“O Declínio do Império Americano” (Le Déclin de lempire américain) é um filme de 1987 do realizador canadiano Denys Arcand, sobre um grupo de amigos que, sempre de forma inteligente, discutem os mais variados temas. Com os mesmos atores a representarem os mesmos personagens, mas com 15 anos de diferença, Arcand ganha o Oscar de Melhor Filme de Língua Estrangeira com “As Invasões Bárbaras” (“Les invasions barbares”, 2003). Desta vez, o grupo se reúne quando um dos amigos é diagnisticado com cancro.
Numa das conversas do grupo, no filme de 2003, surge a teoria de que “a inteligência não é uma qualidade individual, mas um fenómeno coletivo, nacional, intermitente” e, como exemplo, citam primeiramente Atenas, ano 416 a. C., com Sófocles, Aristófanes, Sócrates e Platão no dia da estreia da peça “Electra”, de Eurípedes. Depois Florença, ano de 1504, com Leonardo da Vinci, Michelangelo, Rafael Sanzio e Maquiavel. Por último, Filadélfia, 1776 e 1789 na Declaração da Independência e Constituição dos Estados Unidos da América, com John Adams, Benjamin Franklin, Thomas Jefferson, George Washington, Alexander Hamilton e James Madison. Complementando com a seguinte frase:
– “Nenhum outro país teve essa sorte”.
E o que dizer da França na década de 1920? No filme “Meia Noite em Paris”, de Woody Allen (2011), podemos ver a chamada geração perdida: F. Scott Fitzgerald, Gertrude Stein, Ernest Hemingway, Salvador Dali, T. S. Eliot, Henri Matisse, Pablo Picasso e Ezra Pound a frequentar os mesmos espaços e a discutir as suas ideias.
É mais ou menos como a seleção de futebol holandesa de 1974, a brasileira de 1982 ou os galáticos do Real Madrid entre 2001 e 2007, uma união do que há de mais brilhante num só lugar.
Explorando um pouco mais a história, podemos ainda encontrar outros exemplos de cidades que num período específico foram agraciadas com uma leva de grandes pensadores e artistas a frequantarem os mesmos locais.
Porém, ainda não é suficiente para colocar como verdadeira a teoria apresentada pelos amigos no filme, uma vez que incontáveis também são os casos de génios solitários em diferentes épocas que produziram tão grandes obras e justamente por não terem no seu círculo social outros com a mesma capacidade, algumas vezes inclusive, eram considerados loucos.
No entanto, evidentemente, duas cabeças pensam melhor do que uma e, quando somos agraciados com uma geração inteira de notáveis, é como se tivéssemos um reboot na história da humanidade e tudo o que conhecemos parece merecer ser reescrito a partir dessa nova perspetiva.
Enquanto aguardamos surgir nova malta brilhante, resta-nos como Gil Pender, personagem do filme de Woody Allen, sonhar viajar no tempo para a Paris de 1920. Ou, quem sabe, ver Cristiano Ronaldo e Lionel Messi jogarem na mesma equipa.