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Cortes na cultura atormentam a Europa

A história de séculos do velho continente europeu faz da Europa um verdadeiro museu a céu aberto, sendo o seu potencial cultural elogiado em todas as partes do mundo. Cidades como Paris, Berlim ou Roma, fazem parte do roteiro de qualquer historiador. Os seus museus, as suas galerias, os seus monumentos históricos, aliados a programas subsidiados pelos governos, tornam este continente o local ideal para artistas e amantes das artes. Contudo, nos últimos anos, devido ao momento de austeridade que se vive na Europa, vários países têm introduzido severas medidas políticas, de forma a conseguirem diminuir as suas dívidas. A cultura comparada com as altas taxas de desemprego, que se verificam pela Europa fora, acaba por ser encarada como uma espécie de “luxo”, sendo, deste modo, colocada para último plano. Países com mais dificuldades como a Espanha, Itália, Grécia e Portugal, que no seu conjunto somam 122 lugares declarados como Património da Humanidade pela UNESCO (13% no seu total) são alguns exemplos de países que têm ultimamente cortado nos apoios à Cultura. Por cá, a última polémica remete-se a um possível encerramento da RTP 2, depois de ter sido extinto em 2011, o Ministério da Cultura.

Espanha

Em Espanha, segundo país com mais lugares protegidos pela UNESCO (45), foram, durante este Verão, anunciados novos cortes pelo Secretário de Estado da Cultura, José María Lassalle, no valor de 20 milhões de euros. Uma medida já aplicada este ano, que, conjuntamente com o aumento do IVA de 8% para 21%, irá certamente causar mais dificuldades às instituições culturais do país.

As dificuldades vividas por este sector já se fazem sentir, sobretudo nas instituições que dependem de patrocínios oriundos das chamadas doações filantrópicas. Dentro das mais afectadas, destaca-se a Fundación Caja Madrid, que recentemente viu-se obrigada a fechar 48 centros culturais pelo país. Os cortes acabam por também atingir os funcionários do sector. Algo demonstrado numa pesquisa da Ideas Foundation, que comprovou que a Espanha poderá vir a perder 60 mil empregos, nos próximos quatro anos, na área cultural.

Xavier Manresa, Vice-Presidente da Associação de Promotores Musicais, referiu ao El Mundo que o IVA aplicado neste momento, em Espanha, aos produtos culturais é dos mais altos da Europa (no nosso país é de 13%, depois da subida decretada no ano passado). “Somos um país em que a cultura é penalizada”, lamenta.

Também os jornalistas do sector se quiseram fazer ouvir, através de um manifesto contra a subida do imposto. “A cultura não é um privilégio, mas sim uma parte indispensável do desenvolvimento intelectual e afectivo das pessoas”, argumentam. “Recusamo-nos a aceitar que seja um luxo”.

Itália

A Itália é considerada um dos países com mais influência na cultura europeia e mundial. Palco de uma arquitectura diversificada e local de nascimento de vários movimentos artísticos e intelectuais, é o país com mais lugares protegidos pela UNESCO (47) e um exemplo cruel de que nem sempre a história caminha para a frente. Em 2001, foram investidos na cultura 2,3 milhões de euros e, este ano, foram apenas investidos 1,4 milhões. O Coliseu é um claro exemplo da falta de sensibilidade do governo de Berlusconi, parte da sua estrutura encontra-se visivelmente deteriorada, tendo já resultado na inclinação de 40 cm, devido ao excesso de visitantes. Sem praticamente investimentos, a solução acabou por surgir do sector privado, com o empresário Diego Della Valle a investir, a troco de nada, 25 milhões de euros, para restauração deste emblemático monumento. O mítico teatro de ópera de Milão, La Scala, é outro exemplo desta despreocupação governamental, também vive um momento difícil, correndo o sério risco de vir a ser privatizado. Em 1998, o Estado garantia cerca de 60% do orçamento, hoje, assegura menos de 40%.

