Obama e o Médio Oriente: várias mudanças e um único objetivo

Um novo capítulo de relações entre os Estados Unidos da América e o Médio Oriente foi marcado pelo presidente dos EUA, Barack Obama, em 2011. “De praça em praça, cidade em cidade, país em país, o povo ergueu-se para reivindicar os seus direitos humanos básicos. Sabemos que o nosso futuro [dos EUA] está ligado a essa região [Médio Oriente] pelas forças de economia e de segurança, história e fé”, afirmou Obama.

Após várias décadas de conflitos e de tentativas de mudança da política externa, assistimos, em 2011, a este discurso sobre as relações dos EUA com o Oriente Médio e, em 2013, Barack Obama promete uma aliança “eterna” com Israel. Porém, o que significa esta aliança entre os EUA e Israel para Barack Obama? Quais são os planos de Obama para o Médio Oriente? O presidente incentivava, ao longo do referido discurso de 19 de Maio de 2011, a promoção de uma reforma e transição para a democracia no Médio Oriente, apelando a uma Palestina viável e a uma Israel segura. Foi apontado, ainda, o não-uso da violência e da repressão contra o povo da região, o apoio à liberdade de expressão, de reunião pacífica, de religião, igualdade entre homens e mulheres, e, finalmente, o apoio a reformas políticas e económicas no Oriente Médio e Norte da África.

Entre as preocupações do presidente democrata, à parte da crise e da recessão económica de proporções inéditas, os conflitos no Oriente Médio ocupam um lugar privilegiado. Depois da promessa eleitoral de terminar o conflito no Iraque, com a retirada de tropas norte-americanas, no polémico discurso sobre as relações dos EUA com o Oriente Médio, Obama defendeu a criação de um Estado palestino de acordo com as fronteiras anteriores à Guerra dos Seis Dias, em 1967, ponto que não agradou ao aliado Israel.

Num momento em que os EUA estão a ponto de alcançar a auto-suficiência energética, “o presidente Obama dispõe-se a mudar completamente de estratégia a nível internacional, apesar da oposição que o seu projecto suscitou no seio da sua própria administração”, afirma o presidente fundador da Rede Voltaire, Thierry Meyssan. Esta nova estratégia, surgiria, segundo o presidente dos EUA, como forma de reparação do malefício causado pela reacção aos ataques de 11 de Setembro de 2001 e pelas relações dos Estados Unidos de George W. Bush com o mundo muçulmano, especialmente com os árabes. No entanto, “Barack Obama aceita a mais importante das premissas que orientaram a política externa de George Bush: a falência do status quo e a necessidade de modificar a carta política do Médio Oriente. Aceita que a democratização dos regimes autocráticos da região é essencial para combater o jihadismo, como também acredita que os regimes democráticos não se guerreiam, pelo que a democratização se afigura como uma condição para assegurar a pacificação da região”, dizem os investigadores no Instituto da Defesa Nacional, Vasco Rato e Diana Soller. Actualmente, observamos uma estratégia com vista à criação de condições que possam sustentar processos de democratização, particularmente a realização de eleições pluralistas e a construção de instituições credíveis. Objectivo que levou Washington a desistir de um programa de armas nucleares ilícitas, à compensação das vítimas do bombardeiro Pan Am de 1988, o encerramento da embaixada da Líbia em Washington, que congelou muitos dos seus activos, e a promoção de sanções internacionais.

No entanto, os planos de Obama para a diplomacia no Oriente Médio vêm-se constantemente ameaçados. Em 2012, o conflito em Gaza ameaçava “os planos da administração Obama para relançar a sua diplomacia no Oriente Médio”, explica o redactor dos Los Angeles Times, Paul Richter. Este conflito também criou tensões nas relações dos EUA com a Turquia e prejudicou, ainda, os esforços da administração para ajudar a resolver a guerra civil na Síria. “Com os negociadores a lutar para criar um acordo de ‘cessar-fogo’, os diplomatas e especialistas dizem que a disputa está a prejudicar os esforços da administração para ajudar a resolver a guerra civil na Síria, melhorar as relações com o novo governo do Egipto, apoiar os líderes palestinos moderados e verificar crescentes ambições iranianas.”

Os conflitos continuam presentes e no início de Setembro, o presidente afirmou à Agência France Press que armas químicas sírias são uma ameaça e devem ser combatidas. Neste sentido, a Casa Branca pediu recentemente ao Congresso americano autorização para lançar ataques militares contra a Síria, com o objectivo de permitir ao presidente Barack Obama “deter” e “prevenir” os ataques com armas químicas. “A pressão é crescente para acabar com a sua indecisão sobre a Síria e reafirmar a liderança norte-americana no Oriente Médio, uma região que, para os olhos ocidentais, parece crescer mais caótico e mais ameaçador a cada dia”, afirma o editor assistente do The Guardian, Simon Tisdall. Os Estados Unidos da América têm fornecido ajuda humanitária e pressão diplomática, mas , com o processo diplomático parado, existe espaço para colocar opções na mesa do presidente, como a criação de uma zona de exclusão aérea, ou o uso de artilharia e de depósitos de armas.

As repetidas viagens e conversas com os líderes da região tornaram-se comuns e os obstáculos são constantes. “Washington tem lutado para recuperar a sua influência no Oriente Médio, desde a Primavera Árabe de 2011, quando chegaram ao poder os governos populistas islâmicos que são mais cautelosos com Washington e mais sensíveis à opinião pública pró-palestina”, diz Paul Richter. No entanto, todos os dias, os conflitos desta região afectam a política externa proposta pelo presidente dos EUA.

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