Estamos no início dos anos 80, no pico do verão e com lindíssimas paisagens italianas. Um cenário perfeito para o começo de um romance.
“Chama-me pelo teu nome”, é um filme realizado por Luca Guadagnino, baseado na obra literária de André Aciman. Uma história com um erotismo suave protagonizado por um adolescente e um homem mais velho. Elio Perlman (Timothée Chalamet) de 17 anos passa tranquilamente as férias de Verão na casa dos pais em Itália. Os seus dias são passados perto do rio, ou à sombra da árvore, onde aproveita o tempo livre para escrever música. Toca graciosamente piano, principalmente JS Bach. Muitas vezes incentivado pelos seus pais, um professor de Antiguidade Clássica e uma Linguista, Elio aperfeiçoa os seus dons. Uma família muito cultural, onde várias línguas se misturam: inglês, francês, italiano e até alemão, mas todos entendem-se. A vida calma de Elio é abalada com a chegada de Oliver (Armie Hammer), um assistente do pai que vai passar com ele e a família seis semanas.
Apesar do primeiro impacto desconfortável, Elio considera o novo visitante demasiadamente vaidoso e arrogante, mas, por outro lado, sente-se intrigado com a adoração de todos por Oliver. Começa ele também a sentir-se atraído por aquele homem. Numa vila encantadora, com jardins e paisagens que lembram o paraíso, está montado o cenário perfeito para um romance inesperado. Apesar de ambos seguirem com as suas vidas e manterem relacionamentos de Verão para conseguirem chamar a atenção do outro, esperam ansiosamente para voltar a reencontrarem-se.
O argumento saturado de linguagem poética com profundeza e sofisticação torna-se numa ode sincera sobre o amor. Mesmo quando nos parece que nada está a acontecer, não é verdade. Tudo está a acontecer e novos sentimentos começam a revelar-se. O sentimentalismo puro e real é evidente. Quanto aos diálogos são ternos, mas poderosos. As cenas sobre a intimidade entre Elio e Oliver são carinhosas e nota-se a cumplicidade especial que ambos sentem. Podemos reflectir sem preconceitos sobre o que é belo. O afecto nos pequenos gestos, olhares e sorrisos envergonhados, tudo é retratado com clareza neste filme.
“Chama-me pelo teu nome” apresenta um romance homossexual sem tabus na descoberta da sexualidade. Existe um percurso contínuo, repleto de simbolismo que não se deixa afectar por moralidades. Um lado muito humano é apresentado neste filme. A compreensão sobe o amar e deixar amar é o sentimento mais corajoso que alguém pode sentir. Apesar da desconfiança inicial este filme sem dúvida que conquista o público.
Além da promoção do amor como facto positivo, “Chama-me pelo teu nome” abrange outras áreas que merecem ser realçadas. A interpretação do jovem Timothée Chalamet como Elio mantém-se absolutamente brilhante. O actor capta toda a seriedade da personagem, principalmente nas sequências mais tristes, conseguimos quase sentir a sua dor sufocante. A banda sonora foi outro elemento escolhido detalhadamente. As músicas “Mystery of Love” e “Visions of Gideon“, ambas interpretadas por Sufjan Stevens, encaixam na perfeição na mistura de sentimentos recentes que as personagens estão a experienciar. Para terminar em chave de ouro, o filme promove a aceitação do amor. O discurso final do pai de Elio é absolutamente inesperado e certo.
Concluindo, “Chama-me pelo teu nome” é uma obra-prima sincera sobre uma vida. Deixamos o amor entrar, mas essa felicidade é facilmente arrancada e ficamos de coração partido. Como a vida mesmo, confusa, mas bela ao mesmo tempo.