Até mesmo o recém-fundado museu Maxxi de Arte Contemporânea do Século XXI, em Roma, da prestigiada arquitecta iraquiana Zaha Hadid, atravessa sérios problemas. O que parecia ser no início, em 2011, um caso de sucesso, com 450 mil visitantes e com uma capacidade de autofinanciamento de cerca de 50%, hoje, vive um momento delicado, com uma nova administração nomeada pelo Ministro da Cultura, Lorenzo Ornaghi. O antigo conselho de administração presidido pelo arquitecto Pio Baldi; não conseguiu convencer o Ministério da Cultura a disponibilizar a quantia de 10 milhões de euros e, por considerar indispensável esta verba para garantir a actividade do museu no ano corrente, recusou-se a aprovar o orçamento do museu para 2012. Perante esta tomada de posição, Ornaghi decidiu que o melhor para o museu seria uma remodelação a fundo da administração.

Em Abril, sucedeu ainda um caso insólito em Itália. Antoni Manfredi, Director do Museu Internacional de Arte Contemporânea de Casoria, foi notícia em todo o mundo, ao ameaçar queimar toda a sua colecção de obras de artistas contemporâneos, como forma de protesto aos cortes do governo. A primeira vítima das chamas foi uma peça da pintora e ilustradora francesa de livros infantis, Séverine Bourguignon. Manfredi argumentou, na altura, que as obras “estão, de qualquer modo destinadas, à destruição,  devido à indiferença do Governo”. Sabe-se, entretanto, que muitos artistas já aderiram à iniciativa, como foi o caso do escultor John Burns, que incendiou uma das suas obras e colocou o vídeo no YouTube.

Grécia

Situação semelhante à vivida em Itália ocorre na Grécia, o primeiro país da União Europeia a pedir ajuda ao Fundo Monetário Internacional (FMI). Para além de todos os cortes já conhecidos através da comunicação social, os gregos são também obrigados a viver com um orçamento reduzido, no sector da cultura. Os cortes já ascendem aos 35% e prevê-se que, em 2013 e 2014, sejam impostas mais medidas de austeridade.

 Os seus efeitos já se fazem sentir, com imensas galerias e museus a fecharem as suas portas, sendo muitos deles alvo de assaltados, como é o caso do museu Olímpia, no qual os ladrões aproveitaram o facto da vigilância estar reduzida para roubarem peças valiosas de bronze e de cerâmica. A Galeria Nacional de Atenas, vigiada por apenas um guarda, também sofreu o roubo de um quadro de Picasso e de Mondrian. “A arte é a menor prioridade”, refere Elizabeth Louizou, que foi obrigada a fechar a sua galeria em Atenas.

A arqueologia é outra área bastante afectada. Dezenas de arqueólogos experientes, com muitos anos ao serviço de órgãos públicos com salários de 1550 euros, viram-se forçados a aposentar-se precocemente, em consequência de uma medida que estipulava a redução de 10% dos funcionários do Ministério da Cultura e do Turismo. Em dois anos, os arqueólogos que trabalhavam para o governo grego passaram de 1100 para 900 e muitas escavações e muitos trabalhos de pesquisa têm sido abandonados. Face a isto, a Associação dos Arqueólogos tem vindo a alertar a opinião pública de que as medidas políticas ditadas pela União Europeia e pelo FMI ao país não vão causar apenas a morte da Grécia, mas também a do seu Património Cultural.

Num cenário de ajustes financeiros, felizmente, nem toda a Europa segue esta tendência. A França e a Alemanha, apesar de também serem atingidas pela situação económica dos outros países, continuam a investir na Cultura. Na França, os investimentos previstos para a conservação do património, em 2012, são de 380 milhões de euros, mais 0,2%, do que no ano passado. Já no caso da Alemanha, os investimentos no sector têm vindo sempre a crescer no sector, desde 2008.

Apesar de existirem excepções nesta Europa ferida pela crise, a verdade é que a cultura secular europeia está seriamente ameaçada. Por ter consciência disto, o jornal inglês The Guardian lançou um projecto inédito, onde pede aos profissionais e usuários da Cultura para preencherem um formulário de modo a se visualizar os impactos destas medidas num mapa. Para mais informações aceda aqui.

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