. Reivindicavam um aumento de 2 escudos por jorna, uma vez que ganhavam muito menos que os homens pelo mesmo trabalho.

O proprietário da Herdade do Olival chamou a GNR que de imediato acorreu ao local, tendo tratado da situação da forma agressiva como lhe era conhecida na altura.

Diz-se que Catarina foi agredida por um agente, e quando se levantou, com um filho ao colo e outro no ventre, ouviram-se 3 tiros, disparados pelo tenente Carrajola, tendo caído de imediato morta.

O tenente foi ilibado, Catarina tornou-se um símbolo da revolução contra a ditadura e dos direitos das mulheres trabalhadoras.

Maud Stevens Wagner (1877-1961):

Maud foi uma artista de circo, trapezista e contorcionista, que andava com os saltimbancos por toda a América. Só por isso ela já era um verdadeiro exemplo de liberdade, no entanto, destacou-se por ser a primeira mulher tatuadora conhecida, algo que nem num imaginário mais distante era permitido às mulheres na época.

Tendo aprendido a arte com o marido, Gus Wagner, nunca se rendeu às máquinas, tendo sido sempre fiel ao trabalho manual artístico. Uma verdadeira rebelde no seu tempo!

Malala Yousafzai (1997):

A 10.2012 o mundo conhecia a história de Malala, uma adolescente que fora baleada por querer estudar.

Malala é paquistanesa e na tarde de outubro de 2012 entrou num autocarro escolar na província de Khyber Pakhtunkhwa. Um homem armado chamou-a e disse-lhe que era para ir para casa, uma vez que o regime taliban tinha proibido as meninas de estudar. Malala ignorou o homem e manteve o seu percurso. O homem baleou-a 3 vezes.

A sua condição apenas melhorou quando foi transferida para Inglaterra, após vários apelos dos pais.

Malala recuperou e tornou-se ativista pelos direitos dos jovens e crianças à educação.

Já discursou nas nações unidas e foi eleita prémio Nobel da Paz em 2014 (entre outros prémios).

Em 2013 foi capa da revista TIME e considerada uma das 100 pessoas mais influentes no mundo.

Pelo que nos mostram as notícias vindas do médio oriente, só podemos pedir por um mundo com mais Malalas!

Carolina Beatriz Ângelo (1878-1911):

Foi a 1ª mulher cirurgiã e a 1ª mulher a votar em Portugal nas eleições para a assembleia constituinte em 1911.

Sendo viúva, e uma vez que sustentava a sua filha, invocou no Tribunal Constitucional o direito a ser considerada «chefe de família», tornando-se assim a primeira mulher a votar no país, nas eleições constituintes, a 28 de maio de 1911.

Tendo visto inicialmente a sua pretensão recusada pela comissão recenseadora da altura, esta apelou recurso no TC tendo recebido a seguinte decisão, por parte do Juiz João Batista de Castro:

’Excluir a mulher (…) só por ser mulher (…) é simplesmente absurdo e iníquo e em oposição com as próprias ideias da democracia e justiça proclamadas pelo Partido Republicano. (…) Onde a lei não distingue, não pode o julgador distinguir (…) e mando que a reclamante seja incluída no recenseamento eleitoral…’’

Por forma a evitar que tal exemplo pudesse ser repetido, a lei do código eleitoral português foi alterada no ano seguinte, com a especificação de que apenas os chefes de família do sexo masculino poderiam exercer o seu direito de voto.

Mary Quant (1934):

Estilista britânica que na década de 60 do século passado, foi a responsável pela criação da minissaia, que veio mudar completamente o estilo feminino e permitir às mulheres o seu empoderamento.

A minissaia não era apenas uma peça de roupa, ela era uma afirmação de que o mundo começava a mudar e as mulheres começavam a despoletar para a sua emancipação.

Amelia Earhart (1897-1937):

Foi a primeira mulher a sobrevoar o Oceano Atlântico sozinha. Considerada um grande símbolo da aviação ela conseguiu-se afirmar num mundo, onde ainda hoje, a mulher muitas vezes não tem lugar.

São apenas 10 exemplos de mulheres extraordinárias que, com a sua coragem, mudaram o mundo, ou pelo menos tentaram deixá-lo um pouco mais equilibrado.

Todas nós temos essa oportunidade, quer seja no trabalho, num grupo ou no seio familiar. Todas temos a possibilidade de marcar a diferença e deixar a nossa marca por um mundo com mais igualdade e menos maldade.

Com amor,

Cátia

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