O que nos vem à cabeça quando pensamos na saúde, são as sucessivas greves que têm ocorrido nos últimos anos no nosso país. Congelamento de carreiras, aumentos de salários ou falta de profissionais, são algumas das queixas recorrentes feitas tanto por médicos como enfermeiros. Aliás todos os anos, o mesmo problema repete-se e enquanto os políticos estão mais preocupados em votar uma lei sobre a eutanásia, a verdade é que as falhas nos hospitais nos serviços de obstetrícia e nas urgências, continuam sem soluções duradouras à vista. O governo tem procurado estancar os problemas e encontrar formas de aliviar a pressão no setor da saúde mas sem convencer verdadeiramente.
SNS 24 para aligeirar a dor
O serviço nacional de saúde (SNS) que nasceu no dia 15 de setembro de 1979 pelas mãos de António Arnaut, era na altura uma revolução no que toca a inovação e acesso de prestação de cuidados globais de saúde para todos os cidadãos. Passados quatro décadas, e com uma população cada vez mais envelhecida, o SNS tem lacunas difíceis de esconder. Contudo, ciente de que a população precisa de apoio médico a qualquer hora, Portugal criou em 2017 a plataforma telefónica e digital SNS 24 tal como a conhecemos atualmente. Só em 2022, a linha telefónica recebeu 8 milhões de chamadas, o que comprova a necessidade deste serviço no dia a dia dos portugueses.
Em 2023, dois grandes acontecimentos irão alterar a face do serviço SNS 24. O primeiro é um projeto que acontece em Vila do Conde e na Póvoa de Varzim no qual será possível agendar uma consulta no centro de saúde ao ligar para o SNS 24. Após esta fase de projeto piloto, espera-se que venha a se generalizar em todos os centros de saúde.
O segundo tem a ver com a possibilidade de pedir uma baixa médica no máximo de 3 dias consecutivos e até ao limite de duas vezes por ano também através do SNS 24. Essa declaração será feita mediante autodeclaração de doença, e sob compromisso de honra.
Um médico de família para todos… ou talvez não
A vontade de cada utente ter direito a médico de família tornou-se mais um sonho do que uma realidade. Com um aumento no número de utentes inscritos e com menos médicos, estima-se que no final do ano 2022, 1,5 milhões de portugueses não tivessem ainda um médico de família.
Com a certeza de que essa utopia não será concretizada, o governo decidiu (e bem) abrir portas aos médicos privados e serviços de urgências, nomeadamente no que toca a emissão de baixas médicas. Essa medida tem como efeito imediato desentupir os centros de saúde e os serviços de urgências para situações mais ligeiras.
O Jornal de notícias avança que o governo pretende contratar 300 médicos cubanos para estarem no ativo durante 3 anos. Uma boa medida a curto prazo, mas deverá ser feito mais para pensar nas próximas décadas.
O que ainda pode ser feito
Os utentes de saúde não podem depender só de um médico para obterem medicamentos, baixas e outro tipo de tratamentos. O governo pode ir mais longe, ao dar plenos poderes ao setor privado no que toca à saúde. Era importante, o governo subsidiar um valor significativo das consultas e exames que fossem realizados no privado.
Seria igualmente fundamental, tanto um médico público como um médico privado poderem ter acesso ao histórico de cada utente, para poder melhorar e personalizar o tratamento dos utentes. As longas listas de esperas que existem no setor público, mostram cada vez mais as fragilidades ao qual está exposto. Uma maior transparência e colaboração entre ambos os setores seria uma boa maneira de trabalhar em prol de todos.
Valorizar as carreiras com uma progressão justa e com base na meritocracia. Aumentar os salários no setor público para estarem ao nível do setor privado. Melhorar as condições de trabalho com mais efetivo qualificado nos centros de saúde e hospitais. Estender as vagas de médicos e enfermeiros nas universidades são algumas das medidas que poderão dar frutos no futuro do SNS e evitará que os profissionais queiram sair para o setor público.
Conclusão
Portugal não pode ser um país no qual são precisos anos para obter uma consulta num médico de especialidade. A população cada vez mais empobrecida é obrigada a recorrer à saúde publica embora com imensos atrasos, enquanto famílias mais abastadas conseguem um melhor acesso à saúde indo ao privado. Com a população de mais de 60 anos a representar a maior percentagem da nossa população, o governo atual e os próximos, não podem procurar reformas a curto prazo, mas sim a médio e longo prazo. Ao abrir portas ao setor privado, o SNS poderá aprender e também aliviar a pressão constante exercida pelos utentes cada vez mais necessitados. Esperamos no futuro ver reformas que melhorem o acesso a uma saúde mais justa e acessível a todos.