Há umas semanas foi abordado num texto anterior, o futuro dos Alpha – duas gerações à frente do exposto no artigo actual; para se debruçar agora sobre o presente dos Millennials e a sua sexualidade. Uma reflexão essencial para o argumento: entender quem somos.
Para se analisar o conceito de Millennial, saber quem são e, como vêem a realidade; esta, resultado do testemunho da transição entre a era analógica e a digital; os primeiros a adoptarem as redes sociais e a usar a internet como meio de comunicar e se conectar com o mundo exterior (e, talvez, até interior), de suma importância para o tópico em questão. Estando atentos que, situações económicas e desafios sociais ocorridos pela grande recessão de 2008, os impactaram nas suas expectativas profissionais e a competitividade existente nos mercados de trabalho, foram desafios maiores para uma geração a quem tudo lhe foi ensinado, como sendo um dado adquirido e, não como resultado do seu esforço ou capacidade. É certo que haverá excepções, pelo que o aqui referido, é conteúdo reflexivo com base em pesquisa, salvaguardando-se para quem não se identifique com o mesmo.
Têm saído muitos estudos sobre a vida sexual dos nossos jovens, os chamados Millennials.
Quando se fala em “jovens millennials” talvez importe referir que se aponte para o final da geração, nascidos nos primeiros anos da década de 1990, numa média entre os 25 e 30 anos de idade, nos dias de hoje. Desta perspectiva, quando nos reportamos aos jovens millennials e a sua sexualidade, identificamos as pessoas que, para além da idade, integram esta geração, de nascidos entre 1981 e 1996.
Perceber quem são, torna-se mais simples se ouvirmos Simon Sinek, um autor Inglês-Americano, orador motivacional, referência mundial no ensino de human skills, e que questiona, entre tantas outras, várias temáticas intergeracionais e os porquês dos comportamentos, em cada uma delas.
Estes estudos indicam que os jovens fazem menos sexo do que as gerações anteriores. Porque é que isto acontece?
Há estudos sobre tudo e um par de botas. O que não se encontra, na maior parte das vezes, são estudos que contemplem o porquê, de temas relevantes para o entendimento dos comportamentos humanos, e a necessidade de se colmatarem as dificuldades ou desafios. Ou, até quem sabe, as diferenças que existem, para aceitação de todos, com estratégias e ferramentas que permitam a qualquer pessoa, qualquer que seja o seu contexto intergeracional, potenciar-se para o autoconhecimento e, consequentemente, compreender os seus pares.
O apego e a separação ancoram o ciclo da vida humana, descrevendo a biologia da reprodução humana e a psicologia do desenvolvimento humano. Os conceitos de apego e separação que retratam a natureza e a sequência do desenvolvimento infantil aparecem na adolescência como identidade e intimidade e depois na idade adulta como amor e trabalho.
Carol Gilligan, In a Different Voice
Porém, de facto, e ao explorar esta temática, os inúmeros estudos em torno da geração Millennial é surpreendente, reflexo duma necessidade em compreender, não só, a demografia quanto a evolução da sociedade, na sua mais vasta e complexa acção.
Sabendo que a cada geração, os valores se alteram, outros estudos indicam que este grupo geracional não é homogéneo, influenciando a visão que têm de si mesmos, das relações, do ambiente que os rodeia e, até do modo, como lidam com as vicissitudes do quotidiano. Na verdade, os millennials que começam a trabalhar iniciam um novo episódio nas suas vidas que pode impactar os seus traços de personalidade e a forma como valorizam a vida e, inclusive, a sua sexualidade.
Não estando relacionada apenas ao acto sexual, a sexualidade humana representa o conjunto de comportamentos que diz respeito à satisfação da necessidade e do desejo sexual. Um tema profundamente mal interpretado, envolto em dúvidas, preconceitos, estereótipos e tabus, porém, que é proporcional à vida, às sensações, sentimentos e emoções associados ao prazer.
Porquê de estarem a fazer menos sexo?
É aqui que entra o estudo, Declines in Sexual Frequency among American Adults, que apresenta dados face a uma amostra entre adultos americanos, que sendo genérico é representativo dos restantes países face aos comportamentos sexuais dos nascidos nessa década. Alguns, onde a amostragem engloba factores como o género. Outros, onde a raça é o foco principal. Ainda assim, todas incluem pessoas nascidas na década denominada de Millennial.
“Examinar a idade, o período de tempo e as mudanças de corte/geracionais na experiência sexual é fundamental para compreender melhor as influências socioculturais na sexualidade e nos relacionamentos. Os americanos nascidos nas décadas de 1980 e 1990 (comummente conhecidos como Millennials e iGen) eram mais propensos a relatar não ter parceiros sexuais quando adultos em comparação com os membros da Geração X (…).
Entre aqueles com idades compreendidas entre os 20 e os 24 anos, mais do dobro dos Millennials nascidos na década de 1990 (15%) não tiveram parceiros sexuais desde os 18 anos, em comparação com os membros da Geração X nascidos na década de 1960 (6%). Taxas mais altas de inactividade sexual entre Millennials e iGen também apareceram em análises que usaram uma técnica de modelagem linear hierárquica generalizada conhecida como análise de idade-período-corte para controlar os efeitos de idade e período de tempo entre adultos de todas as idades.
Ao contrário das concepções dos meios de comunicação populares de uma “geração de encontros” mais propensa a envolver-se em sexo casual frequente, uma percentagem mais elevada de americanos em cortes recentes, especialmente os Millennials e os iGen’ers nascidos na década de 1990, não tiveram parceiros sexuais depois dos 18 anos.”
Compreender as razões. Há estudos que indicam a parentalidade, o meio envolvente, o início da era digital e as redes sociais, a dificuldade de se relacionar e comunicar “frente-a-frente”, a incapacidade de aplicar o livre-arbítrio, ou lidar com as frustrações. É fácil encontrar “culpados” para estas razões. Se procurarem por aí, certamente encontrarão os bodes expiatórios e, talvez até, quem sabe, alguém se identifique “infractor”.
A título pessoal, sem juízo de qualquer espécie, identifico como pernicioso, o imediatismo – “querer já”, e o facilitismo – “dado adquirido”, que muitos experienciaram; e, colidem com a realidade na vida adulta; transformaram, naquilo que são hoje as suas dificuldades, obstáculos ou diferenças. E, aos olhos de tantos outros que não o viveram levantam questões sobre a forma como esses indivíduos interagem em sociedade.
Saber as causas pode ajudar a compreender as razões. Porém, quaisquer que sejam os motivos, o porquê de estes jovens estarem a ter menos contacto íntimo ou sexual, só aos mesmos diz respeito. E, a todos os outros, que estes estudos continuem a ser sinónimo de reflexão para que se encontrem soluções, quando os desvios se verificam absurdos, que põem em causa o bem-estar geral, e, dessa forma, passam a dizer respeito à sociedade global.
NOTA: Artigo escrito com a antiga grafia