Actualmente, a maioria das músicas que se encontram no Top do Itunes são criadas através de colaborações entre produtores e escritores de topo, como Ester Dean, Lana Del Rey, Bruno Mars ou Benny Blanco. Músicas como Firework, S&M, We R Who R, Dynamite, On the Floor e Give Me Everything catapultaram alguns dos mais conhecidos escritores pop para as luzes da ribalta e tornaram-nos nos mais requisitados pela realeza do Pop Mundial. O processo começa com os produtores a comporem a progressão dos acordes, a programarem as batidas e a arranjarem os sintetizadores ou os sons de instrumentais construídos a partir do computador. Os escritores criam as primeiras melodias, as letras e os (extremamente importantes) ganchos, que são conhecidos por serem versos que prendem o ouvinte à música. “Já não é suficiente ter apenas um gancho”, explica Jay Brown, presidente da Roc Nation. “É necessário ter um gancho na intro, um gancho no pré-refrão, um gancho no refrão e um gancho na ponte.” A razão desta estrutura deve-se ao facto da “maioria das pessoas dar, em média, apenas sete segundos às músicas transmitidas na rádio antes de mudarem de estação, sendo necessário prender a sua atenção com um gancho.”
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O número de produtores e de escritores de topo a desenvolverem os êxitos da actualidade é muito reduzido, o que explica as semelhanças entre todos os êxitos da actualidade. Os produtores, por norma, são do sexo masculino – Max Martin, Dr. Luke, David Guetta, Timbaland, Stargate, Mark Ronson, enquanto que os escritores costumam ser mulheres (Lana Del Rey, Skylar Grey e Bonnie Mckee), apesar de existirem algumas excepções. As sessões criativas são comandadas pelos produtores, que também exercem o cargo de Directores Criativos, mas são os escritores que criam aquele brilho especial, aquela letra que nos conquista imediatamente e que irá tornar a música num verdadeiro êxito, sendo que esta é a tarefa mais difícil de todo o processo criativo. Eg White, vencedor de dois prémios Ivor Novello, subscreve à teoria da “Máquina de Lavar” associada à escrita de música, que se baseia no facto das músicas serem, muitas vezes, compostas de partes de letras que não chegaram a ser utilizadas. “Por norma, começo por mostrar umas quantas músicas que já tenha gravado e discuto-as com o produtor: necessitamos da batida daquela música e a fragilidade da outra. Tentamos manter o processo o mais livre possível, experimentando as nossas ideias iniciais com vários géneros de música, misturando-os e tentando criar algo diferente. Se só colocarmos apenas um ingrediente na máquina de lavar, só iremos conseguir criar uma única coisa, mas, se colocarmos duas ou três cores na máquina, quem é que consegue saber quais serão as cores que podem emergir dessa mistura? A música Pop é construída através de outras músicas Pop.”
Ester Dean é conhecida pelas suas letras repletas de ganchos contagiantes, que conseguem criar sensações no ouvinte, através da batida e da sonoridade da música. As suas letras aparentam ser mais batidas transformadas em palavras do que letras de música e, em vez de comunicarem significado, transmitem sensações e expressam atitude. De entre os melhores ganchos que escreveu encontram-se três dos maiores êxitos de Rihanna – Rude Boy (“Come on, Rude Boy, boy, can you get it up/ Come on, Rude Boy, boy, is you big enough?”), S&M (“Na-na-na-na COME ON”) e What’s My Name (“Oh, na-na, what’s my name?”). Quando Dean se encontra no estúdio a gravar demos com os produtores, como o duo Stargate, ela ouve a música por uns segundos e usa apontamentos que tem no seu Blackberry referentes a frases que ela copiou de revistas e de programas de televisão – “life in the fast lane”, “crying shame”, “high and might”, “mirrors don’t lie” e “don’t let them see you cry” são alguns exemplos. Se ela escrever a letra de forma convencional, tentando criar uma letra inteligente e com significado, as palavras não se iriam ajustar com tanta fluidez à batida. Desta forma, não existe a preocupação com os versos, ou com o refrão, existe apenas a preocupação com a construção de partes melódicas e rítmicas diferentes, para que, em apenas uns minutos, a canção comece a ganhar forma, com todos os elementos necessários (uma intro, uma estrofe, um pré-refrão, um refrão e uma ponte entre todos os elementos). Brian Higgins, o escritor e produtor que tornou os Xenomania no maior grupo de produção no Reino Unido, segue um processo criativo um pouco diferente, no qual separa todos os processos de composição (música, melodia e letra). “A música é parte não-vocal do processo, a melodia é a harmonia sob a qual a letra irá ser escrita e a letra é o elemento óbvio. Antes de começarmos a desenvolver a letra, nós necessitamos de acreditar profundamente de que a música é um êxito e que os primeiros dez a quinze segundos conseguem prender a atenção do ouvinte. Não existe qualquer razão para se criar uma letra tendo como base uma música mediana, porque a experiência demonstrou-me que, mesmo com uma letra estupenda, a versão final da música iria continuar a ser mediana.”
