É contigo, viver 

Tenho ideia de que, nisto da vida, não há fórmulas. Não é uma prisão, é uma libertação. Tenho de enfiar a carapuça: acho que se pudermos melhorar a vida não o deveremos negar. Ser negativo seria mais pesado, de qualquer forma. É da nossa responsabilidade. Viver mais leves não é complicado, o que é complicado é não viver. Não andamos a todo o instante a pensar «agora vou ser descontraído, andar sorridente, leve e amanhã triste e pesado». Somos mais ou menos leves, de acordo com a claridade do espaço, com os encontros, lugares, momentos. Escolhemos ser assim ou assado conforme nos convier. Temos um leque enorme de cores! Mais claras ou mais escuras. A analogia com a pintura é uma bonita maneira de imaginar a vida, de a pintar em vários tons. Há dias melhores, mais leves, claros. E piores, mais escuros, pesados. Há de tudo! E somos pintores da nossa vida, que queremos tornar o mais bonita possível.

Não há fórmulas para viver mal ou bem! Cada um pinta o seu pedaço individual e este pode ser muito diferente. No quadro maior e mais social, que é a vida conjunta com diferentes imagens e cores, há os pincéis, as telas, o vento, o espaço e o tempo. Claro e escuro, pintemos o quadro da vida como quisermos apreciar. Passamos demasiado sentimento negativo — que é fácil encontrar coisas pesadas para informar e difícil encontrar levezas para festejar o dom que é estar vivo. Um simples gesto, um olhar, uma imagem, uma invenção, um texto, uma pessoa, um grupo, uma equipa, um espaço. A vida é para ser criada com diversos tons e liberdades, conforme acordemos para embalar o nosso quadro nesse dia. No entanto, pintamos demasiado negro, exageramos no escuro, pouco elogiamos o estar vivo, que é claro e alegre. Não admiramos tanto a vida, como deveríamos. Lamento, mas não vou mudar: a alegria, os sorrisos e as festas passam leveza. Quando o corpo falha, sentimos mesmo muito a sua falta. «É melhor ser alegre, que ser triste | Alegria é a melhor coisa que existe | É assim como a luz no coração», Samba da Bênção, de Vinicius de Moraes. Fui bafejado pelo otimismo e tem corrido bem.

Não me pesa nos ombros e ajuda a viver melhor, a levantar o astral… Andamos todos a aprender a viver melhor e não há ciência, por mais dias, anos, séculos que a História ganhe, que ensine a viver melhor. Não há formas mais certas do que outras de existir, de viver melhor. O Outro, as outras pessoas, talvez sejam o cerne da questão, o segredo para uma vida mais bem vivida. Cada pessoa é uma imensidão de cores, saberes, sabores, olhares, visões, pensamentos, palavras e et cetera e tal. Há gestos de sedução e aproximação, há gente que encontra qualidade na solidão, gente que tem mais qualidade entre as pessoas e os grupos. Temos todos o objetivo de ir melhorando em cada momento, mas ser exigente é importante; se tens mais ou menos jeito para grupos, pessoas, para o mundo social, é contigo descobrir.

Se és melhor sozinho, é contigo também descobrir. Nascemos entre pessoas, no amor dos pais, e morremos entre pessoas, se o caminho da vida é feito entre elas não é complicado descobrir. «e neste assunto das pessoas, amá-las é que é bom!’»(Herberto Hélder n’Os Passos em Volta). Não é complicado isolares-te, fechares a porta aos que te rodeiam, tens para isso liberdade, fazes como quiseres, é contigo!

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