Crónica de uma viagem anunciada

‘Viajar é abrir os olhos e mergulhar a fundo. Seja para ir ali ao lado ou ao fim do mundo. É pôr umas asas e voar para Goa ou descobrir um beco já ali em Lisboa. É partir à procura de água de coco, jabuticaba, pimenta e caril. E entrar noutras vidas, molhar os pés noutros mares, sentir borboletas na barriga. Mas viajar é também voltar a casa. E vir de alma cheia, pintado de fresco, com um baú de histórias para contar. Regressar sempre, porque não há viagem como a vida nos braços do nosso amor.’

‘Viajar é sair da zona de conforto, parar de sonhar e partir, e no final do dia não sentir os pés, mas sentir o coração cheio de felicidade.’

‘Viajar para mim é prestar homenagem à mais bela criação, que é a Mãe Terra. Não sou

viajante, sou peregrina.’

‘Viajar pra mim é reconhecer-me no

desconhecido e sentir na alma o que

verdadeiramente significa, que todos

somos um.’

‘Misturar-me nos locais onde vou, respirar outros

ares, viver outras vidas’

‘Não há nada vida que me dê mais prazer do que viajar…e quanto mais viajo, mais vontade tenho de continuar a conhecer novos países, novas culturas.

Descobri nos últimos anos, que o facto de viajar sozinha ou com pequenos grupos de pessoas que não conheço de lado nenhum, é extremamente desafiador e compensador, pelas amizades que se criam e pela afinidade que ganhamos, por estarmos na mesma frequência.

Já não consigo viajar de outra forma, senão de mochila as costas. Ter contacto com a cultura de cada povo é para mim, andar de transportes públicos, dormir, não em hotéis de 5 estrelas, mas em guest houses ou hotéis mais modestos, mas com o conforto necessário. Comer nos restaurantes dos locais, onde não encontras estrangeiros. Para mim só faz sentido, se andar no meio deles e como se vivesse lá!!!

Estou a escrever sobre o que para mim é viajar, e já os meus olhos brilham… é revigorante viajar, é terapêutico, é maravilhoso!!!

E só de pensar em planear uma viagem, já estou a viajar…’

‘Viajar são as experiências, os locais e as pessoas.’

Depoimentos de amigos, que comigo partilham a paixão pelas viagens.

Imaginem que conseguem ler vários livros ao mesmo tempo, todos diferentes e que fixam cada paragrafo, cada virgula, para não mais esquecer. Tarefa impossível, eu sei.

Deixemos, então, os livros e imaginem-se antes, a viajar. Viaja-se em trabalho ou por lazer. Viaja-se por obrigação, ou por prazer. Viaja-se para longe, ou para perto. Viaja-se sozinho, ou acompanhado. Viaja-se pela beleza, ou pela guerra. Viaja-se para fugir, na esperança de nos encontrarmos. Viaja-se acordado, ou a dormir. Viaja-se para aprender e para ensinar. Viaja-se num paquete de luxo, ou numa atulhada carruagem de metro.

Viaja-se por tudo, ou por nada, mas viaja-se. Viaja-se até no sofá, à boleia de livros, de filmes, de conversas, mas viaja-se.

Conforme registos, que chegaram aos nossos dias, a raça humana, por uma questão de sobrevivência, e à semelhança de outros animais, foi durante muito tempo, nómada.

Com a descoberta do fogo e o desenvolvimento de utensílios de caça, o Homem, aprendeu a dominar outras espécies. Esta conquista permitiu que se fixasse por períodos cada vez mais longos, até que se tornou sedentário.

Viajar foi, durante muitos séculos, tarefa de difícil logística e, por isso, desgastante, mas eis que tudo muda.

A constante procura de melhores condições de vida, as ‘ofertas’ de viagens mais fáceis e economicamente mais acessíveis, foram fatores que contribuíram para a mudança de paradigma. A movimentação dos povos, tornou-se uma constante, não só dentro do seu país, mas cada vez mais, entre diferentes países, entre diferentes continentes. Caíram estrondosamente as fronteiras e com elas, vieram novas oportunidades, até então impensáveis.

