O relatório elaborado pelo DataReportal[1] indica que existem em Portugal 8,7 milhões de utilizadores de internet e 8,05 milhões de utilizadores de redes sociais digitais. Relativamente às redes sociais digitais, o Facebook tem 5,9 milhões de utilizadores; Youtube 7,43 milhões; Instagram conta com 5,3 milhões de utilizadores e TikTok tem 3,24 milhões de utilizadores; o Twitter cifra-se em 1,9 milhões de utilizadores.
As estatísticas nacionais não destoam do contexto global e é revelador do grau de penetração que as redes sociais digitais têm. Não apenas em aplicações para dispositivos móveis, mas também por figurarem no top-10 de websites usados.
Se tentarmos perceber como as pessoas têm acesso às notícias, perceberemos pelos dados que é através da internet (72%), em detrimento das edições em papel. Este mesmo padrão se repete nos hábitos de leitura dos mais jovens[2], onde 90% referem ler conteúdos digitais (textos, notícias, etc.).
O OBERCOM tem, ainda, um estudo mais aprofundado e permite perceber que para 18 em cada 100 portugueses são as redes sociais a principal fonte de acesso a notícias, com predominância do Facebook (58 em cada 100).
Independentemente da nossa postura relativamente às redes sociais, quer gostemos mais ou não, é um facto que a sua utilização está amplamente disseminada e que tem permitido aproximar pessoas, de um modo que antes seria impensável. Esta caraterística é um aspeto muito importante. Por outro lado, é preciso saber como funcionam as redes sociais e como esse modo de funcionamento pode influenciar a nossa perspetiva sobre diferentes coisas.
As redes sociais funcionam através de algoritmos que, sob o princípio de oferecer um conteúdo personalizado, isto é, apresentar conteúdo que vá ao encontro do perfil e gostos do utilizador, acaba por criar um conjunto de câmaras de eco. Na prática, isto significa que se me interessar muito por um tema, digamos que seja sobre teorias alternativas, existe uma probabilidade muito grande de ser “presenteado” por esse tipo de conteúdos. E é aqui que as coisas se tornam mais nublosas devido ao modo como pensamos e como tendemos a reagir às informações.
Cada pessoa tem a sua opinião e é natural que cada um procure encontrar evidências da validade da sua crença. Este viés da confirmação está mais presente quando selecionamos ou supervalorizamos determinadas evidências que são confirmatórias do que acreditamos serem a verdade e subvalorizamos (algumas vezes até negamos) as informações e evidências que contrariem as nossas opiniões e crenças.
É preciso reconhecer que isto acontece de modo não consciente, portanto, sem nos apercebermos. Por exemplo, se eu acreditar que alguém me engana num jogo de cartas, independentemente de estar ou não, procurarei detalhes no comportamento da outra pessoa jogadora que me confirmem as minhas suspeitas e ignorarei tudo o resto; outro exemplo, é quando consumimos apenas determinado tipo de conteúdos, vídeos, páginas web ou jornais, que se inclinam mais à minha opinião política, ignorando os conteúdos dos outros campos políticos com que não me identifico, criando câmaras de eco.
Estas câmaras de eco são perigosíssimas porque dão a falsa confirmação de verdade, apenas porque muitas pessoas têm a mesma opinião (se todos falam é porque deve ser verdade).
As redes sociais têm a capacidade de, através do seu próprio funcionamento, potenciar este viés de confirmação e câmaras de eco. Se cada vez mais o meio para nos informamos se dá num espaço que filtra, em nome de uma “experiência personalizada”, os conteúdos a que tenho acesso, criando bolhas, a informação que tenho será sempre incompleta. Mais do que incompleta, molda erradamente a nossa perceção sobre a realidade, criando e reproduzindo preconceitos ou estereótipos.
Não se trata de acusar as redes sociais digitais de ferramentas essencialmente más. Como referi, elas possibilitam desvalorizar o elemento geográfico, mas também formas diferentes de comunicação. Contudo, é necessário estarmos mais consciente do modo como a informação me é mostrada e da tendência de procurarmos apenas o que confirme ser a nossa opinião sobre um determinado assunto.
Numa era de pós-verdade, onde o fator veracidade não é o mais valorizado, mas sim as emoções e reações ao que presenciamos, é cada vez mais imperativo estimular a crítica e o uso da dúvida metódica, duvidando de tudo (até do que parece elementar), especialmente das nossas crenças.
[1] Dados referentes a 2023
[2] Estudo-piloto realizado pela Fundação Calouste Gulbenkian juntos de uma amostra de estudantes universitários