“Nós temos hoje uma geração extraordinariamente bem preparada, na qual Portugal investiu muito. A nossa economia e a situação em que estamos não permitem a esses activos fantásticos terem em Portugal hoje solução para a sua vida activa. Procurar e desafiar a ambição é sempre extraordinariamente importante”, afirmou Pedro Passos Coelho, no início do ano passado. A sugestão do actual primeiro-ministro causou uma onda de choque no país. Passos Coelho aconselhou os professores portugueses a “saírem da sua zona de conforto”. O que foi interpretado por muitos como um convite à emigração, a abandonarem o seu país. Um país que se dizia não ser para velhos e que nos últimos anos tornou-se também num lugar que também não é para os mais jovens. Neste contexto, será que os jovens portugueses sentem-se menos patrióticos?
Quando falamos de patriotismo devemos pensar em algo mais do que o amor e o orgulho pela terra que nos viu nascer. Existem outras esferas para além do sentimento especial pelo país, como a identificação pessoal com o mesmo, a preocupação com o bem-estar do país e a capacidade de sacrifício para promoção do mesmo. Adicionalmente, este sentimento é mutável, sendo que o sentimento patriótico dos jovens de hoje é diferente do dos seus pais, ou avós. Hoje estamos inseridos num mundo cosmopolita, numa União Europeia onde as fronteiras foram quebradas, onde somos convidados a ser europeus e a explorarmos essa Europa. A fazer dela a nossa casa. Com esta nova sociedade, onde fica o sentimento por Portugal?
Genericamente, esse sentimento é expresso por aqueles que saíram da sua zona de conforto, quando falam do jeito de ser português. O ser “desenrascado”, ou o fazer “tudo em cima do joelho” e até a capacidade de deixar a família e os amigos e embarcar para outras terras, em busca de melhor vida, ou até quando falam do país do sol, da comida e dos sons. Porém, os jovens portugueses que saíram do país nos últimos quatro anos são altamente qualificados e que, por causa da situação económica e social, viram-se obrigados a sair para poderem ter a oportunidade de trabalhar na sua área e para poderem ter o seu primeiro emprego. O sentimento que alguns têm é de mágoa, mágoa para com a classe política portuguesa e não para com o país. “Só uma mensagem passou com a manifestação: colocámos nas bocas do mundo a palavra precariedade. Muita gente tomou consciência desta situação, de que os nossos direitos laborais não estavam a ser respeitados”, afirmou João Labrincha, um dos organizadores da manifestação da Geração à Rasca, ao site P3.
Os políticos portugueses são olhados com desconfiança, sendo que para os jovens são todos os mesmos, mudam as cores políticas, mas na essência são todos iguais. A descrença dos mais jovens é notória, quando olhamos para os níveis da taxa de abstenção, particularmente nos mais jovens, é notório que estes não acreditam que o seu voto possa mudar alguma coisa. Escolhem outras formas de participar, criam movimentos cívicos, saem à rua para demonstrar o seu descontentamento, para reclamarem a mudança e apresentar soluções.
São poucos os que votam, mas são muitos que se envolvem noutro tipo de movimentos, como o Movimento Geração à Rasca. Esta é a forma que encontram para expressar o seu patriotismo, de mostrarem o seu sentimento em relação ao país e ao seu bem-estar. Na manifestação convocada pelas redes sociais para a tarde de 12 de Março de 2011, os organizadores ressalvaram que não tomam uma posição “contra as outras gerações. Apenas não estamos, nem queremos estar à espera que os problemas se resolvam. Protestamos por uma solução e queremos ser parte dela”. Neste sentido, podemos dizer que os portugueses sentem orgulho no seu país, quando além-mar algo português é premiado, ou reconhecido. Existem de facto mil motivos para nos orgulharmos do país. Quando sabem que onze cientistas portugueses ganharam bolsas (Starting Grants) de 1,5 a dois milhões de euros, do Conselho Europeu de Investigação (ERC-European Research Council), os portugueses sentem o orgulho a crescer no peito. Quando descobrem que a longa-metragem portuguesa Os Mistérios de Lisboa, de Raul Ruiz, foi eleito o melhor filme estrangeiro pela Academia da Imprensa Internacional, que reúne jornalistas estrangeiros radicados nos Estados Unidos da América, o sorriso de felicidade cresce nos seus lábios. Estejam onde estiverem, os portugueses levam sempre o amor pelo seu país consigo.
Hoje em dia é difícil falarmos de patriotismo entre os jovens portugueses. Não existem estudos suficientes, ou números que nos indiquem o nível de patriotismo dos jovens portugueses. Porém, uma coisa é certa: o amor por Portugal existe e está bem vivo entre os jovens.