
Hoje é cada vez mais comum assistirmos à mobilização da sociedade civil em torno de causas que nos deviam preocupar a todos. Estejam elas ligadas à fome, ao racismo, ao bullying, à pobreza, à violência doméstica, ao abandono de animais, à falta de condições nas escolas e hospitais, entre tantas outras cuja lista se tornaria interminável.
No entanto, importa distinguir o altruísmo genuíno, do altruísmo barato, ou aquilo a que podemos apelidar de “altruísmo de Facebook”.
O verdadeiro altruísta, aquele que ajuda genuinamente, não anda a pavonear-se nas redes sociais, dizendo a meio mundo que está a ajudar a pessoa A ou B, ou a instituição C ou D.
O verdadeiro altruísta ajuda discretamente, porque não pretende reconhecimento nem palmas por parte de ninguém.
Há alguns anos, tive a oportunidade de ler a obra intitulada Os 36 Homens Justos, de Sam Bourne, que aborda, de forma brilhante, a questão do verdadeiro altruísmo.
Ainda há pouco tempo assistimos, também, a uma situação em Portugal de uma jovem que foi baleada pelo ex-namorado e cujos pais não dispunham de mais verbas para dar continuidade às sessões de fisioterapia e de terapia da fala.
Após a transmissão de uma reportagem televisiva, que aludia à situação, surgiu um benemérito que ajudou com mais de 30 mil euros e que exigiu anonimato.
Contudo, este tipo de comportamento só está ao alcance de pessoas puras e limpas.
As outras, as “altruístas de Facebook”, estão dispostas a tudo, desde que isso lhes valha a aclamação pública. Há quem, inclusivamente, consiga prostituir os seus próprios valores, aliando-se àqueles que criticam, não pelo bem comum, mas pelo bem próprio.
Surgem depois fotografias junto das pessoas a quem deram alguma ajuda, ou junto a bens materiais ou alimentares que foram recolhidos ou até no desempenho das suas acções voluntariado.
E tais atitudes não têm como objectivo a mobilização social ou o estimular do voluntariado na sociedade civil, mas sim, não raras vezes, uma promoção social e a venda de uma personalidade e de um carácter nada condizentes com a realidade.
Vivemos na Era em que as pessoas querem, a todo o custo, ser produto, vendável e de qualidade, quando na verdade não passam de mercadoria de terceira categoria.
O meu enorme bem-haja vai para quem faz o bem sem olhar a quem e para aqueles que conseguem fazer o bem na “clandestinidade”, sem hastear bandeiras, sem acender holofotes e sem subirem ao palco para receberem as palmas antes do fechar do pano.