Por vezes em conversas perguntam-me: Viste o post do não sei das quantas? Viste onde estavam? Sabes se já casaram? Parece que mudou de emprego outra vez! Gostaste do que tinha vestido? Pelas fotos parece que está bem na vida! Viste o que escreveu? Deve-lhe ter acontecido alguma coisa…
Não: provavelmente não vi, não ouvi e também não tenho interesse em ouvir dizer ou andar no “diz que disse”. Não tenho como passatempo andar a tirar nabinhos do púcaro da vida dos outros, nem faço filmes com o que os outros expõem da sua vida e não sou mirone, o que se reflete no meu pobre “feed” que a maior parte das vezes diz-me que “não há publicações novas” desde a ultima vez que o consultei.
As minhas novidades conto-as pessoalmente e as dos que me interessam ou que possam interferir com a minha vida espero recebe-las da mesma forma. E quando quero saber algo sobre alguém pergunto-lho diretamente, e quando não pergunto é porque acho que a minha pergunta pode invadir a sua privacidade ou que eu não tenho nada a ver com o tema, porque se tivesse provavelmente já mo teriam dito. É uma questão de respeito e fieldade.
O facto de conhecermos alguém não nos dá o direito de sermos invasivos. Antes de perguntar ou opinar devemos perceber se a relação que temos com essa pessoa é suficiente próxima para o questionarmos sobre determinado tema. Em termos físicos, só invadimos o espaço pessoal do outro (distância entre duas pessoas <60cm=braço) quando criamos uma relação de confiança, em termos digitais devemos ter os mesmos pressupostos.
Os frequentadores das redes sociais podem distinguir-se em três tipos:
- os provocadores de opinião
- os opiniadores
- e os invisíveis ou deambulantes
Embora possamos comportar-nos de maneira diferente consoante o âmbito, temos um perfil mais acentuado numa das 3 posições. Ou partilhamos conteúdos, ou opinamos visivelmente ou até somos assolados com determinada reação ao entrar em contato com determinado conteúdo mas mantemo-la invisível aos olhos dos outros. Antes das redes sociais, os reservados eram os invisíveis da sociedade, agora, a maior parte das vezes, os invisíveis são muitas vezes os mais extrovertidos, e os opiniadores os que se protegem atrás de um ecrã.
Quer o tipo a quer o tipo B são os entartainners da sociedade digital, os tipo a quando partilham conteúdos, os tipo b quando ativamente se pronunciam sobre os conteúdos.
Quer o tipo a, quer o tipo B alimentam o monopólio on-line dos invisíveis sobre a nossa vida de sonho e os nossos dramas de fazerem chorar as pedras da calçada. Quem muitas vezes não lê os comentários com mais afinco que a própria “publicação” e quem não consulta a lista dos opiniadores que fizeram um “gosto” para procurar sumo e substância.
Eu sou uma provocadora, sou pouco opiniadora e comporto-me como invisível a maioria das vezes perante os poucos conteúdos que me aparecem dos outros. Escrevo e publico coisas para provocar reações nos outros. Partilho essencialmente coisas escritas, sou uma palavradora com o objetivo de criar impacto nos outros. Entendo os meus sítios “online” não como um resumo e transposição da minha vida, nem como um alter-ego que preciso de escoar, mas sim, como uma ferramenta em que partilho coisas com a expetativa de desencadear reações internas (e invisíveis) nos outros, que possam de algum modo contribuir para refletirem, e como uma ferramenta para ter acesso a eventos, notícias e produtos.
Os experts em redes sociais dizem que devemos ter pelo menos de 500 seguidores para existirmos nas redes sociais. E só temos seguidores, quando somos pessoas muito interessantes ou muito fúteis.
Certo, é que como na vida sem ecrãs, quantas mais pessoas conhecemos, maior a nossa teia de contatos, mas nem por isso andamos na rua a gritar aos transeuntes ou abordamos estranhos com: “Fui agora ali fazer xixi”, “Hoje estou pensativa”, “Gosto da tua camisola”, “Escreves bem”, “Concordo com a tua opinião”, “Sóis uns…(piiiiiii!)”, “Estavas bem era a …(piiiii!)”… and so on…
Considerar que o dia-a-dia, incluindo a dos interessantes, resume-se à sua vida on-line é uma visão muito curta e repressiva. Ter muitas certezas sobre a vida dos outros porque se o segue ou se é amigo ou uma conexão on-line é sofrer de anorexia emocional, quase como comer uma ervilha e dizer que se almoçou cabrito. Principalmente se for sobre a minha, porque já há muito que eu deixei de ter certezas…