[youtube id=”CvBfHwUxHIk” width=”620″ height=”360″]O autor do livro Future Hit DNA, Jay Frank, afirma que o consumo de música na Era Digital mudou as características essenciais para a criação de um êxito. Segundo os seus estudos, as pessoas começam a descobrir as músicas não na rádio, mas na Internet, sendo, portanto, necessárias intros mais curtas. Jay Frank usou, recentemente, o exemplo de Someone Like You, de Adele, para comprovar que a sua teoria está correcta. “A intro tem cinco segundos, tem um tempo compassado (105 bpm), contém muitos versos repetidos, num contraste entre um refrão e um contra-refrão, na sua ponte existe uma suave mudança na progressão dos acordes dos instrumentos de cordas e contém, ao longo da sua estrutura, várias alterações dinâmicas”, exemplifica. Eg White, um dos compositores mais famosos no Reino Unido, acrescenta ainda que, por causa desta alteração no consumo de música, a estrutura dos álbuns também está a ser alvo de alterações. “Ninguém quer músicas só para comporem um álbum, querem apenas singles para aparecerem nos Tops. Ninguém quer uma belíssima balada para ser a música número 11 do álbum, mas que todos os que comprassem o CD iriam adorar. Toda a construção criativa gira em torno do número de vezes em que a música é ouvida no iPod, ou pelo número de downloads que tem no iTunes. Um álbum inteiro já não reflecte os desejos do consumidor: já não existe conteúdo suficiente nisso.”
A grande maioria das músicas que foi criada na última década reflecte o efeito que a tecnologia tem tido no dia-a-dia das pessoas. Se olharmos para as tabelas de música Pop de vários países, é possível encontrar o grande hino deste Verão, Call Me Maybe, de Carly Rae Jepsen, ou Somebody that I Used to Know, de Gotye, ou ainda We Are Young, dos Fun, em todas elas. Conceptualmente, estas três músicas utilizam temas muito abordados nas músicas deste género. We Are Youg é uma música que relata o quão bom é ser jovem e sair à noite com os amigos, enquanto que Somebody that I Used to Know é referente a um relacionamento que chega ao fim de uma forma muito má e Call Me Maybe é a tradicional música sobre um engate de uma noite. Fun, Gotye e Jepsen conseguiram atingir o êxito nos tops de vários países com narrativas simples, que se relacionam com os ouvintes de música pop, desde a criação deste género musical. Esta característica de pintar uma imagem com um enredo generalista é essencial para criar uma música memorável, longe das criações que vivem apenas de batidas contagiantes e ganchos repetitivos.
[youtube id=”XErWMvh3xfg” width=”620″ height=”360″]Existe um elemento que todos os escritores de música têm em comum: todos eles têm orgulho nas letras que escrevem. Muitas músicas são escritas com os mesmos ingredientes – um gancho que prende a atenção, um refrão repetitivo e acordes básicos – que os grandes sucessos da última década tanto usaram, mas que não conseguiram atingir o sucesso que Britney Spears ou Rihanna atingiram. Qual será, então, o segredo de um êxito? Uns pensam que as letras deveriam de revelar alguma novidade sobre a condição humana, outros afirmam que uma música deve ter, pelo menos, cinco ganchos e há, ainda, quem ache que são as batidas pulsantes o verdadeiro segredo. Porém, a verdade é que, se houvesse uma fórmula secreta, artistas como os Abba ou a Jessica Simpson ainda estariam a conquistar todos os tops, em vários países.