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O País laicamente católico

Cada vez que me recordo de que somos um país supostamente laico, em comparação com os comportamentos gerais da nossa sociedade e das instituições, solto uma sonora gargalhada.

As únicas pessoas que tentam nos convencer de que isso é verdade são os políticos, que estão convencidos de que, na realidade, não é.

Esta conclusão torna-se evidente com inúmeros casos nacionais, sendo o que mais me chocou recentemente o apoio financeiro abundante para o fluxo financeiro que foram as jornadas da juventude.

Não nego que nos deu visibilidade na pequena metade do mundo que partilha o catolicismo connosco, mas para os cristãos sem Papa, como o Reino Unido, onde a religião é essencialmente protestante, nos EUA ou no Brasil, onde existem várias vertentes do Cristianismo, e nos maiores países do mundo, como a China ou a Índia, que são budistas ou não acreditam num único Deus, assim como em todo o mundo muçulmano, a história é diferente.

Também não nego que foi um sucesso em termos de visitantes, esses milhões ou milhão e meio, na sua maioria simpáticos e comportados, que animaram as ruas de Lisboa e Oeiras, mas que, evidentemente, na sua condição de jovens sem dinheiro, não só afastaram os turistas da capital, como gastaram as misérias que as suas curtas vidas ainda lhes permitem gastar.

Contudo, relativamente a pessoas como eu, agnósticos, ateus, migrantes de outros países e, essencialmente, todos os sensatos e outros como as famílias em dificuldades financeiras, os nossos governantes demonstraram a sua falta de seriedade e foram largando milhões de euros para o evento, com os excessos que todos conhecemos, e a promessa de retorno, que nunca se concretizou. Não podemos esquecer que com os cerca de 80 milhões de euros gastos, poderia ter sido feito muito para ajudar os cidadãos deste país em crise há centenas de anos.

Está bem, já lá vai, mas há coisas que nunca mudam, e uma delas é o Natal.

Vamos entender-nos, o nosso país é cada vez mais uma deliciosa mistura de pessoas originárias de outros países, com costumes e credos diferentes, mas nesta época a festa é dos católicos e tudo bem. Somos um país maioritariamente católico. O problema é que tudo isto é mais uma vez apoiado pelo Estado, que gasta uma boa quantia a decorar todos os cantos com luzes, presépios gigantes, imitações de árvores monumentais e sei lá mais o quê.

A questão para mim não é a celebração do nascimento de um Messias, em quem acredito, que curiosamente não nasceu em dezembro, num país maioritariamente católico ou pelo menos batizado, segundo os preceitos da religião. Mais uma vez, o problema é que somos um país permanentemente à rasca, com instituições públicas como o SNS em plena degradação, com a Segurança Social a falir e uma classe média genericamente pobre, e nada disto impede as exorbitâncias gastas nestes eventos e celebrações.

Pelo menos, as autarquias poderiam ter a decência de praticar a dita democracia e fazer anualmente um referendo, perguntando aos cidadão se, por exemplo, preferem as decorações de Natal ou que arranjem as ruas ou plantem árvores.

E se pensarmos bem, onde está o país laico que permite à Igreja Católica fazer o que quer, incluindo ser dona de uma riqueza inimaginável, mas passar a vida a pedinchar, sem pagar impostos, claro.

E as outras religiões? Como ficam? As mesquitas, por exemplo, estão em terrenos públicos ou tiveram que os pagar? E as pessoas dessas religiões, que são tão portuguesas como nós, o que sentirão ao ver o seu novo país a largar rios de dinheiro em propaganda ao Catolicismo e a não largar um cêntimo para as suas celebrações?

Tenho consciência de que isto é um problema comum nos países ocidentais, investir mais na religião dominante do que muitas vezes nos problemas da sociedade. Mas em momentos como este, com um conflito como o Israelo-Árabe em curso, dá para pensar se não seria realmente bom que todos investissem no verdadeiro laicismo, para que ele seja, de uma vez por todas, legítimo e possamos acabar com as soberbas que custam muito dinheiro, tão necessário, e com conflitos religiosos que há demasiados milénios são motivo de terror e guerra.

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