Pensando no que escrever neste artigo sobre minorias étnicas, me deparei com o drama das mulheres afegãs. Dizer que elas são uma minoria é um tanto irónico, afinal, elas representam 50% da população do país e, ainda assim, estão prestes a perder seus direitos e sua liberdade, em pleno século XXI.
Com a retomada do poder por parte dos Talibãs em agosto deste ano, tudo aquilo que foi conquistado ao longo dos últimos vinte anos, aproximadamente, pode sofrer um retrocesso. A verdade é que os direitos das mulheres afegãs possuem uma longa trajetória de altos e baixos.
As reivindicações por liberdade e igualdade de gênero no Afeganistão iniciaram já no início do século XX. Mais tarde, o movimento feminista eclodiu em grande parte do mundo. Contudo, o que correu mal para as afegãs? Os homens e suas medidas radicais para limitar a liberdade, o direito e a igualdade numa sociedade onde as mulheres são maioritariamente afetadas.
Entretanto, de 1933 até 1974, escolas femininas foram fundadas, o casamento infantil proibido, e era possível inclusive frequentar a universidade. Em 1964, a mulher passou a ter direito a voto.
Na era comunista, cujo início foi em 1973, os direitos das mulheres continuaram a aumentar, mas não só. Notou-se um aumento também da pobreza e da desigualdade social. Neste período, até 1996, foi armada, por parte dos americanos, uma resistência afegã face aos soviéticos. Com a saída dos mesmos do país, iniciou-se uma guerra civil que culminou na tomada de poder por parte dos Talibãs, de forma que as mulheres sofreram uma perda abrupta de direitos.
Com a coalizão militar dos EUA em 2001, os Talibãs perderam o poder e as mulheres, aos poucos, foram retomando suas antigas conquistas: trabalho, estudos, cargos políticos, cargos públicos, não obrigatoriedade da burca, liberdade de ir e vir, de andarem sozinhas nas ruas, entre tantas outras coisas. Infelizmente, esta liberdade foi efetiva apenas em meios urbanos, onde as estruturas governamentais tinham pleno controle. Nos meios rurais, a influência Talibã continuou a ser sentida. No entanto, era um caminho que estava sendo trilhado.
Em agosto de 2021, a retomada de poder por parte dos Talibãs veio acompanhando, mais uma vez, da perda de direitos das mulheres. Mas até quando? Até quando estas mulheres terão que viver com medo? Até quando estas mulheres viverão presas em vidas que não escolheram levar? A verdade é que os direitos e as conquistas das minorias nunca estão a salvo, não há garantias. A luta pela manutenção de direitos deve ser uma constante.
Desde outubro deste ano as mulheres afegãs se organizam em Cabul e manifestam por direitos, mas também por apoio, da comunidade internacional, da ONU. Em uma das manifestações, havia um cartaz com a seguinte frase: “Por que razão o mundo nos deixa morrer em silêncio?”.
Por que razão o mundo, que tanto opina e julga o médio oriente, seus costumes, sua religião, não consegue parar e escutar o clamor das mulheres afegãs? Até onde essas vozes poderiam chegar se deixássemos os preconceitos de lado e simplesmente escutássemos?
Encerro este artigo com estas reflexões, sem saber como responder estas perguntas e com o coração apertado por saber que é uma verdade. O mundo deixa as mulheres morrerem em silêncio. Não apenas no Afeganistão, mas em todos os cantos. Mas isso já é assunto para outro dia…
Por hoje, desejo que as mulheres afegãs sejam ouvidas, reconhecidas e principalmente, acolhidas.