Toma-se o pequeno almoço em Lisboa e bebe-se um aperitivo em São Francisco. Vai-se a Paris assistir a uma conferencia e regressa-se a casa, para dormir.

Os estudantes de Erasmus. Os trabalhadores que escolhem exercer profissão, a milhares de quilómetros de casa. Os casais formados por pessoas de diferentes nacionalidades.

Há um vai e vem constante, das gentes que enche os aeroportos. O fervilhar de vidas, em constante movimento. O cruzar de histórias anónimas. Histórias de cada um, tão diferentes e tão iguais. Sonhos e saudades. Medos e expetativas. Lágrimas e sorrisos e os abraços de quem chega, de quem parte…sempre os abraços.

Confesso-vos que a minha trajetória de vida, no que às viagens, respeita, tem acompanhado a história da Humanidade. Durante anos, o meu mundo era o lugar onde vivia. Um espaço pequeno, interrompido no mês de agosto pela viagem à ‘terra’. Malas e sacos que nos acompanham no percurso interminável de comboio, até Aveiro. Férias de verão tão desejadas, sempre sombreadas pelo nevoeiro que nos tirava o sol, na praia da Barra. A casa dos avós que se enchia, mas onde todos cabíamos sem pestanejar. Ficaram recordações doces destes tempos simples, que quero guardar.

E os piqueniques ao domingo, na Serra de Sintra, na mata de São domingos. As visitas ao Jardim Zoológico. Tudo de comboio, claro está.

Era eu já bem crescida, quando se juntou à família o ‘carocha’, verde escuro, com um ‘90’ escarrapachado na traseira, a lembrar que o Pai, era maçarico na arte de conduzir. Uma excitação para todos. As viagens começaram então a ser mais frequentes. A Mãe queria levar tudo. Tudo e mais alguma coisa, entenda-se. O Pai a respingar ruidosamente, enquanto tentava ocupar cada espaço, da minúscula bagageira. Mas lá íamos, Pai, Mãe, Avô, Avó, eu o mano, tudo no pequeno carro.

Foi dessa altura, a minha primeira ‘internacionalização’. Badajoz!

E no regresso, o Volkswagen voltava ainda mais carregado. Os pirex, os caramelos e outras novidades que ainda não tinham chegado a Portugal.

E o champô de litro que nos acompanhava, para viagens de 2 dias? Memórias que hoje nos fazem rir.

Gosto de cidades cosmopolitas, de me perder nas ruas, de me misturar com quem lá vive, de lhes cuscar mercados e feiras. Gosto de me desafiar nas gastronomias locais. Sentir a energia de cada lugar, respirar-lhe a luz, inspirar-lhe os aromas, admirar os artistas de rua.

Pisar lugares emblemáticos, rodear-me de muitas línguas, de muitas mais tradições, costumes, crenças e religiões. O comércio local, o respeito, o sorriso inesperado, expetativas.

Sou feliz no meio de gente anónima e quero lá saber, do que nos tentam vender sobre racismo ou xenofobia. O ser humano por natureza é tolerante, lamentavelmente querem fazer-nos parecer o contrário. Tentam moldar-nos comportamentos, em nome de interesses maléficos, mas que importa, se temos a nossa essência?

O prazer que sinto, quando num final de tarde me sento, numa qualquer praça a saborear um vinho local, não tem preço. Descansam-se as pernas, aconchegam-se as bolhas dos pés, com pensos rápidos e apreendem-se novos mundos.

E assim, vamos ficando mais ricos, mais sábios. Arquivamos memórias, que trazemos nas fotos, que trazemos, coladas ao coração.

E assim em cada viagem, vamos buscar mais vontade de viajar e a lista de lugares a visitar em vez de encolher, cresce, cresce sem fim. É que queremos voltar, mas, e o tanto que há ainda para conhecer?

Tenho-me apaixonado por muitos dos lugares que visitei. Guardo carinho por pequenos detalhes…

Viver confinado a um lugar, limita-nos na oportunidade de procurar, o que realmente nos realiza.

