Começo já por lançar um desafio:
Quero 5 nomes de mulheres empreendedoras em Portugal.
Vá, têm tempo.
Três é fácil, certo?
Mas peço 5.
Acredito que, pelo meio, se lembrem de vários nomes estrangeiros. Oprah, por exemplo. Ring a bell? Cristina Ferreira?
Mais?
A Dona Odete da Mercearia Do Bairro? É, sim, senhora.
Até, porque estamos aqui a falar de mulheres empreendedoras sem falar de empreendedorismo.
O Conceito da Moda
Não sei se empreendedorismo será moda. Pensem bem: aceitando – e bem – empreendedorismo como a arte de fazer acontecer, de colocar as ideias em prática, não é um conceito novo nem de modas – porque as modas passam.
Relacionamos facilmente a ideia com o produto ou serviço. Por isso, estando nós numa era tecnológica, vamos já buscar Bill Gates e Steve Jobs. Não estamos a falar das suas personalidades, mas dos seus feitos.
Claro que já fugi ao assunto, porque pedi exemplos de mulheres empreendedoras.
“O empreendedorismo refere-se à capacidade individual para colocar as ideias em prática. Requer criatividade, inovação e o assumir de riscos, bem como a capacidade para planear e gerir projetos com vista a atingir determinados objetivos.”
Fonte: Comissão Europeia — Educação e Cultura, 2005
O termo empreendedorismo surge da expressão francesa “entreprendre“ usada para identificar indivíduos que assumem riscos de criar e aproveitar oportunidades.
“Portugal é o 6.º país no mundo com mais mulheres empresárias”
Título lançado pela revista FORBES a 1 de abril de 2022.
Empresária não é necessariamente sinónimo de empreendedora.
A notícia continua: “Segundo o estudo, e apesar das mulheres representarem cerca de metade da população mundial e 39% do emprego global, apenas um quinto das empresas exportadoras são lideradas por mulheres e 80% das empresas detidas por mulheres têm dificuldades na obtenção de crédito.”
Para ler mais aqui https://www.forbespt.com/portugal-e-o-6o-pais-no-mundo-com-mais-mulheres-empresarias/
Eu ajudo em mais exemplos nacionais.
Sara do Ó
Sara tinha apenas 26 anos quando criou a sua empresa num mundo dominado por homens. Junto com Filipa Xavier de Basto e duas secretárias nuns apertados 12 metros quadrados, lançou um negócio de contabilidade. Oito anos depois, os 12 metros quadrados estavam transformados no Grupo Your, com mais de 500 clientes, empregava 70 pessoas e faturava 2,5 milhões de euros. Agora, além da empresa de contabilidade, há mais seis: seguros ou serviço, comunicação de marcas, recursos humanos, e consultoria financeira.
Manuela Medeiros
Criou a Parfois, a marca líder em acessórios de moda e que está presente em mais de 50 países. Foi há 22 anos que nasceu a primeira loja e, em apenas 5 anos, estava em todo o país. Manuela começou por revender o que comprava noutros mercados, mas percebeu que precisava oferecer produtos exclusivos. Mudou a estratégia, contratou designers e agora lança 3500 referências por estação e todas as semanas há novidades nas lojas.
Já lancei 3 exemplos (o primeiro está lá em cima e penso que dispensa apresentações).
Para ser empreendedora, não precisa de ter visibilidade nacional.
Olhem à vossa volta. A senhora da lavandaria, que após pandemia vai levantar e entregar a roupa a casa. A senhora da mercearia que vende cereais a granel para combater o desperdício alimentar. Mais, digam-me mais.
Sou formadora certificada em igualdade de Género. Já ministrei dois cursos de 24h cada com o tema Empreendedorismo Feminino. Sabem qual a temática que exige mais atenção? Às disparidades profissionais entre homens e mulheres: o salário, o tempo de trabalho, o tempo de trabalho não pago e a maternidade.

Conhecemos mulheres empreendedoras (mais famosas ou não), conhecemos projetos e empresas. Contudo, em ambas as turmas, só de mulheres, falamos muito sobre algumas dificuldades que a mulher enfrenta, por ser mulher, no mundo profissional, ainda muito marcado pelo patriarcado. Não há forma como negar esta realidade: na mesma função, existe uma diferença de cerca de 200€ no salário de um homem e uma mulher.
Por isso é que precisamos de debates sobre o tema, textos na internet e pulgas atrás da orelha, que nos façam ter vontade de pesquisar mais sobre o assunto.
Mas falem com a senhora da mercearia. Ou da lavandaria, quando for entregar a roupa aí a casa. Perguntem pela sua história de vida.