Em Julho de 2021, perdi a minha mãe. Era a pessoa mais importante da minha vida e a grande responsável por tudo o que sou. Éramos muito próximas e, apesar da nossa relação não ser um mar de rosas, era a minha melhor amiga. Perdê-la foi e é o maior desgosto da minha vida e estou convencida que dificilmente existirá maior tristeza que viver sem a pessoa que nos deu a vida.
Quando a minha mãe partiu, mergulhei numa tristeza de tal forma incapacitante que tudo o que fosse extra a um funcionamento básico era difícil de cumprir. O meu quotidiano estava diminuído a um mecanismo meramente de sobrevivência. Nada me parecia fazer sentido e tudo era feito sem entusiamo. A apatia em que vivia parecia-me, de alguma forma, normal. Afinal, tinha perdido a maior referência da minha vida.
É difícil passar por um desgosto destes e perceber que, com a minha idade, ainda há pouca gente que passou pelo mesmo. É um caminho solitário e penoso.
No entanto, a minha amiga Rita tinha passado há pouco tempo por um desgosto igual. Também ela vivia agarrada à mãe, e também ela a tinha perdido. A minha amiga Rita, que é psicóloga, insistiu e teimou que eu fosse ao psicólogo pois seria o melhor para me ajudar a lidar com a onda de dor que invadia todos os dias o meu coração.
Confesso que a logística de ir ao psicólogo era, só em si, uma fonte de ansiedade. E se eu não gostasse do psicólogo? E se me levasse numa viagem que eu não queria fazer? E se me deixasse ainda mais triste? E se a terapia não me servisse para nada?
Arrumei as dúvidas e comecei a fazer terapia no início de 2022 com a Andreia. Gostei dela desde a primeira vez que a vi. É empática, simpática, sorridente e bonita. Sentou-me à frente dela e conversou comigo com calma. Fez as perguntas certas para me conhecer e logo na primeira sessão fiquei com a sensação de a ter na minha vida desde sempre. Sei que tive sorte por ter conseguido estabelecer uma ligação imediata com a minha psicóloga, mas também sei que a minha psicóloga é uma profissional acima da média. Todas as horas que passei com ela foram objectivas e carinhosas. Chorei, ri, descobri-me, identifiquei-me, simplifiquei-me, desatei nós, atribuí novos significados e aprendi a olhar-me de fora para dentro sem medos. Deu-me a mão para me ajudar a fazer uma travessia tortuosa e necessária. Emprestou-me um livro e pagou-me o parquímetro. Manda-me mensagens atenciosas e lembra-se de tudo o que lhe conto. Quando perco o norte nas nossas conversas é sempre uma bússola certeira e indica-me o caminho que me espera e que muitas vezes, eu nem sabia que era caminho.
No fim das consultas, no regresso a casa, muitas vezes choro. O meu coração fica vazio de assuntos que o afogavam e a sensação é de tal forma avassaladora que nem consigo falar.
A minha psicóloga conhece-me como ninguém e apesar da estranheza de ser este o seu trabalho, o seu papel na minha vida é fundamental.
Vivemos tempos estranhos em que tudo é demasiado polarizado e a saúde mental não é excepção, no entanto, posso falar por mim. Precisei de um grande desgosto na minha vida para começar a fazer terapia, mas sei que sem terapia teria sido difícil conseguir lidar com a dor constante da ausência. Hoje sou uma pessoa diferente, que se conhece melhor e que sabe para onde olhar quando dói. O processo é infinito, mas sei que sem a minha psicóloga seria muito mais assustador.