Ai a excitação da partida. Aquele nervoso miudinho, o último xixi antes do embarque…

Sonho viajar mundo fora. Viajar sem descanso, até encontrar o meu lar. Sim, porque nada me garante, que aqui onde vivo, é esse lugar. Desejo para mim, um cantinho onde pudesse andar de calções e chinelos o ano inteiro e lá, seja onde for, partilhar tudo o que sei e continuar a aprender.

Tenho tantas boas recordações! Como poderei esquecer, por exemplo, o sol da meia-noite? Ou a visita a um glaciar? Ou o mar de água quente e verde-esmeralda da Riviera Maia? Ou a subida à Torre Eiffel?

E o por do sol de Odeceixe? Um momento tão intenso, uma energia tão boa, que me deixa com lágrimas de gratidão.

Amesterdão, recortada por canais, as suas casas esguias, as janelas imensas sem cortinas, o corrupio nas ruas. Saudades boas.

As esplanadas junto ao Sena, o Douro, os socalcos e as suas pontes, os mercados de Marraquexe, as memórias de guerras recentes, nas ruas de Berlim, as temperaturas negativas de Mont Blanc, Innsbruck e as suas românticas estancias de desportos de inverno, as viagens de comboios pelos alpes suíços, o espelho feito de Tejo em Lisboa, a ilha da Armona ao largo de Olhão, o riquíssimo património arquitetónico de Praga, os sonoros bares de Dublin, os incríveis parques de Londres, as frenéticas ruas de Roma, os ‘pintxos’ de Bilbao…

As viagens planeadas, quase prestes a acontecerem e inesperadamente adiadas, Budapeste, Viena, Varsóvia, Cracóvia…

Escrevo e viajo, viajo e escrevo, um ciclo que não quero quebrar. Um privilégio que me sacia a sede conhecer, de aprender.

Sentir que faço parte deste Todo, faz-me ter vontade de partir, mal acabo de chegar. Talvez se justifique assim, a manifesta resistência que tenho, em desfazer a mala.

Pertencemos ao mundo, não somos de nenhum lugar. Somos pequenos e ao mesmo tempo gigantes. Podemos abraçar o infinito. E cada viagem acrescenta-nos novos horizontes.

Afinal viver, é por si só uma viagem, a nossa viagem. A nossa janela, lugar único, de perspetivas singulares, por onde nos entra a luz.

Somos viajantes, por mais que alguns, digam o contrário. Só ainda não percebi, se partimos de itinerário já traçado, ou se, pelo contrário, vamos definindo o trajeto, com cada decisão que tomamos.

Viajar é investir na nossa felicidade. É o dinheiro que gastamos em viagens, que realmente nos torna mais ricos.

– O que gostas de fazer?

– Viajar.

-E o que fazes, quando não estás a viajar?

– Planeio Viagens. Glasgow, Edimburgo, Acapulco, Nova York, Tailândia, Camboja, Vietnam…Ilhas Gregas…

Certo dia, estava eu acabadinha de ficar desempregada, alguém me disse: vai planear a tua viagem de sonho e eu, ainda meio trôpega, a sentir-me sem chão, achei aquela ideia disparatada, sem nexo. Logo agora, sem um ordenado, quero lá eu pensar em viagens. Dias mais tarde, contrariei-me e comecei a pensar baixinho, numa próxima viagem e então percebi. Fazia afinal, todo o sentido.

Planear uma viagem, é balsamo que nos amortece a dor e sim, se este é um momento inesperadamente difícil, vamos lá, devemo-nos isso. É imperativo não parar de sonhar.

Onde vai ser a tua próxima viagem?

Não conseguimos ler muitos livros ao mesmo tempo e fixar-lhes cada frase, cada virgula, mas podemos sempre viajar.

” Não são as pessoas que fazem as viagens, mas sim as viagens que fazem as pessoas”

John Steinbeck

Nota. Este artigo não contempla a situação de pandemia que estamos a viver, dado o enorme grau de incerteza envolvido. Tudo o que pudesse ser dito, seria pura especulação, porque ninguém verdadeiramente consegue prever o rumo da sociedade. Escrevo sobre a vida, tal como a conhecemos, até hoje.

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