Rolls-Royce Cullinan

O Cullinan foi o maior diamante em bruto alguma vez descoberto e, antes de ser cortado pesava 3,106.75 carates ou 621.35 gramas. Foi partido em 9 grandes bocados, sendo os maiores o Cullinan I e o Cullinan II que adornam, respectivamente, o Ceptro com Cruz do Soberano e a Coroa de Estado Imperial das Joias da Coroa Britânica. Com um pedigree destes, só há uma marca no mundo que poderia chamar Cullinan a um dos seus modelos. Senhoras e Senhores, apresento-vos o Rolls-Royce Cullinan.

Desde que o Ghost foi apresentado, em 2009, que corriam rumores de que a marca de Goodwood poderia aventurar-se no campo dos SUV, com a confirmação oficial a chegar em Setembro de 2015, com o chefe de design a afirmar que a marca andava “a mexiricar com a ideia”, sendo pouco tempo depois confirmado pelo presidente da Rolls-Royce de que o modelo seria apresentado em 2018. Em 2016, entrou em fase de testes e vários protótipos foram vistos em testes na neve e no deserto. E durante 2 anos pouco ou nada se soube. Avancemos, então, para 2018, quando somos informados que o Cullinan iria manter o seu nome de código enquanto modelo.

Comecemos pela mecânica, algo estranho num Rolls-Royce. O Cullinan apresenta o mesmo motor que o seu irmão Phantom VIII, ou seja, o enorme bloco V12 biturbo com 6.75 litros de capacidade e uns nada aristocráticos 570 cavalos de potência, que estão disponíveis desde as 1600 rpm, e que surge unido a uma caixa de 8 velocidades com controlo por GPS. Até aqui tudo bem. Mas estamos a falar de um SUV, perdão um High Bodied Vehicle, como a marca de Goodwood lhe chama. Para além do já esperado sistema de tracção às 4 rodas e do sistema de 4 rodas direcionais o Cullinan apresenta uma estreia: uma suspensão pneumática com capacidade de se auto nivelar, e que irá empurrar para baixo qualquer roda que sinta perder tracção. Isto tudo para tornar o Cullinan mais ágil, uma vez que estamos a falar de um peso de 2660 kg. Já o Architecture of Luxury, que é o nome dado ao chassis, é baseado e é 30% mais rígido do que no Phantom VIII. Em termos de performance sabemos apenas que está “governado” até aos 250 km/h. Não que o resto interesse, note-se.

No que ao design diz respeito, o Cullinan é muito parecido com o irmão. A sensação que fica é que alguém pegou num Phantom, encolheu-lhe o comprimento, aumentou-lhe a altura, alargou-o, endireitou umas linhas e pronto está feito. Não me estou a queixar, note-se. A Rolls-Royce, simplesmente, não mexeu onde não era preciso. Ao mesmo tempo as diferenças são grandes. Os 5.3 metros de comprimento, os 2.1 de largura e os 1.8 de altura não enganam: é um carro que não pede, exige, ser usado fora de estrada. É também um carro que comanda uma presença como nenhum outro, e que faz que com quer que vá ao volante, se sinta como dono e senhor da estrada. No fundo, é quase como guiar a Abadia de Westminster.

No entanto, o que interessa num Rolls-Royce não é a mecânica, nem o design, é o luxo. E como seria de esperar o Cullinan abarrota luxo. Comecemos não no interior, mas na mala, com que será certamente um extra pedido em todos os exemplares: a Viewing Suite. O conceito não vai além de duas cadeiras forradas a pele e uma pequena mesa, que se dobram e se guardam por baixo da mala. Porém, a ideia por detrás do conceito é espantosa: levar um carro ao topo de um qualquer monte e ficar a ver o pôr-do-sol, ou assistir a um qualquer percurso de concurso completo a partir da mala do seu Rolls-Royce. O outro grande destaque também esta na mala. Há um vidro a separar o compartimento da mala do resto do interior do Cullinan, tornando-o num carro altamente (para não dizer completamente) insonorizado.

Agora que já despachámos as novidades vamos ao interior propriamente dito: luxo. A pele, o metal e a madeira abundam. Os pequenos detalhes já característicos da marca também lá estão, como os botões para fechar as portas, as mesas de picnic ou os chapéus de chuva embutidos na porta traseira, que fiel à tradição mais recente, abrem para trás quase a 90 graus. E depois começamos a perceber o Cullinan. Enquanto o objectivo do Phantom é esconder os seus passageiros, o do Cullinan é expô-los, pedindo que a vista seja apreciada, contribuindo para esse pedido as enormes janelas e o tecto panorâmico. O “The Gallery”, apresentado no Phantom, desaparece e dá lugar a um tablier mais sóbrio. De serie o Cullinan vem com três lugares atrás, mas é possível mandar vir com duas poltronas individuais. E, fiel à tradição, se achar que o seu Rolls-Royce é pouco exclusivo, por uma módica quantia, a marca de Goodwood irá acomodar qualquer pedido seu.

Ora, eu tenho estado para aqui a falar sobre o facto de este novo modelo da Rolls-Royce ser um veículo todo o terreno e por aí além, mas há uma coisa que ainda não disse. Como é que o Cullinan faz isso. Bem, é simples. Na consola central, há um botão de que diz “off-road”. Carrega-se nele, escolhemos um dos três modos possíveis, e vamos embora. A suspensão e o computador tratam do resto e ninguém precisa de se incomodar mais.

Falemos agora da concorrência, ou da ideia dela. Nos dias antes de ser apresentado, a Rolls publicou, quase diariamente uma série de filmes a que chamou “The Final Challenge” (parem de ler aqui e vão perder meia hora a ver esses filmes no YouTube, que vale a pena), onde mostrava as capacidades de todo-o-terreno do Cullinan nas Terras Altas da Escócia, no deserto dos Emirados Árabes Unidos e no deserto e nos terrenos áridos dos EUA. Se os vídeos forem fiéis à realidade e estamos a falar da Rolls-Royce, portanto, é seguro partir do princípio que são, o Bentley Bentayga e o Range Rover têm no Cullinan um enorme problema e um adversário de respeito.

Fica a faltar aquele pequenino detalhe que é o preço. Em Portugal, será calmamente a norte dos 400 mil euros, mas, para quem irá comprar um, isso são certamente trocos. A minha sugestão? Pegue no Cullinan e vá descobrir a Europa, mas pelas estradas de terra batida.

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