A Era do digital

O mundo no espectro das tecnologias.

A revolução tecnológica trouxe consigo, uma miríade de ferramentas, que, de certa forma, transformaram irremediavelmente o nosso quotidiano. Por outro lado, podemos também afirmar sem receios, que essas ferramentas novas, substituíram outros métodos, hoje considerados quase arcaicos, todavia, esta revolução trouxe vantagens ao conceito de vida “moderna”, que todos nós usufruímos no dia a dia, no entanto, pouco se fala das desvantagens que a mesma revolução consigo arrastou.

O digital, hoje, é uma extensão de nós mesmos, tal como a Katana era uma extensão dos antigos samurais, nenhum samurai nasceu com uma Katana embutida na sua mão, aceitou-a e absorveu-a em si, tal como a sociedade de hoje o fez com a tecnologia.

Fala se muito na “falta de privacidade” que as tecnologias acarretam, mas será verdade? Bem, primeiro devemos assertar sobre o termo “privacidade”, se tiramos fotos a tudo, e tudo postamos, se usamos das redes sociais como centro de interação principal, se participamos nos mecanismos de diversão digitais, se possuímos “amizades” que pouco conhecemos na realidade, e até desconhecemos por completo fisicamente, é um pouco ridículo falar de privacidade, e muito menos de segredos, já não existe., a privacidade e o segredo, são na realidade, uma preocupação de cada um, porque a tecnologia não nos expõe sem consentimento, somos nós que optamos por o dar.

Agora, nem tudo é uma desvantagem, e efetivamente a tecnologia trouxe ganhos incalculáveis, a quebra de barreiras físicas, a proximidade e a velocidade de comunicação e de acesso, longe vão os tempos em que pilhas de papel tinham de ser movimentados, resmas de fotografias, até os bilhetes do autocarro, se tornaram “virtuais” embutidos em apps tecnológicos que nos permitem maior conforto. Os bancos estão há distância de dois cliques.

A revolução tecnológica, trouxe como mote, o conforto e os ganhos temporais, o conforto dado que não temos de nos deslocar para fazer acontecer, e os ganhos temporais resultantes dessas “não deslocações“, além da apregoada segurança do mundo virtual / tecnológico, onde os dados eram salvaguardados de qualquer perigo externo. Aqui podemos elaborar um pouco acerca da transparência do assunto.

Não nos deslocarmos, significa confiar a nossa privacidade com terceiros, uma coisa é ir comprar o bilhete de autocarro ao guichet da transportadora, outra completamente distinta é fazê-lo mediante terceiros, e o tempo que supostamente poupamos, passamos em revista as redes sociais, e pomo-nos a par das novidades mundanas, aquelas que o algoritmo nos concede, claro.

Em termos de segurança, é um paradoxo, estaremos seguros até ao dia em que descobrirmos que fomos assaltados, não existe muito a debater sobre a segurança, quando abdicamos dela e a entregamos a terceiros, no mundo real, confiamos nas forças de segurança a nossa proteção contra intrusos, e resulta até sermos assaltados, depois já não resulta.

O mundo da tecnologia é transparente, límpido até, quanto mais se imiscuirmos na tecnologia, maior é a probabilidade de não termos privacidade, nem segredos, e de seres condicionado por terceiros, pela prática da partilha da privacidade e modos de vida, agora construir o mundo pela tecnologia, pelos seus ditames e tendências, é que já não me parece nada transparente.

Não existe transparência alguma, quando o mundo da tecnologia nos conduz, é que usar a tecnologia é uma coisa, viver a tecnologia é outra. E a prova que um mundo tecnológico é tudo menos transparente, está há vista, condiciona, impinge e manda, é um mundo perigoso.

O samurai, incorporando em si a Katana, escolhe não definir o seu destino, é a Katana que decide quando morre.

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