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Quem tem medo do “weirdo”?

We are the weirdos, mister!

O filme é The Craft – O Feitiço e conta a história de quatro raparigas que resolvem usar bruxaria para se vingar dos colegas que as maltratam na escola. Nesta cena, as quatro dirigem-se de autocarro a um sítio ermo, para poderem praticar os seus rituais. Ao sair o motorista avisa-as para terem cuidado com os “weirdos”. Nancy, a líder do grupo responde com orgulho: “Nós é que somos os “weirdos”.

“Weirdos”, estranhos, esquisitos ou excêntricos, já todos conhecemos. Ou então, somos nós. Eu que o diga, que tendo em conta a minha predilecção por roupa preta na escola, lá levei com os rótulos. Gótica, Morticia, Bruxa, eram os nomes mais comuns. Guardava o segredo de que nenhum deles me incomodava, todos eles me invocavam imagens de mulheres lindas e poderosas e sorria para dentro. A minha parte preferida era quando, por um acaso, acabava a falar com um dos “mundanos”, e depois me chegava aos ouvidos que este tinha dito que eu afinal até era “simpática” e “inteligente”.

Normalmente, o típico “weirdo” caracteriza-se por sair de alguma forma das normas da sociedade. Pode ser pela forma de se vestir, pelas suas opiniões, até pelo estilo de vida que leva. Recentemente conheci um grupo fantástico de artistas de rua, que levam os seus talentos a vários festivais e feiras por todo o país. Recusam-se a ter um emprego dito normal, com horário regular. Juntem a isto umas tatuagens e rastas, e pronto: “weirdo” instantâneo.

Contudo, porquê a aversão da sociedade a estas pessoas? Bem, para começar, gostaria de deixar bem claro que me refiro a pessoas que são excêntricas e inofensivas, algo que se manifesta na maneira como se apresentam, estilo de vida, etc. Pessoas com comportamentos perigosos para os outros, como obsessões, stalking ou agressividade é todo um nível de “weird” em que nem vou tocar e prefiro deixar para a polícia.

Porém, culpo todo este fenómeno no nível médio da pirâmide de Maslow. Para quem não sabe, este modelo define de forma simplificada a hierarquia de necessidades dos seres humanos em cinco níveis, de forma a que só quando o nível inferior está preenchido, se passa para o seguinte. Mesmo a meio da pirâmide, em terceiro lugar, estão as necessidades de pertença a um grupo. Por muito que não queiramos, temos uma necessidade muito básica de nos identificar com outras pessoas, com uma comunidade, uma religião, um clube de futebol, um grupo de amigos. Mas nem toda a gente é igual, e não cabemos todos no grupo da maioria. E às vezes até descobrimos que a música dos weirdos é melhor (desculpem, mas normalmente é), e que eles afinal “até são simpáticos”.

O grande problema é que o ser humano tende a procurar padrões, rotinas e hábitos confortáveis. Quando um “mundano” se confronta com um “weirdo”, normalmente a reacção é de repulsa. De achar que não se sabe o que esperar dessa pessoa. Por isso, no nosso país ainda existe tanto a preocupação em empregar pessoas tatuadas ou com piercings, por exemplo, enquanto em vários países do estrangeiro estas práticas estão banalizadas. Por isso existem tantos casos de bullying nas escolas a quem é um pouco diferente. E por isso tantos “weirdos” escondem a sua excentricidade, aquilo que os torna únicos e especiais, para poderem adaptar-se ao que a sociedade espera deles e se poderem movimentar através dela com o mínimo de resistência possível.

No entanto, a verdade é que os excêntricos são normalmente quem nos traz algumas pinceladas de cor a um mundo de outra forma cinzento, basta dizer que na sua maioria, são eles quem mais se dedica à musica, entretenimento e artes no geral. E quem quereria viver num mundo sem Bowie, Andy Warhol, Mozart e tantos outros que resolveram desafiar as convenções e mostrar a sua estranheza sem remorsos? Precisamos dos weirdos para continuar a quebrar barreiras e nos fazer questionar se temos mesmo que ser todos iguais.

A próxima vez que virem um “weirdo” lembrem-se que sem ele o cenário seria bem mais aborrecido. Lembrem-se da vossa música, filme ou obra de arte preferida e interroguem-se se os artistas responsáveis por eles podem ser considerados gente que se adapta totalmente às regras da sociedade. E dêem-lhe uma hipótese. Ele até pode ser “simpático”.

Nota: este artigo foi escrito segundo as regras do Antigo Acordo Ortográfico.

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