Relações humanas e a quarentena

Contam-se pelos dedos das mãos quem me ligou, ouviu e escutou nesta quarentena para saber de mim. Não para eu ouvir, ou ser basicamente um monólogo quando se lembram de mim, mas para também me ouvirem deste lado.

Talvez seja como eu li um dia destes nas redes sociais: “as pessoas revelaram-se”. Ou talvez um pouco como a minha madrinha me disse há uns anos largos ao telefone: “as pessoas de facto não querem saber uns dos outros e do que sentes, querem saber delas!”. Pode ser que sim, pode ser que não.

Já dizia o meu pai sabiamente “tu não tens amigos, tu tens conhecidos”. É um pouco assim neste momento, uma mão cheia de conhecidos no meu Facebook, por exemplo, em que nesta quarentena também me dediquei a eliminar a maioria que serve de “verbo de encher”, ou que estavam ali para me perguntar “estás grávida, Liliana?” sempre que falava no milagre da vida, ou de reprodução humana. Ah, ah, ah pessoas desatentas que não percebem que o milagre da vida, o sexo, está directamente ligado ao meu negócio de freelancer de várias formas e perspectivas. E a lista ainda mais irá baixar.

Importa, pois, fazer a reflexão que são também pelos dedos das mãos os que sabem de mim porque se dão ao trabalho de me conhecer. E não fui eu que mudei, eu continuo a mesma no trato prova disso é que as pessoas que com frequência me procuram “como estás?” e aguardam pela resposta – a isto se chama amizade – continuam lá.

Não invalida que seja sociável, empática, companheira na viagem de tantos, mas do outro lado há zero, vazios, egoísmos, vidas ocupadas…

Importa fazer a reflexão de que também importa o que eu faço por mim que ultimamente tem sido megalómano e se calhar também isso é um problema para muitos, até porque sou muito fora da caixa, completamente (é dos melhores elogios que posso receber). Sou a estranha, a deslocada, a peixe fora da água, pronta a ajudar, mas que pouco a querem ouvir.

Não estou sempre bem, nem feliz, muito menos linda e maravilhosa. Mas sou real e leal a mim mesma. Não preciso de favores, nem de migalhas de amor, ou de conhecidas amizades, preciso de presença real e verdadeira.

O que vos posso aqui dizer como conclusão que chegue também nesta quarentena? Obrigada pelas ausências, silêncios, e pela não procura de mim e de como estava, mas muito obrigada também, pelas poucas e boas surpresas que fui tendo, onde o longe se fez perto, por exemplo. E onde muitas vezes novos estranhos dão-me boas sugestões de algo do que pessoas que me viram crescer, ou mesmo as que me vêm evoluir de repente desapareceram. Ainda bem, a vida encarrega-se que eu tenha os certos e os melhores ao meu lado. Esses, contam-se pelos dedos de uma mão. Grata por isso!

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