Merlí

Este é o título duma série catalã que foi exibida na RTP2. Tenho por hábito colocar a gravar o primeiro episódio para conhecer o sabor e depois tomar a minha decisão. Com esta, não tive a menor dúvida pois fiquei logo viciada. Prendeu-me do princípio ao fim.

Merlí é um professor de filosofia que vive a vida segunda as suas regras e princípios. Vamos conhecê-lo, num dia menos simpático, em que tem várias responsabilidades para assumir. Nenhuma delas é fácil e passamos a ser suas testemunhas de vida bem como amigos íntimos e especiais.

A mais importante de todas é ter de assumir a responsabilidade de ficar com o filho, Bruno, um adolescente que não passa de um estranho para ele. Será uma descoberta a dois. Um divórcio mal resolvido implica muitas falhas e os dois, pai e filho, são desconhecidos que terão de enfrentar espadas duras num espaço que será sempre apertado.

Como se não lhe bastasse a partida da ex-mulher para Roma, é despejado da casa onde vive, por falta de pagamento. Ficamos a saber que a sua vida é tudo menos cor de rosa e o facto de não ser novo não amacia a rigidez que pode implicar. Vê-se forçada o ir viver com a mãe, uma actriz renomada, mas cheia de tiques de vedeta.

Nesse mesmo dia é chamado para dar aulas na escola onde o filho estuda. Será o seu professor e começam logo os desafios mais estranhos, curiosos e engraçados que se possam imaginar. Ensinar é sempre complexo, mais a mais sendo filosofia, tendo um grupo de hormonas aos saltos, como um dos colegas se refere à turma, é uma dificuldade acrescida.

Conquista logo os alunos e começa guerra com os colegas. Os seus métodos nada têm de ortodoxo e muito menos de clássico e, chegando a quem precisa, afasta os que estavam instalados. Rapidamente é o guru da turma e vamos conhecendo muitos alunos. Todos diferentes e todos cheios de dúvidas.

O que é curioso verificar é que a língua não separa ninguém, não cria modos diversos de viver e de se ser adolescente. Essa etapa é igual em qualquer tempo e país. A descoberta da vida e os amores e desamores, serão os temas centrais de todos os episódios.

Cada um deles é subordinado a um filósofo específico e, como quem não quer a coisa, todos aprendem e começam a pensar por si. O que ele pretende é que os alunos sejam autónomos e não se deixem levar com duas cantigas. Claro que esta postura suscita muitas contendas com os pais e com os colegas.

A sua vida é um descalabro e ainda se busca apesar de estar próximo dos 60 anos. O episódio em que descobrimos essa data é particularmente emotivo. É um ser humano repleto de defeitos e de qualidades, mas tem sempre um ombro para quem precisa dele. Não verga nem cede nos seus intentos.

O filho volta para Roma, a mãe vai em digressão e ele fica sozinho depois de ter experienciado a alegria que é viver em família e afastar a solidão. Procura o seu ponto de equilíbrio e prova que o caminho, a busca de si, é contínua e nunca está terminada.

Vamos conhecendo alguns alunos e as suas vidas bem como as escolhas que vão fazendo. Existe um núcleo duro de alunos adolescentes que vai recebendo outros elementos para que o bolo seja perfeito. Essencialmente o que ele ensina é a pensar, a saber dar uso à sensibilidade e ao bom senso, a ser-se genuíno.

Está muito bem elaborada a forma como as personagens vão crescendo ao longo da trama e o seu confronto com a realidade. O mundo adulto é logo ali, a seguir e as almofadas de ajuda acabam no dia quem que ficam entregues a si próprios.

Por cada filósofo estudado há um conjunto de situações que provam tudo o que estes defendiam. É a vida a acontecer, sem ser no papel nem na ficção. Crescer é dor e só depois de a saber ultrapassar é que se vai conhecer o verdadeiro significado do amor.

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