Os tempos de confinamento parecem agora distantes. Lentamente, estamos de volta à vida social, sem restrições.
As pessoas parecem querer esquecer o mais depressa possível o que se passou neste último ano e meio. E até consigo perceber, pois muita gente passou e ainda hoje está a passar por dificuldades, por causa da pandemia, mas não acho que deve ser esquecido. Eu, pelo menos, nunca esquecerei.
Devemos lembrar-nos não apenas das situações más (essas são mais que muitas), mas também das situações boas. No meio de tanta me&#*, algumas boas deverão ter.
Leio e oiço muitas vezes que, se a malta estava à espera de que esta pandemia trouxesse o melhor do ser humano ao de cima, enganou-se, pois trouxe foi o pior. Concordo e não concordo.
É certo que trouxe muita coisa ruim de volta, mas também trouxe muito de bom.
A mim trouxe-me lucidez, sem antes passar pelo cabo das tormentas, mas fez-me pensar no que quero para a minha vida, que caminhos quero manter e os que não quero seguir. Quem quero ter ao meu lado e quem dispenso.
Esta pandemia trouxe-me novas pessoas, aproximou-me de outras e ainda deixei algumas pelo caminho.
Alguém que conheço há anos e com quem sempre tive uma grande empatia, reapareceu na minha vida, quando abri o meu restaurante. Por coincidência, morava perto e passou a ser minha cliente. Entretanto, dá-se o primeiro confinamento e passa a encomendar as refeições e sobremesas, para me ajudar. A conversa flui agradavelmente. Passamos horas na beca, beca. Partilhamos confidências e dramas, parvoíces e alegrias (as poucas que haviam). A dada altura como costumo dizer, ela queima o “piston”. Por excesso de trabalho em casa e talvez mais uma ou outra coisinha a nível pessoal.
Fica irreconhecível, com a quantidade de medicamentos que toma. Mocada até à quinta pata (vocês percebem!). Inicialmente assustei-me, mas depois entendi que era mesmo assim.
Então, todos os dias combinámos que iria buscar o almoço e a sobremesa. Nos dias em que eu via que estava a passar da hora ligava-lhe para garantir que estava tudo bem. E a amizade cresceu, assim como a preocupação e o carinho. Tantas vezes foi o meu porto seguro e o meu colo.
Como sei que ela é gulosa, levava-lhe sempre um doce, a minha Torta de Laranja, o meu Cheesecake ou Maçãs Assadas, que ela adora. Ah! E o sumo natural com a hortelã do seu quintal.
Foi assim até acabar o último confinamento, ela melhorar e finalmente rumar a Espanha para ser feliz.
Até hoje, passado 3 meses, lembro-me dela cada vez que faço Maçã Assada.
Pouco depois de ir embora, ainda cheguei a pôr uma maçã numa caixa para lhe levar, mas depois caía a ficha: ”Ela não está cá…” e as saudades que eu tenho…
Gosto mesmo de ti!!
Nota: este artigo foi escrito de acordo com o antigo Acordo Ortográfico