Vidas Suspensas!

Após um confinamento exemplar da maioria dos portugueses, foi-nos permitido efectuar um desconfinamento progressivo. Uma medida justa e ponderada, que aplaudi. A economia estava paralisada, era necessário tornar a activá-la.

Sempre acreditei que se mantivéssemos a responsabilidade até aqui demonstrada, em breve poderia retornar à minha actividade profissional. O plano traçado corria com relativo sucesso em quase todo o país, mas existe sempre uma excepção à regra.

Essa excepção intitula-se Zona Metropolitana de Lisboa. Os casos de infecção foram crescendo em catadupa, em virtude dos excessos cometidos durante o desconfinamento naquela região. Situação essa que provocou o cancelamento do plano de reabertura das grandes superfícies no distrito de Lisboa.

Permaneço ainda privado de exercer a minha profissão. Tenho a vida em suspenso. Percorro-a numa corda-bamba mental, à qual agarro-me com ímpeto, perante o eminente colapso. Desconheço o meu presente e, acima de tudo, o meu futuro.

Sim, sou funcionário de um centro comercial de Lisboa, numa parca loja de bens não essenciais. Chefio uma equipa de quatro elementos, que tal como eu, aguardam com ansiedade o retorno.

Perante os sucessivos adiamentos da reabertura das grandes superfícies na região de Lisboa, torna-se complexo incutir-lhes confiança no futuro. Por mais fé e esperança que tenha de que este contratempo nos vai tornar mais fortes e unidos, é difícil argumentar.

Sim, começo a ficar preocupado. Receoso com o futuro, apreensivo com os postos de trabalho em causa. Ansioso pelo regresso à normalidade possível. Inquieto com a descrença que se vai acumulando.

Esforço-me por ser positivo, transmitindo-lhes a pouca convicção que ainda possuo de que a luz ao fundo do túnel, apesar de ténue, está iminente. Contudo, no meu íntimo reconheço que a estrada por onde caminho afunila a cada passo.

Sei o que lhes vai na alma, apesar de tentarem demonstrarem que tudo está bem. O receio de perder o emprego ou de que a loja não suporte esta situação muito mais tempo está implícito nas suas emoções, tal como nas minhas.

Estou preocupado, sim, não só com o meu futuro, mas também com o delas e de milhares de pessoas que abruptamente têm a vida em suspenso. Somos prisioneiros à espera de uma ordem que tarda em surgir.

Eu sei, que o que sinto, muitos sentem. Caminhamos numa corda-bamba prestes a rebentar. E quando acontecer, cairemos num lugar profundo de onde será dificílimo sairmos.

Temos de ter a consciência que a nossa forma de vivência mudou. A pandemia está longe de estar colmatada, isto, se alguma vez for. Temos de nos adaptar à nova realidade, convivendo com ela e sermos nós a encaixar nestes novos tempos.

Ainda acredito na sociedade e que vamos aprender algo com esta pandemia. Porém, é necessário demonstrá-lo com atitudes e não só com palavras. Temos de apelar ao nosso dever cívico e à nossa responsabilidade. Temos de ser cautelosos e deixarmos os receios de lado, e isso só acontecerá se todos cumprirmos as regras impostas.

Todos nós temos o direito de ter a nossa vida de volta, e está no equilíbrio cívico e de cada um pudermos viver a vida em segurança.

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