Esta obra clássica da literatura recebeu uma nova adaptação, mais fresca e jovial pela realizadora Greta Gerwig. Uma visão feminina era tudo o que mais precisávamos para este filme.
“As Mulherzinhas” surgiu em 1868 pela imaginação de Louisa May Alcott, ou melhor, esta é uma semi-biografia, com personagens fictícias, inspirada na sua própria vida. Nesta obra intemporal e moderna para a época, reflecte com transparência o papel das mulheres na sociedade. Transformou-se nas suas vozes. “Mulherzinhas” aborda a história de quatro irmãs – Jo, Meg, Beth e Amy, onde juntas tentam sobreviver a um período difícil da História Americana, a Guerra Civil (1861 – 1865). Este é um contexto necessário para compreendermos a generosidade desta família, guiadas pela sensatez da mãe. Marmee (Laura Dern) educa sozinha as filhas, enquanto a figura paternal luta na guerra. Apesar dos tempos difíceis, escreve sempre uma carta às suas filhas, assinando sempre “com muito amor para as minhas mulherzinhas”.
A narrativa não é abordada de forma linear. Greta Gerwig fez questão disso. Esta é uma nova adaptação, onde através de flashbacks ficamos a conhecer o passado e o presente da família March. Uma abordagem mais cativante para motivar o público. Tornando este filme de época mais acessível para todos. A protagonista da história é Jo, considerada como o ego real da própria escritora Louisa May Alcott. Com personalidade determinada e independente, Jo não se enquadra no quadro perfeito de mulher da altura. Sonha ser escritora e viver nos seus próprios termos. Triunfar num mundo de homens, inconformada com as leis sociais impostas às mulheres. Atualmente vive em Nova Iorque, mas uma carta fá-la voltar a casa.
Voltamos no tempo 7 anos. Estamos em Concord, Massachusetts na casa da família March. Conhecemos melhor as quatro adolescentes irmãs de classe média. Além de Jo, temos a sonhadora Meg, que ambiciona ser bela e casar; a calma e meiga Beth que adora a música e Amy a mais nova, muito emotiva e caprichosa. Com personalidades bastante diferentes, é interessante ver o crescimento de cada uma destas personagens no decorrer da narrativa. As suas ações perante as várias situações do dia-a-dia são degraus que vão ultrapassando e tornando os seus sonhos realidade.

Com um total de 6 Óscares em nomeação, incluindo Melhor Filme, Melhor Banda Sonora, Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Guarda-Roupa, também estão nomeadas na categoria para Melhores Atrizes – Principal e Secundária. Saoirse Ronan é a escolhida da realizadora. Ambas já trabalharam juntas no filme Lady Bird que também esteve nomeado aos Óscares em 2018. Saoirse é uma excelente atriz e prova disso tem sido os filmes que tem participado. Assume bem o protagonismo e esta é já a sua quarta nomeação ao Óscar.
Uma surpresa foi a jovem Florence Pugh que se destaca maravilhosamente neste filme. 2019 foi sem dúvida o seu ano, depois de participações em “Uma Família no Ringue“, e “Midsommar” conseguiu várias nomeações aos prémios com “Mulherzinhas“. Além disso este ano vai participar em “Viúva Negra” que estreia em maio. No elenco ainda marcam presença Emma Watson, Timothée Chalamet (Chama-me pelo teu nome), Laura Dern, Eliza Scanlen (Sharp Objects) e Meryl Streep. Engraçado pensar que, apesar de esta ser uma história tipicamente americana, o seu principal elenco não é. Todas as irmãs são inglesas, excepto Eliza, que é australiana. Em algumas cenas mais tensas, Saoirse não conseguiu esconder o seu sotaque irlandês, esta foi apenas uma pequena referência. “Mulherzinhas” ,nesta edição aos Óscares, conseguiu apenas o de Melhor Guarda-Roupa.
Concluindo, este é um filme que aquece o coração e apresenta mais um trabalho brilhante de Greta Gerwig como realizadora. Numa indústria saturada de homens na chefia, Gerwig destaca-se na multidão. Apesar de estar a competir com o marido, Noah Baumbach, em “Marriage Story“, para o prémio de Melhor Filme e Melhor Realização. Nenhum ganhou, no entanto, ficou uma excelente nova adaptação do clássico de literatura e que Louisa May Alcott deveria ficar muito orgulhosa pelo resultado.