Uma península, Duas Coreias

O fim da II Guerra Mundial deu ao mundo uma nova configuração geográfica e política. A vitória dos Aliados originou o surgimento de duas novas potências que viriam a liderar o mundo no que restava do século XX: os EUA e a URSS tomaram as rédeas de um mundo em ruínas sendo que a Coreia do Norte foi atribuída à URSS e a do Sul aos EUA. Divididas como zonas de ocupação de cada uma das novas potências, as duas Coreias experienciaram um crescimento e desenvolvimento económico muito díspares que enfatizam, até aos dias de hoje, as diferenças entre os dois territórios.

Em 1948, a recém-criada Nações Unidas, fruto da vontade de vários países de manterem a paz e a ordem mundial no mundo, foi o organismo destacado para supervisionar as eleições na Península da Coreia que iriam criar dois governos coreanos separados. Porém, a Coreia do Norte recusou-se a participar desse escrutínio precipitando uma guerra em 1950, após ambos os territórios reivindicarem a soberania sobre a península inteira. Em 1953 foi assinado um armistício que dividiu a península ao longo da Zona Desmilitarizada da Coreia, separando os dois países muito além dos limites geográficos.

O território da Coreia do Sul gozando da ajuda e influência do mundo ocidental, encabeçada pelos EUA, tornou-se na 13ª maior economia do mundo e um dos países mais desenvolvidos do mundo e avançados em termos tecnológicos. Em contraste, a Coreia do Norte um dos últimos bastiões comunistas do mundo segue fielmente a ideologia socialista juche, desenvolvida por Kim II-sung, fechando-se ao mundo exterior dificultando a expansão da economia.

Tal como a Cuba, outra das repúblicas socialistas ainda existentes, toda a economia da Coreia do Norte é administrada pelo estado. Regidos pelos ideais marxistas, a educação e a saúde são gratuitas e universais para todos os cidadãos sendo mesmo um dos países com uma das maiores taxas de alfabetização do mundo. Contudo, se o direito à educação torna a sociedade norte-coreana uma nação com uma força trabalhadora altamente qualificada, as restrições ao comércio externo não permitem que a sua economia desenvolva o seu verdadeiro potencial aumentando as desigualdades entre o território do norte e do sul.

xxxIronicamente, um dos maiores importadores de alimentos da Coreia do Norte é a Coreia do Sul, a par da China, com quem tem mantido uma relação permanente de conflito e ameaças. Por uma questão política, a China e a Rússia têm sido dois dos poucos aliados do isolado território da Coreia do Norte e dois dos seus parceiros comerciais mais importantes que fornecem ajuda alimentar.

A Reunificação da Coreia pretendida pelo território do Norte quer ver nascer uma estrutura federal que conserve os sistemas políticos vigentes. Deste modo, em 2000 foi assinada a “Declaração Conjunta Norte-Sul de 15 de Junho”, em que ambos os países se comprometeram a trabalhar de forma pacífica para que a reunificação seja alcançada. No entanto, as tensões entre a Coreia do Norte e a Coreia do Sul com constantes ameaças de parte a parte dificultam em muito as negociações que já sofreram inúmeros reveses.

Caso uma reunificação se dê a Coreia do Sul, à semelhança do que se passou com a reunificação da Alemanha, enfrenta grandes desafios económicos, políticos e culturais. Apesar de dividirem o mesmo espaço, os dois territórios em nada se assemelham na forma como escolheram estruturar o estado, a pobreza da Coreia do Norte relativamente à Coreia do Sul é grande e o regime socialista do Norte terá de estar disposto a inverter essa situação.

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