A escola tem um papel fundamental na vida de cada criança. E não se pense que é só pelo currículo oficial, que é, de facto, mas também pelas outras aprendizagens que daí possam advir. Este processo de socialização é duma importância vital para o ser que vai ser inserido numa sociedade, na medida em que lhe permite saber lidar com situações que farão parte da sua vida futura.
O sistema educativo é um conjunto organizado de estruturas, meios e acções diversificadas através do qual se realiza o processo permanente de formação a que têm direito os membros da comunidade, visando o desenvolvimento pessoal, o progresso social e a inserção nessa cultura. A escola representa uma componente de uma rede mais alargada de instituições sociais educativas. O processo de socialização começa em criança, no seio familiar, a socialização primária, que irá influenciar o seu desenvolvimento futuro. A educação escolar é um elo de ligação entre as fases sucessivas do ciclo da vida humana e caracteriza-se por várias funções. A função cultural transmite valores, normas, modos de pensar e agir de acordo com a respectiva comunidade promovendo as suas práticas; a função social permite a selecção e orientação para o desempenho de papéis sociais de modo competente e a se adequar a todas as circunstâncias; a função económica, que prepara os indivíduos para o exercício de profissões sociais, facilitando o desenvolvimento económico- social; a função político-institucional que contribui para a coesão e identidade nacional, bem como para a participação social, cívica e politica dos indivíduos nos campos e níveis de actuação em que se inserem.
Afinal o que é um currículo? O mais antigo significado associa-se a matérias organizadas como disciplinas escolares que foram escolhidas para serem ensinadas. Em rigor não existe uma noção, mas são várias noções de currículo, consoante as perspectivas que se adoptem. Pode ser um plano de estudos, elenco de matérias propostas por um ciclo de estudos, cuja conclusão conduz a um nível de graduação. É a atribuição de tempos lectivos semanais de cada uma das disciplinas que o integram e as actividades lectivas a cumprir na escola, quer pelo aluno quer pela participação activa do professor. Igualmente será uma listagem ou esquema de temas e tópicos por áreas disciplinares, com uma organização e sequência programática. É um veículo de transmissão do saber humano acumulado ao longo de gerações, estruturado em torno de disciplinas ou ainda a iniciação nos vários domínios do saber e da cultura como forma privilegiada e educar gerações mais novas. Na verdade, é um plano estrutural de ensino-aprendizagem, incluindo objectivos ou resultados de aprendizagem a alcançar, matérias ou conteúdos a ensinar, processos ou experiências de aprendizagem a promover.
Convém, agora distinguir vários tipos de currículos que se associam a toda esta situação. O currículo formal, é o plano nos seus objectivos, conteúdos e actividades, o qual constitui obrigação formal do professor implementar e que se traduz no horário lectivo dos alunos ou professores e no cumprimento dos programas estabelecidos. Por currículo informal entende-se toda a actividade estruturada ou não estruturada, que faça parte da vida escolar dos alunos para além das actividades lectivas, como as actividades cívicas, desportivas ou de convívio social e participação na comunidade. Por último temos o currículo oculto que designa, simultaneamente, dois aspectos: por um lado as práticas e processos educativos que induzem resultados de aprendizagem não visados pelos planos e programas de ensino e, por outro lado, refere-se a efeitos educativos que resultam em aquisição de valores, atitudes perante a escola e matérias escolares, processos de socialização, de formação moral e de reprodução da estrutura social de classes.
Posto isto, a questão que se coloca é bastante pertinente: que educação queremos para os nossos filhos? Convém esclarecer o significado da palavra educação, neste contexto. Aqui tem o valor de instrução, de conhecimento, de passagem de informação, de transmissão de algo que tenha utilidade e que ajude na formação futura. esse é o papel da escola, instruir, ensinar, assegurar a passagem do conhecimento, das disciplinas escolares e de valores que nelas estão implícitos. Os pais, esses, são os primeiros educadores, aquele que são responsáveis pelos filhos, pelos seus descendentes e a eles cabe a tarefa essencial da primeira socialização. Não é só mudar as fraldas, dar a papa, vestir e bater as palminhas, é também ensinar os valores, aqueles bens abstractos que regem uma sociedade e que a transformam numa personalidade de base positiva. A responsabilidade vem de casa, local seguro e protegido, pequeno mundo onde acontecem as experiências que marcam para a vida e, onde se fazem os primeiros planos para um futuro de sucesso.
Não se pode exigir aos professores que tenham a dupla tarefa de educadores e instrutores, não é justo nem legítimo, mas acontece. Não devia ser assim. Perde-se tempo, precioso, a transmitir aquilo que já devia ter vindo aprendido e esgota-se o tempo da outra aprendizagem, aquela que compete à escola. Todos queremos qualidade de ensino, queremos que os nossos filhos fiquem bem preparados para a vida, sejam independentes e saibam tornear as dificuldades. Pois queremos, mas o trabalho é conjunto, da escola e dos pais. Ou melhor, dos pais e da escola, que a segunda complementa a primeira. E é na escola que se deve investir o dinheiro público, na formação de cidadãos conscientes e responsáveis. Não existe a disciplina de ” superar dificuldades ” porque a própria escola, a pública, é uma grande dificuldade. Luta com fracos recursos, com pessoas desmotivadas e com instalações degradadas. Todos os dias é uma luta titânica que é superada: não caiu o telhado, houve material suficiente, cadeiras para sentar os 33 alunos numa sala, alguns ouviram a matéria, outros nem por isso e as filas para o bar eram tão grandes que o intervalo se esgotou. Na aula seguinte a barriga dá voltas e faz barulho. Não houve tempo para comer. Como é que se pode aprender assim? Pode isto ser comparado com um colégio, com turmas de 12 alunos e onde tudo está à disposição daqueles que o frequentam? Não insistam com rankings que isto não pode ser comparado, não tem termo de comparação. Pensem nisto. Eu penso, todos os dias.