Encontro-me, neste preciso momento, no meio de uma batalha. Escrevo num Sábado e, desde que mudei para esta casa, tenho sempre a esperança de ter um fim-de-semana tranquilo. Que luta travo, essa é tão absurda que devia até ter vergonha de vos dizer, mas, posto que não tenho vergonha de nada, é com deleite que trago este relato até vós (os que estiverem para aí virados. Os outros podem desistir já).
Vivo num bairro simpático, num apartamento pequenito, onde sou muito feliz com o meu gato. No início, tinha começado a trabalhar num sítio bastante agradável, a fazer coisas que gostava e tudo corria bem. Até que comecei a ouvir os vizinhos. Constantemente, desde as horas mais absurdas até às horas mais implantáveis. Lá me adaptei ao latir dos cães (porque são cães e merecem, mesmo que sejam caniches histéricos com acesos de raiva), mas, porra… Gritaria hardcore e as escolhas musicais atingem-me como uma facada bem no centro do córtex cerebral.
Ao contrário do que possa aparentar – e ser, mas lá a vida me teceu o feitio, que, apesar de tudo, continua a ser mau – a minha primeira abordagem foi bastante diplomática, tendo falado algumas vezes com os vizinhos sobre as suas tentativas tragicamente cómicas de tentar ser DJ. Não me tomem como velha resmungona dos gatos – não sou velha. Quando se chega a casa do trabalho, a última coisa que desejo é rebentar com a minha réstia de sanidade com tentativas frustradas de encaixar beats no ritmo E MESMO ASSIM NÃO SER CAPAZ! Este é só um caso. O outro é das meninas bem, que me obrigam a raspar tudo o que simplesmente abomino musicalmente, uma completa afronta a Apolo – falo de Regatton e outras com idêntico grau de complexidade musical.
Desengane-se quem julga que sou intolerante. Muitas foram as horas de completo sofrimento e horror trancada no quarto com protectores auriculares que, eventualmente, me vi obrigada a comprar. Para me conseguir abstrair do ruído exterior de forma a conseguir escrever, comecei a colocar música alto, criando uma barreira sonora. Género “fight fire with fire”. E resultou. Quanto à gritaria, bom… Em lutas de gatas nunca metes a mão ou sais arranhado.
Hoje, às 8h30, acordei de rompante com a boa disposição da malta que nunca corresponderá à minha, porque a um Sábado de manhã quero ganhar musgo entre os lençóis até acordar com dores de cabeça e olhos papudos. Eram 18h (cerca de 10 horas de penitência), coloquei um álbum antigo que me é muito querido e que funciona como grito de guerra em muitas coisas que faço – falo do “Roots”, dos Sepultura. Imagino que terão ido todos passear os cães, pois agora gozo de um silêncio sepulcral, o que era precisamente por isto que ansiava desde que obrigaram a comportar como uma adolescente revoltada.