Terapia ancestral

O escritor rascunha-se muito cedo. A observação metódica fomenta a imaginação, a velocidade do pensamento, o interesse pelo conhecido e o ainda maior interesse pelo desconhecido. O mundo que nos rodeia é apelativo, cheio de sons, de cores, de odores e de paladares impossíveis de serem ignoradas. O escritor cheira as pistas, rodeando o paladar de paletas de interesses, em tudo diferentes e em tudo múltiplos.

Anotar o momento, a sensação, o pensamento, torna-se importante e impossível de não lhe dar continuidade. É um apelo constante que motiva e alimenta o imaginário, tão forte que funciona como se de um magneto se tratasse. A ideia vai nascendo, o pensamento vai trabalhando e a mente dispara. É a rapidez da luz, do conhecimento, a iluminação do ainda não construído.

Perto, longe, tanto faz, não tem importância alguma desde que seja estabelecida a comunicação e o ensejo da escrita. Ela começa com alguma timidez, pensando talvez, que não é o caminho certo, avança de modo trôpego, resvalando em cada frase, olhando cautelosamente até chegar ao parágrafo. Várias palavras se juntam, encontram um ponto comum, uma relação que se estabelece de modo espontâneo, criando o início de algo que vai crescendo, ganhando forma e, quando se sente confiante, instala-se e espraia-se, deleitando a imaginação, flutuando no espaço voador de quem vê além da escrita.

O dia começa, quando há algo de importante a anotar, quando se abre o olho da criatividade e se entende que o que ali está é muito mais do que qualquer um vê. É uma relação íntima com o eu, um estreitamento de laços peculiar. Sentir é estar vivo, é saborear cada letra, cada ponto, cada sinal gráfico que dança no papel, no écran, na tela, onde quer que seja.

Então, a escrita sai livre e solta como se de aromas fosse feita, leve e em ares de satisfação que se deleitam em letras, linhas, palavras, folhas, telas em todos os suportes que conseguem comportar mensagens que o íntimo de quem escreve vai conseguindo libertar.

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