O outro lado do Atlântico

Enquanto o país assiste ao inevitável colapso social, agudizado pela aparentemente irreversível austeridade, multiplica-se o número de portugueses dispostos a abandonar a pátria lusa em troca da promessa por melhores condições e perspectivas de vida. Durante o último par de anos, o Brasil tem sido um destino cimeiro na lista de opções para a emigração portuguesa.

A proximidade cultural e linguística são factores de somenos importância, considerando o crescimento económico de que tem gozado a terra do Samba. Ao garantir perspectivas de emprego e melhores condições laborais e salariais para os imigrantes, o Brasil tornou-se um dos grandes destinos de eleição para os portugueses.

A corrida aos vistos de trabalho tem-se intensificado ao longo dos últimos anos, particularmente desde que Portugal mergulhou na recessão económica. Aos portugueses, foram já atribuídas mais de 2 400 licenças de trabalho desde o início de 2011, catapultando Portugal para a actual décima segunda posição na lista de nacionalidades imigrantes no Brasil. Estes são, não obstante, números oficiais desfasados da realidade migratória, já que o número de portugueses que, de forma ilegal, residem e trabalham no Brasil é também substancialmente elevado, ainda que dificilmente contabilizado.

A dificuldade em obter o visto de trabalho para trabalhar de forma transparente no Brasil está em contornar aquilo a que se assemelha a um ciclo vicioso; é necessário ter um contrato assinado antes de fazer as malas rumo à América do Sul. Por outro lado, e uma vez lá, sem visto, não há quem ofereça contrato. Nuno de Mello Bello, cônsul geral de Portugal no Rio de Janeiro, admite que a imigração ilegal no Brasil é um “problema”, ao mesmo tempo que aumenta o número de portugueses que recorrem ao consulado na tentativa de concretizar a emigração.

Em Setembro de 2012, estava prevista a realização de uma cimeira bilateral Brasil/Portugal, onde deveria ser ponderada a facilitação para os portugueses conseguirem obterem vistos de trabalho. Em declarações à Lusa, Mello Bello admitiu que seria requisitada maior celeridade na concessão e no tratamento burocrático dos vistos. O colóquio foi entretanto adiado, sem avanço nem previsão de novas datas. Em causa estiveram “incompatibilidades de agenda”, esclareceu à Lusa o Ministério das Relações Exteriores do Brasil.

O crescimento, sem precedentes, do desemprego está no núcleo da emigração portuguesa, uma fragilidade social cada vez mais preocupante para o crescimento e estabilidade do país. Dados recolhidos através do inquérito “Mobilidade Profissional e à Internacionalização do Emprego Jovem”, conduzido por algumas Associações Académicas e de Estudantes do país, demonstram que 69 % dos estudantes tencionam abandonar Portugal, acreditando que não haverá forma de o mercado laboral os absorver.

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