Uma família pobre, de camponeses, no Alentejo dos anos 50.
Um homem que se sujeita a fazer contrabando para poder ter pão na mesa.
Uma criança física e mentalmente debilitada.
Uma jovem com consciência política e social.
Uma idosa destemida e sem nada a perder, que contém em si o ódio acumulado
Uma mulher, passiva, que aceita o que o destino lhe destina.
A força dos ricos, dos poderosos e dos influentes, que oprimem os camponeses.
Um velho que se suicida, porque a alma da família se destruiu.
Seara de Vento, de Manuel da Fonseca, é um romance neo-realista, inspirado em factos verídicos e que nos conta a história de uma família pobre, no Alentejo dos anos 50, que, para além da sua miséria, tem que lutar contra a opressão dos ricos e de quem possui algum poder ou influência. Palma, um chefe de família, desempregado, acusado de roubar cereais e mandado prender pelo patrão, vê-se obrigado a contrabandear, embora que contrariado, como forma de subsistência.
É um livro que retrata o fosso entre ricos e pobres, entre poderosos e humildes camponeses, entre quem não quer ser espectador da sua própria miséria e quem gosta de espezinhar a desgraça alheia.
Durante todo o romance, o vento é um elemento que está sempre presente, como uma maldição ou uma agressão, bem como a presença/ausência do pão, como factor de ordem/desordem. É um livro que nos mostra a injustiça, a dureza, a impotência e o deitar tudo a perder, quando já nada se tem a perder, como última forma de resistência.
Um homem só não vale nada!
No fim de ler este livro, não pude deixar de ir ver o filme que lhe foi beber inspiração – Raiva – de Sérgio Tréfaut. Um filme de 2018, a preto e branco, o que se revela uma excelente escolha, na minha opinião.
O filme começa por revelar o pré-desfecho do livro, para depois, voltar ao início, mostrando que aquela acção quase final foi determinada por toda a acção passada anteriormente.
Raiva é um filme em que a imagem fala mais do que o diálogo. Quase teatral, podia até ser um filme mudo. É uma espécie de western, com uma belíssima estética.
Papéis bem representados, por Hugo Bentes, Leonor Silveira, Isabel Ruth, Luís Miguel Cintra, entre outros.
Para quem leu o livro, – e isto é sempre ingrato – talvez lhe encontre falta de um ou outro pormenor, sem importância, mas não deixem de ver, porque é realmente belo.