+1 202 555 0180

Have a question, comment, or concern? Our dedicated team of experts is ready to hear and assist you. Reach us through our social media, phone, or live chat.

A laje do Lage

Vários cientistas do futebol defendem que as competições em Portugal não proporcionam bons espectáculos. Não sei a que clubes se referem estes especialistas, mas ao Sport Lisboa e Benfica não será, certamente. Digo isto, apesar de, ao que me dizem, algumas exibições da equipa de futebol do Benfica terem despertado um súbito amor dos seus adeptos pelo emocionante jogo do chinquilho.

Na qualidade de profundo conhecedor desta matéria, posso assegurar ao leitor que o futebol português proporciona mesmo bons espectáculos. Principalmente o Benfica, que o faz de forma brilhante dentro das quatro linhas, ao contrário de outros clubes, que fazem fintas verdadeiramente surpreendentes fora do recinto do jogo. Vendo bem, cada um contribui com aquilo que de melhor sabe fazer. É encantador ver tamanha sintonia de vontades em contribuir de forma positiva para esta indústria, apesar de tudo.

Baseado num estudo totalmente imparcial, realizado por mim, sobre a qualidade dos espectáculos oferecidos pelo Benfica, obtive conclusões bastante distintas das meras opiniões empíricas dos comentadores. Conclusões essas que terei todo o prazer em partilhar com o caro leitor. Se teve coragem para chegar até aqui, peço-lhe que se mantenha firme e acompanhe o meu raciocínio. Imparcial como sempre, obviamente.

Quando todos julgávamos que iríamos assistir a um novo normal, continuamos, afinal, com o normal normal. Com o normal das criticas em torno da qualidade do espectáculo futebolístico apresentado pelo Benfica e com o normal das exibições apresentadas pelo Benfica. Assim, a primeira conclusão é dirigida aos críticos do Benfica e comentadores de futebol: o Benfica não perde pontos. O Benfica abdica dos seus pontos, de forma solidária, para os ceder ao adversário. O resto é inveja, o que não admira, dirá o leitor mais perspicaz.

São muitos os que no futebol português criticam e amesquinham, mas o que ninguém diz é que a equipa de futebol profissional do SLB é mais do que apenas futebol. Pelo mesmo preço, o campeão nacional oferece não só futebol, mas também variadíssimas artes. Por exemplo, o Glorioso mostra ser uma equipa que caminha sobre uma corda presa a grande altura, provocando propositadamente momentos de grande taquicardia e tumulto aos adeptos. Futebol e funambulismo. Quantas equipas mundiais proporcionam estas duas artes em simultâneo? O Benfica é uma equipa que simula que cai, mas que não cai verdadeiramente, apenas pretendendo com isso valorizar o espectáculo, dando-lhe alguma emoção. Se o leitor gosta de artes circenses, então vai apreciar as habilidades de equilibrismo da equipa de futebol do Benfica. No fundo, quem gosta de funambulismo vai ao circo mas quem admira mesmo bom funambulismo, vê os jogos do Benfica.

Aprecie, caro leitor, este conjunto de importantes conclusões resultantes do estudo que levei a cabo: Rúben Dias não dá cotoveladas, faz contorcionismo enquanto cumprimenta os adversários seguindo as regras da DGS; o cabelo do Vlachodimos não é um penteado estranho, é uma homenagem às instalações da Joana Vasconcelos; Cervi não é um anão do Chapitô (lamento a decepção), é um jogador que aceita humildemente que os adversários se agigantem perante um campeão nacional. Os seus dribles são workshops de tricô com os pés.

Para os mais distraídos: o SLB nunca desilude. A equipa não faz basculações de forma errada, a equipa faz acrobacias em grupo. E é isso que incomoda os adversários.

Os treinadores do Benfica não gritam para dentro do campo, cantam ópera para dar instruções aos jogadores. As jogadas do Taarabt não são actos inconsequentes. Com Adel em campo, o adepto desfruta de futebol e ballet; os golos falhados de Rafa são maravilhosos argumentos de um thriller da Netflix. Deus Eusébio deve estar orgulhoso.

A presença de Chiquinho… bom, passemos à frente para não maçar o leitor. O, digamos, treinador Bruno Lage, não fez desaparecer o futebol do Benfica. Apenas nos proporciona um excelente truque de magia. Aguardamos com expectativa o dia em que o tirará de uma cartola, quem sabe, em forma de coelho.

Na verdade, o Benfica não possui um estádio, o Benfica detém o maior atelier de artes do planeta. O fustigado mundo das artes poderá contar com o apoio e divulgação por parte do Benfica. Ser grande também é isto.

Para que tudo seja perfeito, talvez falte alguém a fazer habilidades com animais. Lembrei-me de que isso já existe. Aquele espectáculo das toupeiras é muito bem feito.

Share this article
Shareable URL
Prev Post

Relações humanas e a quarentena

Next Post

Mergulho no Passado

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.

Read next

O Rugido de um Ferrari

Ferrari, o cavallino rampante de Maranello. Nenhuma marca é mais emblemática para o desporto automóvel, nem o…

Solidão acompanhada

"Silêncio de quem não conseguiu trocar os emojis por abraços de verdade, beijos de verdade e conversas de…

Separação

Da minha última crónica para esta o mundo mudou. Aquilo que parecia impossível, que era impensável, aconteceu e…