O que nos torna humanos?

Neste corpo celeste, conhecido como Planeta Azul, as realidades dos seres que o habitam são tão diversas quantas as linhas de cada rosto que definem a existência de cada ser humano. Uma existência marcada pela diversidade, que faz do mundo uma rica Terra, onde o amor, a família, a paz, a saúde, a igualdade, a liberdade, a dignidade, a solidariedade, a educação, o trabalho, a segurança, o conforto… são assumidos como os risos da felicidade. Mas, esta aventura dos Sentidos tem uma outra face, um lado que padece de escassez destes valores, minados pela fome, pela guerra, pela pobreza, pela desigualdade, pela vingança, pelo poder, pela falta de cuidados de saúde, pela sociedade de consumo, pela escravidão, pelo analfabetismo, pela solidão, pela exploração, pela homofobia, pelo ódio… que fazem do mundo uma Terra de contrastes.

E é esta diversidade que pincela a vida de vários tons e que permite, por um lado, manter o equilíbrio do mundo, mas tingindo-a, por outro, de um pantone de desigualdades e de uma antítese de vivências que golpeiam os valores da vida.

Durante as nossas rotinas diárias, noutros cantos do mundo morrem pessoas de fome, de sede, de falta de cuidados de saúde, de conflitos de guerra, de vários tipos de violência… Enquanto uns sustentam as suas famílias através do trabalho livre, outros só podem fazê-lo através da prostituição e do trabalho escravo. O que para nós é um dado adquirido, tal como a electricidade, os transportes, a internet e as telecomunicações, para outros tantos é algo inimaginável. Se somos livres de escolher a vida que queremos, outros são escravos da vida que lhes foi escolhida por terceiros. Enquanto uns se queixam da falta de dinheiro para ir de férias ou mudar de carro, outros choram a doença e a morte dos seus filhos subnutridos. De um lado, durante um abraço livre e carregado de afectos e sentidos, noutros cantos do mundo estão a ser discriminadas pessoas pela sua orientação sexual. Se em algumas sociedades modernas os idosos são um estorvo, noutras representam o grande valor humano. Enquanto nascem crianças, outras morrem em nome da vingança, do ódio, da guerra… É assim a vida no que tem de mais paradoxal.

Então, nesta bipolaridade, o que nos torna humanos?

Yann Arthus-Bertrand, fotógrafo, realizador e ecologista francês, encontrou as respostas em cerca de 2.000 pessoas comuns, de 60 países, num diálogo que durou cerca de 3 anos, a partir do qual realizou um documentário feito de tantas e tão diversas narrativas contadas na primeira pessoa. “HUMAN” – eis o nome do filme – tem como protagonistas as próprias pessoas entrevistadas cujos rostos contam, em cada traço, histórias e experiências, que convergem nas suas perspectivas sobre o sentido da vida. Mas o realizador também fez questão de intercalar tamanhas histórias com imponentes imagens aéreas envolvidas por um registo musical do compositor israelita Armand Amar, tudo de cortar a respiração, oferecendo uma visão crítica da vida na Terra. Mais do que um filme, HUMAN é uma imersiva e inspiradora odisseia, um movimento que nos encoraja a uma reflexão sobre a condição humana nesta [dita] sociedade moderna. Uma conversa em torno do significado da nossa existência, um profundo estímulo às mudanças sociais e aos desafios que a nossa civilização enfrenta, bem como à sua capacidade de crescimento em amor e felicidade, a verdadeira riqueza do ser humano.

Um filme sobre todos e para todos, HUMAN é um verdadeiro hino à humanidade e ao que nos torna humanos, uma produção verdadeiramente humanista, que imerge nas diversas acepções da palavra “sentido”, despertando-nos os sentidos e pondo-nos em sentido, questionando a nossa evolução – se é que temos evoluído – e deixando em aberto o futuro a que nos propomos ter…

Nestas tão diversas realidades, não há dúvidas de que o que nos torna iguais entre tantos diferentes, num traço que torneia um único rosto, é o AMOR. O amor é o que move a humanidade na esperança e na busca da felicidade. É nos valores do amor que cabem o perdão, o sentido de comunidade, a solidariedade, a igualdade, a amizade, a paz, a coragem, a verdadeira felicidade, a humildade para reaprender o amor. Sempre o amor…

O amor é o princípio e o fim de tudo na razão do coração. É o alimento da felicidade e o motor da vida. E é o amor a única linguagem que nos une e dá significado à vida. O amor é o que nos torna humanos, eis a resposta à grande questão.

José Mujica, ex-presidente do Uruguai, neste documentário diz assim: “ou és feliz com pouco, com pouca bagagem, porque a felicidade está dentro de ti, ou não és nada”.

Quantos nadas tem o mundo? Quantos tudos tem o mundo?

I am one man among seven billion others. For the past 40 years, I have been photographing our planet and its human diversity, and I have the feeling that humanity is not making any progress. We can’t always manage to live together.
Why is that?
I didn’t look for an answer in statistics or analysis, but in man himself.
Yann Arthus-Bertrand

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