Estamos no fim do ano lectivo e milhares de estudantes interrogam-se sobre o percurso a seguir. Uns pretendem frequentar a universidade, seguir um curso superior, outros enveredam por anos sabáticos e outros ainda terminam o seu percurso académico. Eu não defendo a obrigatoriedade do ensino superior, não sou assim tão purista, simplesmente entendo que se deve estudar e aprender. O conhecimento faz falta durante toda a vida e desenganem-se aqueles que pensam que o seu trabalho chegou ao fim. A vida real é uma constante aprendizagem e não dá tréguas àqueles que se forem encostando nas idades tenras. Quanto mais se avança na vida, mais complicado se torna reter conceitos e novas ideias.
Hoje em dia existem várias opções de continuidade: as escolas profissionais, os institutos politécnicos, as universidades e tantas outras situações que permitem uma posição na sociedade, um modo de ser útil e receber, em troca, os seus dividendos. Mas já parámos para pensar como tudo começou?
Na Idade Média apenas uma minoria frequentava escolas e a sua maioria destinava-se à vida eclesiástica, logo, foi a igreja a primeira a preocupar-se com a cultura dos seus membros. Assim, nos conventos e junto às sés surgiram as primeiras escolas que asseguravam os rudimentos de leitura e de escrita. Nas escolas claustrais, ensinavam-se as crianças que eram entregues, pela família, aos mosteiros, para serem seguidoras da religião. Aprendiam leitura, caligrafia, canto, música e aritmética. Tudo era ministrado em latim e o ensino funcionava à base da memorização e, posteriormente, discussão. Depois passavam à gramática, através das escrituras e do canto sagrado. Para complementar este estudo, durante as refeições, havia leitura de textos bíblicos, o que justifica a púlpito nos refeitórios. O ensino, curiosamente, era igual para os mosteiros femininos e masculinos.
Após os Concílios de Latrão, nos finais dos séculos XII e XIII, o clero secular era obrigado a ter escolas junto das catedrais e das colegiadas, onde o clérigo mestre escola tinha a função de ensinar, examinar, ler, cantar e emendar os livros de estudo, ou seja, compreender. A mais antiga escola episcopal existente no reino pertenceu a Braga que se tornou a mais antiga escola pública. A base do ensino era o latim e os livros estudados eram obras de fundo moralizante e pedagógico, como os Ditos de Catão. A ascensão religiosa efectuava-se através do conhecimento e das letras.
O desenvolvimento das artes liberais permitiu aos melhores alunos frequentarem outros cursos em universidades estrangeiras e na portuguesa, a partir de finais do século XIII. Estamos aqui perante o embrião do programa Erasmus, ainda numa vertente inicial. Quando se ausentavam para uma especialização, num determinado ramo do saber, tinham de se dirigir a Bolonha para o estudo do Direito, Montpellier para a Medicina, Paris para a Teologia e outras cidades idênticas com universidades.
Os portugueses foram de uma importância crucial no ensino universitário. Mestre Vicente foi professor de Direito em Bolonha e um dos braços direitos do rei D. Afonso II, Pedro Hispano, o papa João XXI, foi professor em Montpellier, um dos mais ilustres do seu tempo como médico e filósofo, Álvaro Pais e João das Regras, figuras emblemáticas da II dinastia, a de Aviz e grandes apoiantes de D. João I, foram igualmente mestres em Bolonha.
Os Estudos Gerais foram solicitados ao papa pelo rei e vários bispos e abades portugueses estavam interessados na sua criação para evitar a saída de dinheiro para o exterior. Em 1290 surgem em Lisboa, os Estudos Gerais, no reinado de D. Dinis, tendo sido posteriormente, transferidos para Coimbra.
Esta primeira universidade não teve um início muito agradável. Aliado à falta de rendimentos juntava-se um corpo docente pouco credível, sendo a sua maioria estrangeiros, o que levou à saída de alunos para as escolas fora do reino. De início ministravam-se aulas de Cânones, Direito Canónico, Leis, Direito Romano, Medicina, Gramática, Dialéctica e Artes, em geral. Acrescentou-se Música, Filosofia e Teologia. A língua não deixava de ser o latim, escrito e falado, tendo por base os textos de Aristóteles, Galeno e Hipócrates.
A universidade concedia os graus de Bacharel, com 3 anos de aproveitamento, de Licenciado, de 7 a 9 anos de estudo, de Mestre e Doutor, que ultrapassavam os 9 anos. O curso mais longo era o de Teologia que exigia 8/9 anos para o Bacharelato e o mais curto era o de Artes, cuja licenciatura exigia somente de 5 a 6 anos.
A questão que se coloca agora é outra. Consideram a vossa vida escolar difícil e extensa? Pois é altura de reconsiderarem tudo aquilo que pensam. Hoje não se aprende em latim, aprende-se na língua materna, o que para muitos ainda é mais complicado e os graus académicos são cada vez mais curtos, em termos de anos de estudo. Conseguem imaginar como seria a vida destes estudantes? Escolham a vossa. Boa sorte.