Lutámos toda a vida para realizar os nossos sonhos e quando finalmente acontecem, por vezes não corre como esperámos. Talvez seja uma forma estúpida do universo nos dar uma lição. Ou talvez uma prova que não somos reis do destino. Seja como for, o realizador Ira Sachs não teve receio de apresentar a realidade nua e crua sobre a vida de um casal homossexual na terceira idade.
Ben (John Lithgow) e George (Alfred Molina) tinham um sonho. Após 39 anos juntos, casar era o que faltava para se sentirem completamente felizes. O começo do filme é mesmo assim, em clima de felicidade, de promessas e sorrisos. Rodeados pela família e amigos cumprem o desejo que tinham à décadas. Mas logo o plano muda e enquanto acompanhamos o som de fundo intenso e melancólico da sinfonia de Chopin percebemos que a felicidade do casal será abalada. George, professor de música de uma escola conservadora católica é despedido devido ao seu recente casamento. Sem esse ordenado, ambos não conseguem suportar a renda do apartamento no centro de Nova Iorque. Resta o apoio dos amigos e familiares para abrigo temporário, durante estes tempos difíceis. A separação do casal é inevitável. George refugia-se na casa de antigos vizinhos, um casal jovem de polícias que adoram fazer festas. Ben vai viver para Brooklyn com o seu sobrinho Elliot (Darren E. Burrows), a sua mulher escritora, Kate (Marisa Tomei) e o filho adolescente de ambos, Joey (Charlie Tahan).

O casal septuagenário é obrigado a viver separado, algo complicado de gerir, pois há décadas que estavam juntos. No entanto, é durante os momentos que a saudade aperta, quando se reencontram, que sentimos o amor que sentem um pelo outro. A beleza do compromisso face às adversidades da vida. De forma, ternurenta e sensível o espectador sente compaixão pelas dificuldades de Ben e George.
Não só nos envolvemos pela história transmitida, mas o desempenho dos atores ajuda a criar empatia. John Lithgow e Alfred Molina conseguem sensibilizar a audiência com o carinho que sentem um pelo outro. A interpretação de ambos está de louvar. A catástrofe no casamento do mesmo sexo é delineada de forma gentil e esperançosa. Apesar da espera de melhores dias para este casal, Sachs omitiu um ponto chave na concepção deste filme que sem dúvida iria emocionar os espectadores. Na minha opinião seria um aspecto a melhorar. A abordagem deste enredo foi pretenciosa, mas talvez por isso conseguiu ser bem sucedida. Por alguma razão os filmes românticos, focam-se principalmente no olhar tímido e nas bochechas coradas do primeiro encontro. Em “O Amor é uma coisa estranha” acompanhamos um amor maduro, ainda presente num casal de idade avançada. Esta produção francesa-americana recebeu a aprovação merecedora da crítica internacional. Apesar de triste e elegante, esta obra cinematográfica mostra que tal como o amor, a vida é estranha, mas bela ao mesmo tempo.
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