Ser jovem é fabuloso! Tudo é permitido, os sonhos são brilhantes, a vida é em frente e os entroncamentos não apresentam dificuldade de escolha. Começam as descobertas, as aventuras e a vontade de se conhecer, de saber quais são os seus limites, até onde se vai. O outro é notado e faz parte da história comum. Os sentimentos, as hormonas e a atracção chamam mais forte e não há que oferecer resistência.
Ele tinha 16 anos e olhava a vida de frente cheia de sol e sem nada que o amparasse. Tudo era para viver e a vida sabia-lhe tão bem. Nada era importante, mas tudo tinha valor. Coleccionava casos, namoros, affaires, situações que apareciam. Era bonito, inteligente, atraente e sabia-o. Manipulava-se com engenho e os resultados eram sempre conseguidos. Mais uma: arquivado e siga que já passou.
Ela era da mesma idade, despretenciosa e despachada, com planos de vida viáveis e reais. Caminhava firme, sem demoras, num passo cadenciado e seguro. Cada dia era um sol que brilhava no alto, cheio de vigor e luz. A sua beleza curiosa atraía os mais afoitos, mas nem todos se atreviam a aproximar-se. O olhar duro era selectivo e penetrante. Olhava, decidia e conseguia.
Um dia os dois olhares cruzaram-se e deu-se um clique sonoro. Sorriram. O tempo parou e os corações começaram a bater com força, uma força tão grande que o mundo se dilatou. Sentiram os dois o mesmo, aquelas borboletas que voavam desnorteadas, o cérebro em curto circuito e as mãos que se magnetizavam. Era o sentimento verdadeiro, real e profundo.
Rapidamente deixaram cair as defesas, os arames que os prendiam, as máscaras que colocavam para não serem nem lidos nem analisados. O mundo passou a ter outras cores, outras voltas e recantos que ainda não estavam descobertos. Eles descobriram-nos. Todos e mais alguns. E aqueles que inventaram. Tudo começou a funcionar em sintonia, na maior das perfeições como se tivessem nascido um para o outro.
Havia urgência nas suas vidas, necessidades que tinham que ser satisfeitas e os corpos clamavam calores, toques e uniões de almas que se corporizavam num bater de corações contínuo, acelerado, vivido, perfeito e extasiante. Descobriram-se todos os dias, um pouco mais, até à exaustão. Ah! A doce inconsciência da juventude que permite quebrar todas as barreiras!
O amor platónico já não lhes bastava, mas acumulavam energia para o dia em que a perfeição fosse atingida. Não a planeavam, não a sonhavam simplesmente desejavam-na. O amor constrói-se, dá trabalho e tem de ser cultivado diariamente. Muitas das vezes as tempestades assolam-no e a bonança é difícil de ser atingida. São forças contrárias que lutam entre si reclamando o território. Árduo trabalho.
Naquela tarde saíram de mãos nas mãos, uma simbiose de sensações e de desejos. O corpo ardia e aflorava um calor que teria de ser liberto e repartido. Estavam num local que só eles sabiam. Havia rochas, mar, sol e muita líbido a comandar. O olhar estava mais penetrante, as almas sentiam o apelo e o corpo comandava. Abraçaram-se num elo tão sólido e poderoso que o astro brilhava ainda mais forte.
E então os corpos, livres, expressaram o seu amor numa fusão poderosa de sentimentos e cargas emocionais que tinham chegado ao ponto de saturação. Choveram prazeres únicos e inesquecíveis, corações a bater em uníssono e dois corpos que se tornaram em só um. Ali, nas rochas, sem conforto, mas com desejo, muito desejo. E assim ficaram, por um tempo indefinido tendo como testemunha o sol que, cheio de inveja e enciumado, brilhou até muito tarde.