Nasce no dia 9 de Outubro de 1261 e é educado por seu avó, o rei D. Afonso X, o sábio, rei de Castela. Esta educação é cuidada e pretende colmatar as falhas de que os nobres eram alvo, sobretudo o analfabetismo. A primeira imagem que conhecemos é de um infante que é enviado para Castela para uma boa “ensinança” e instrução. Aos 18 anos ainda está solteiro e após a morte de seu pai, o Conde de Bolonha, é levantado rei de Portugal e do Algarve, tendo já casa apartada, ou seja, era independente, algo de impensável anteriormente, sem ser ainda casado.
É caracterizado como tendo 3 virtudes grandes, a verdade, ajustiça e a nobreza. Quanto à verdade nunca ninguém lhe apontou que tivesse dito mentira ou que quebrasse alguma vez a verdade. No que se refere à justiça, é recordado como cuidadoso na aplicação dos castigos e das punições, reparando algumas injustiças cometidas nos reinados anteriores. Teve um efeito dissuasor muito pedagógica com ladrões e malfeitores. Concedia mercês aos roubados e grandes castigos aos punidos, o que levou a que o reino se enchesse de forcas. A nobreza estava visível na sua imagem de rei sábio, misericordioso, caridoso e amigo dos lavradores, um homem de bom saber, ou seja, misturando em quantidades iguais a misericórdia e piedade. Iniciou aquilo que se poderá chamar de solidariedade social, ao auxiliar os pobres e minguados com esmolas e ajudas e foi um acérrimo defensor dos lavradores, apelidando-os de “nervos da terra e do reino”.
Foi um bom administrador na fazendo e na sua casa, sendo um exemplo para todos uma vez que entesourou o reino. Foi autor de leis para bom regimento da terra e cuidar delas. Soube receber todos aqueles que o visitavam na corte, como um verdadeiro anfitrião, socorrendo todos aqueles que, de alguma forma, necessitassem do seu amparo. Como não tinha terras para conquistar, tarefa concluída pelo seu pai, declarou guerra aos infiéis, nunca lhes dando nem tréguas e muito menos tratados de paz.
O casamento com Isabel de Aragão aconteceu em 1282, quando tinha 21 anos. A infanta era muito formosa e bondosa e foi celebrado em Estremoz, com pompa e circunstância. Quanto à rainha, é sabido que era uma mulher muito devota, dedicada à leitura e aos trabalhos de mãos, muito piedosa, de coração limpo, paciente, mansa de palavras, liberal e amiga de ajudar. Os descendentes deste rei foram todos pessoas de alto gabarito, ou não tivesse Isabel “metido prego e estopa”, como se costuma dizer. Teve mais filhos bastardos que legítimos, mas todos eles constando da sua casa e do seu conhecimento. D. Pedro vai escrever O Livro de Linhagens, onde são explicadas as casas reais e os seus descendentes. É um rei que não resiste à carne nem ao imediato, não respeitando a rainha, sendo “desculpado” pelos maus conselhos dados, o que não era desculpável devido ao facto de a rainha ser muito bonita de formas e de feições.
A maior contenda do sue reinado foi o desacordo com o seu filho, futuro D. Afonso IV, que se prolongou “ad eternum“. O maior problema era mundanal, os ciúmes que este sentia dos seus irmãos Afonso Sanches e João. Defendia-se afirmando que não o serviam adequadamente. Depois desejava para si as rendas e as riquezas do seu pai, não querendo repartir com os irmãos e, finalmente, queria para si o pelouro da justiça e governação, ultrapassando, arbitrariamente, o seu progenitor. D. Dinis acata toda esta contenda com grande mágoa e sofrimento, mostrando ser um pai piedoso. Cumpre informar que o papel da rainha foi decisivo nestes desacatos, uma vez que Afonso Sanches, bastardo, era atacado, aleatoriamente e não foi morto por seu irmão devido à acção conciliadora da rainha Isabel, que se colocou entre os dois.
A sua acção social e política foi duma importância extraordinária. Força os seus vassalos a serem educados de modo a que os poderes enobrecessem adequadamente, obriga à utilização da língua portuguesa nos documentos oficiais e, sem o saber, teve uma enorme visão de futuro ao mandar plantar o Pinhal de Leiria. A ideia era travar as areias que avançavam desgovernadas, mas aqueles pinheiros foram a matéria prima para a construção naval das descobertas. Escreve cantigas de amigo e cantigas de amor, um rei trovador que participa na moda da época, ao divulgar a cultura autóctone e a importada. Em 12 de Setembro de 1297 celebra o Tratado da Alcanizes, que reconhece a soberania portuguesa mos castelos de Riba Coa, Olivença, S. Félix de Galegos. Ouguela, Campo Maior, Moura e Serpa, entregando Arouce e Aracena. É a fronteira que se delimita e que se manteve, com pequenos detalhes, atá aos dias de hoje. Cria a marinha de guerra, em 1307 e é nomeado o 1º almirante Nuno Fernandes Cogominho sendo substituído, em 1317, por Manuel Pessanha.
Funda o Estudo Geral, em 1289, os primórdios da universidade, uma vez que queria dotar o reino de homens letrados e sabedores. Em termos militares reformula a Ordem dos Templários na nova Ordem de Cristo, isentando o reino de tomadas de posição face a Castela. Governou durante 46 anos e morreu a 7 de Janeiro de 1325 de uma enfermidade provocada por um acidente. Em testamento deixou expresso que seria sepultado no Mosteiro de Odivelas, que havia fundado para ase encontrar com a Madre Paula. Apaga-se, assim, um rei que vivei 64 anos e ficou na memória como o Rei Lavrador. Ao resumo da sua vida pode ser ainda acrescentado que foi autor de muitas leis e ordenanças, como a Concordata com a Santa Igreja, deu bons forais a muitos lugares, o que lhes proporcionou direitos e autonomia, criador e restaurador de vilas e castelos, ao todo 44 e também de fortalezas.
Foi o responsável pela feitura de Rua Nova de Lisboa, onde se instalaram os banqueiros e os comerciantes, sendo, na época, a rua mais importante da cidade. Além da fundação do Mosteiro de Odivelas, obra de arquitectura interessante, albergando várias freiras e a sua preferida, também criou os Besteiros de Conto, uma espécie de Polícia oficial que tinha como função a instauração da ordem pública e a manutenção dos bons costumes.
A sua esposa, Isabel de Aragão, ainda lhe sobreviveu 11 anos e continuou todas as obras que ficaram incompletas. Era uma mulher extraordinariamente alta e esguia, com cerca de 1,75m, dotada de uma inteligência única e sabedora de vários conhecimentos como arquitectura, engenharia e medicina. O seu filho herdeiro, D. Afonso IV vai receber um reino pacífico e próspero, mas terá, mais tarde, um dilema que o atormentará: Inês de Castro. Fica para depois.
Espectacular, que lição de História 🙂