Se fizermos um paralelismo entre os retratos pintados que os grandes artistas nos foram brindando ao longos dos séculos, com as selfies e fotografias de autorretratos que temos atualmente, percebemos que o fundamento de ambos é o mesmo. São um registo de alguém, a imortalização uma pessoa perante determinada situação ou um momento. Sim, podem afirmar os mais puristas que as selfies são o exponente máximo do narcisismo e os retratos valem pelo seu valor inquestionável para a memória coletiva na história do mundo. Os retratos de grandes estadistas, reis, senhores e senhoras importantes da sociedade são manifestações de poder, para deixar visível e bem registado quem manda e quem tem o dinheiro.
Assim como as representações bíblicas, batalhas, conquistas, cidades, paisagens, naturezas mortas e outras representações da vida quotidiana de cada época.
São também um importante legado da memória. Antes de existir a fotografia, o retrato era a impressão da imagem “real” sob tela, a tinta. O real tanto na fotografia como na pintura está dependente da visão do artista que a produz, por isso, será sempre real na medida do possível. Podemos considerar a fotografia mais próxima da realidade, porque vemos a pessoa como ela é, mas também ela é projetada de acordo com objetiva e a sensibilidade do fotografo.
Há um retrato que me surge na memória, sempre que me recordo dos retratos mais famosos da história da humanidade, que é o do Napoleão montado no seu cavalo numa pintura intitulada: “Napoleão cruzando os Alpes” pintada pelo francês Jacques-Louis David. Apesar de ser uma pintura de estilo Neoclássico, vai buscar a inspiração ao Barroco e ao Rococó, estilos que muito aprecio, caracterizados pelo exagero na abundância de detalhes, cores vigorosas e figuras imponentes. Tudo o que Napoleão representa.
Segundo consta, Napoleão era um homem de estatura pequena e, em qualquer pintura em que aparece representado, a perspectiva nunca mostra essa realidade, muito pelo contrário. O que aparece representado em tela é um homem que parece grande, afinal de contas Napoleão foi imperador, um estratega e um vencedor… só poderia ser um homem grande! Mais que não fosse na medida da visão que tinha de si próprio. Tal como a representação de Napoleão, outros retratos procuram apresentar homens e mulheres em poses marcantes, para imortalizar os seus feitos. Outros são simplesmente autorretratos dos seus autores, como tão bem fez Van Gogh ou Velasquez reproduzindo-se no quadro “Las Niñas“.
O retrato mais famoso da humanidade, sem margem para dúvidas, é “A Gioconda” de Leonardo Da Vinci… ninguém sabe quem retrata, mas a figura tem alimentado o imaginário da humanidade desde que se tornou conhecido, milhares de flashes e romarias de visitantes ao Louvre só para ver de perto o minúsculo quadro que é.
Todo e qualquer retrato será sempre um importante registo da história do mundo e uma representação documental fiel da sociedade da sua época, estou em crer que mesmo as selfies…