A região árabe está a sofrer de um défice democrático que se prolonga há anos. A Liga dos Estados Árabes é responsável por um terço das aristocracias do mundo, de acordo com um índice de democracia construído pelo Economist Intelligence Unit, uma empresa comparsa da The Economist. A questão é entender o porquê deste fenómeno. Algumas fontes populares, que citam a cultura árabe, ou a islâmica, afirmam que o petróleo, uma das grandes riquezas destes espaços, pode ser a principal maldição para o conflito regional corrente. Outras afirmam que é meramente uma questão territorial. Sem se querer, a simpática imagem do Aladino deixa de ser a imagem de um árabe, para a do terrorismo e a dos bombardeamentos passarem a ser características gerais de países que muito têm para oferecer.
Tudo começou com o conflito entre a Palestina e Israel na disputa de territórios. Um fenómeno que pode ser visto como a questão do ovo e da galinha: quem chegou primeiro? No caso dos israelitas, havia uma enorme vontade de retomarem aos seus antigos aposentos, após estarem exilados no Egipto. O ideal judaico dizia que estes teriam de voltar a Israel (fenómeno conhecido por Sionismo), a sua terra natal. O problema é que a Terra Santa dos israelitas estava já ocupada pelos palestinos, que eram dominados na altura pelos otomanos. Os judeus, inicialmente, partilharam aquele território com os futuros rivais, mas rapidamente urgiram em criar o seu próprio Estado e arranjaram modos de expulsar quem tinha, entretanto, entrado na sua Terra Santa. Tinham uma atitude hostil para com os palestinos e privavam-nos dos seus direitos. Praticamente, chegaram e mandaram.
Os palestinos não queriam abandonar aquele território, pois eram conhecidos em todo o mundo islâmico por terem uma bela terra com campos de cultivo férteis e com um significado religioso. A população que era constituída por pequenos grupos nómadas e por habitantes de localidades trabalhava na agricultura daquelas terras (60% da população) desde que os israelitas partiram. No fundo, hoje em dia os palestinos vivem o que os israelitas viveram e partilham a vontade de retorno na comunicação social, cultura e educação.
Os governos israelitas consideram que não existe um direito de retorno para os palestinianos e esse seria o principal obstáculo para que não exista paz entre ambos os povos árabes. Assim, as tropas de Sião (da parte de Israel) fizeram diversos atentados terroristas às tropas de ocupação que se encontravam na província e, consequentemente, o Império Otomano caiu. O grupo palestiniano (Jordânia, Líbano, Síria e Iraque), que não via com bons olhos o retorno dos israelitas àquele espaço, também reagiu da mesma forma: com atentados e bombardeamentos.
Desde o início das guerras entre estes países árabes que muitos foram os estragos, sendo que o pior tenha sido o facto de os palestinos serem, ainda nos nossos dias, refugiados que não mostram resistência. Várias foram já as tentativas para suavizar estes ataques feitos por ambas as partes. Os Estados Unidos da América foram uma das potências que tentaram um Tratado de Paz em 1978, que ia no bom caminho, mas que falhou por causa dos interesses particulares de cada uma das partes. A ONU (Organização das Nações Unidas) sugeriu a divisão da região para ambos os responsáveis árabes. Uma sugestão que parece ser a solução final para este conflito – 55% seria entregue aos judeus e os restantes 45% seriam destinados aos palestinos. Simples, mas que de muito pouco serviu, pois os interesses individuais dos responsáveis pela Palestina e Israel acabaram sempre por falar mais alto. A questão assim põe-se: poderá existir democracia num mundo onde a paz não é o objetivo razoável numa sociedade?
Ao longo da história, as guerras, por mais douradoras que fossem, acabavam em paz. Havia um castigo para os que não respeitavam os acordos (Alemanha é um bom exemplo da Primeira Guerra Mundial) e, simultaneamente, eram tomadas medidas para as consequências provenientes da guerra. Algumas medidas funcionaram e outras criaram mais guerras. Ou seja, o mesmo não acontece com a situação árabe, já que várias foram as medidas sugeridas e os tratados assinados, mas havia sempre um ponto a não ser respeitado – os interesses de cada responsável de uma nação serem mais importantes que a sobrevivência e crescimento de um povo.