Asteroid City é o nome do mais recente filme de Wes Anderson. O realizador — que se afirmou no mundo do cinema após o sucesso de trabalhos como Grand Budapest Hotel e Fantastic Mr. Fox —, conhecido principalmente pela excêntrica estética visual que todas as suas obras partilham e pela vibrante paleta que adotam, regressa aos cinemas com uma longa-metragem igualmente singular.
O filme decorre numa cidade ficcional situada num deserto norte-americano, por volta da década de 1950, e alterna entre dois planos: o plano da história e o plano dos atores. Tal dinâmica confere à obra um caráter único que evita o aborrecimento dos espectadores, já que Asteroid City é, na verdade, uma história dentro da história, na qual temos frequentemente a oportunidade de ver como esta se desenvolveu.
A longa-metragem tem início com a apresentação dos atores fictícios que darão vida às personagens de Asteroid City — uma obra escrita pelo também fictício dramaturgo Conrad Earp — e prossegue com a apresentação de um ato da peça, interpretada já pelos atores selecionados e num cenário realista. Inicialmente, a combinação de todos estes aspetos contribui para que nos esqueçamos de que o que estamos a observar não é real, mas apenas um filme dentro do filme. Ainda assim, à medida que este se desenrola, vamos presenciando cada vez mais cenas relativas à preparação de Asteroid City, como a audição do ator que interpreta a personagem principal, que reforçam a ideia de que é tudo uma obra de ficção.
O plano da história segue o itinerário de um grupo de jovens — todos estes de extrema inteligência e aspirantes a astrónomos — que, convidados a visitar o observatório existente na região de Asteroid City, presenciam um raro fenómeno que virá a ter consequências a nível global. Para além das dinâmicas entre o pequeno grupo de adolescentes, aborda também as relações entre os pais das personagens, seguindo principalmente o ponto de vista de Augie Steenbeck, um fotógrafo de guerra que lida com a recente perda da esposa e que, ao longo da sua estadia na cidade, acaba por se envolver com a famosa atriz Midge Campbell.
Sendo os trabalhos de Wes Anderson geralmente povoados por uma miríade de personagens únicas, excêntricas e defeituosas, este não é uma exceção: desde as três filhas de Augie até ao dono do hotel em que este fica hospedado, todas cativam os espectadores e têm um momento de destaque. Ademais, o elenco de excelência da longa-metragem — com Jason Schwartzman, Scarlett Johansson, Edward Norton, Maya Hawke, Steve Carell e até mesmo uma breve aparência de Margot Robbie — faz com que a interpretação das personagens seja magistral, tendo cada uma as suas peculiaridades e características distintivas. Para além disso, a presença já constante de certos atores nas películas do diretor — como Tony Revolori, cujo papel nos relembra Zero em Grand Budapest Hotel — transmite uma certa nostalgia e parece, por vezes, uma subtil piada privada entre o realizador e os espectadores fiéis ao seu trabalho.
De forma ainda mais intensa do que as anteriores obras do realizador, Asteroid City reúne as comuns características de um filme realizado por Wes Anderson: a simetria e geometria cinematográfica, as vibrantes cores pastel que conferem à obra um certo caráter retro e o cuidado na organização de todo o cenário — todos aspetos que deixam claro quem o dirigiu — enriquecem a experiência e tornam-na visualmente muito agradável, não existindo um único elemento que pareça deslocado.
Em suma, a mais recente obra de poesia visual de Anderson não fica atrás dos seus sucessos anteriores: com o distinto elenco e a mestria da execução, esta tem o potencial para se tornar mais uma das obras-primas do realizador.